Capítulo 2 •O Abismo•

97 8 1
                                    

A água gelada do oceano envolveu Bella num abraço cortante, silencioso. Quando seus pés deixaram o penhasco e o vazio a tragou, ela fechou os olhos, esperando desesperadamente pela visão de Edward. A promessa de vê-lo, mesmo que fosse apenas uma ilusão. Mas, sob as águas escuras e turbulentas, não havia nada. Nenhum vislumbre dele. Apenas o silêncio ensurdecedor e o frio penetrante.

O desespero a invadiu como uma lâmina. Ele não estava lá. A ideia de que sua última esperança havia sido em vão gerou uma explosão de raiva dentro dela. O peso do arrependimento afundou seu peito, e ela lutou, chutando com força para emergir, tentando voltar à superfície.

Sua mente clamava por ar, por vida. O desejo de sobreviver, que parecia distante momentos atrás, voltou como um raio. Bella, em um surto de adrenalina, sentiu o pânico transformar-se em uma feroz vontade de viver. As águas se agitavam ao seu redor, mas ela lutava com tudo que tinha, subindo com esforço.

Então, quando seus pulmões estavam prestes a ceder, ela rompeu a superfície, engasgando com o ar salgado. Mas, antes que pudesse se estabilizar, uma onda gigantesca se ergueu acima dela, como uma muralha líquida, e a atingiu com brutalidade. Bella foi lançada de volta ao caos, puxada mais uma vez pelas profundezas.

Seu corpo já não tinha forças para lutar, quando sentiu algo a agarrar. De repente, ela foi puxada para cima, não pela força de seus braços cansados, mas por mãos firmes e gentis. A escuridão da noite mal permitia que visse seu salvador, mas ela captou um vislumbre: uma mulher incrivelmente bela, com cabelos negros flutuando na água ao redor de seu rosto.

Antes que Bella pudesse processar, suas mãos roçaram algo macio, como veludo molhado. Asas. Asas largas e negras como a noite, cujas penas refletiam um brilho sutil sob a lua que espreitava entre as nuvens. A textura era tão surreal que, por um momento, Bella pensou estar sonhando. As forças a abandonavam, e tudo o que ela conseguiu foi manter aquele toque fugaz, enquanto a criatura a puxava para longe da morte.

A última coisa que Bella sentiu foi o calor acolhedor da pele daquela figura misteriosa, antes que a exaustão a consumisse, e sua visão se desvanecesse na escuridão

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A última coisa que Bella sentiu foi o calor acolhedor da pele daquela figura misteriosa, antes que a exaustão a consumisse, e sua visão se desvanecesse na escuridão.

Bella despertou lentamente, seus sentidos retornando aos poucos, como se estivesse subindo de um sonho profundo e distante. O ar era frio, mas a brisa suave carregava consigo o som das ondas quebrando nas rochas. Ela não sabia quanto tempo havia passado desde o momento em que se entregara à escuridão, mas sua mente ainda estava presa ao toque suave das asas e à figura da mulher que a salvara.

Com esforço, Bella se levantou parcialmente, apoiando-se sobre os cotovelos. O chão sob ela era duro, pedregoso, e o cheiro salgado do mar enchia seus pulmões. Ainda estava escuro, mas a lua iluminava o ambiente o suficiente para que pudesse ver que estava na margem, não muito longe da estrada.

Seu corpo doía, mas nada parecia gravemente ferido. Passou os dedos pela pele úmida do rosto, tentando clarear seus pensamentos. O que havia acontecido? Quem... ou o que... a tinha resgatado? O toque daquelas asas ainda era vívido em sua mente, tão real quanto a dor que sentira ao ser arrastada pela onda.

E então a viu. A figura que havia tirado seu corpo inerte da água estava diante dela, uma mulher de uma beleza perturbadora. A lua cheia iluminava seu rosto, revelando feições perfeitas, com lábios bem delineados e uma pele pálida, quase translúcida. Mas o que mais chamou a atenção de Bella foram seus olhos: um azul tão claro, quase acinzentado, que pareciam brilhar no escuro.

Aquela mulher não era como qualquer outra que Bella já tivesse visto. Havia algo de incrivelmente sobrenatural nela. Seu cabelo tão escuro quanto a noite, caía em ondas suaves até abaixo da cintura, destacando-se contra o vestido preto, que se movia com o vento como uma sombra viva. Ela tinha uma presença magnética, uma aura que misturava poder e perigo em igual medida.

-Você... me salvou?- A voz de Bella saiu como um sussurro entre cortado, os lábios ainda tremendo pelo frio da água.

A mulher sorriu, um sorriso enigmático e ligeiramente cruel, que fez o coração de Bella acelerar, mas não de medo, e sim de um tipo de fascínio desconcertante.

-Salvar... é uma palavra forte, amor.

A mulher se abaixou, aproximando o rosto de Bella, seus olhos brilhando com um toque de diversão cruel.

-Por que, no último instante, você decidiu lutar pela vida que parecia tão disposta a abandonar?

Bella não soube o que responder. A pergunta a desarmou.

- Eu... eu não sei.

Bella franziu a testa, sentindo a tensão no ar. Algo nela sabia que essa mulher não era simplesmente um anjo salvador. Havia uma escuridão, algo perigoso por trás daquele olhar encantador.

-Quem é você?

A mulher riu suavemente, um som quase musical, mas carregado de um mistério profundo. -Você não me conhece, mas já deve ter ouvido falar de meu pai. Lúcifer. -Ela sorriu de novo, dessa vez com os olhos cintilando em uma chama fria. -Meu nome é Seraphine.

O sangue de Bella gelou. Seus pais estavam longe de serem religiosos mas ela já tinha ouvido histórias antigas, lido em livros. Nada a preparara para encontrar uma entidade tão próxima das trevas.

-Por que você me salvou então? O que você quer de mim?

Seraphine se aproximou ainda mais, seus olhos azuis capturando os de Bella com uma intensidade inescapável.

-O que eu quero? Bella, é simples. Eu gosto de observar escolhas. E você, meu amor, está prestes a enfrentar a mais importante de todas. Entre a morte que você buscava e a vida que ainda não entende.

Bella tentou se afastar, mas estava exausta.
-Eu... não quero morrer. Não agora.

As palavras saíram antes que pudesse controlá-las, e ela se surpreendeu ao perceber que eram verdadeiras. A sensação de raiva e desespero que a havia consumido antes do salto do penhasco parecia distante agora, substituída por uma vontade teimosa de sobreviver.

Seraphine sorriu novamente, mas dessa vez havia algo mais sombrio em sua expressão.

-Eu sabia que você diria isso. No fundo, nenhum mortal quer morrer. Mesmo quando pensa que quer.

Bella sentiu a cabeça girar. -Você vai me deixar ir?

Seraphine a observou por um longo momento como se a estivesse lendo, antes de finalmente se levantar, sua figura imponente contra o céu noturno.

-Por enquanto. Mas lembre-se, Bella... há sempre um preço a pagar pelas escolhas que fazemos.

Bella sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ver Seraphine afastar-se. Quando a filha do Diabo se virou para desaparecer nas sombras, algo brilhou em suas costas , asas negras, tão vastas quanto a própria noite, abriram-se lentamente, movendo-se com uma graça sobrenatural.

Seraphine lançou um último olhar para Bella, seus olhos acinzentados agora mais sombrios, quase como um aviso. -Nos veremos em breve.

•••••••

•••••••

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Estrela da Manhã        (Romance Sáfico) Onde histórias criam vida. Descubra agora