Capitulo 1

8 0 0
                                    

Estou perdida em meio a uma cidade vitoriana envolta em um nevoeiro denso, onde o caos parece ter tomado conta das ruas de paralelepípedos. O som de tambores e gritos distantes ecoam, e meu coração dispara com a sensação de que algo terrível está acontecendo. A doença que assola este lugar se espalha como um incêndio, e a opressão no ar é quase palpável.

Caminho apressadamente, tentando encontrar alguém, alguém que possa me dar um fio de esperança em meio a tanta desolação. Cada rosto que vejo está marcado pela ansiedade, mas todos são indistintos, como sombras tristes que se desfazem na escuridão. E então, entre a confusão, uma figura se destaca: uma criança.

Sinto um impulso forte de me aproximar, de ver seu rosto. Estico a mão, chamando-a com uma voz que parece presa na garganta. Mas, quando chego mais perto, tudo que consigo ver são seus cabelos ruivos bagunçados, dançando ao vento. A frustração me consome. Quero ver seus olhos, seu sorriso, mas tudo que me resta é aquela imagem fragmentada.

"Espere!" grito, mas minha voz se perde no tumulto, engolida pelos lamentos ao meu redor.

-um dia você me encontrará Amelie! - a menina diz com a voz calma e suave que corre junto com o vento mas que fica na minha cabeça.

A cidade continua a girar, cada vez mais caótica, e eu me sinto presa em uma busca sem fim. O cabelo ruivo se torna um símbolo da inocência que se esvai, e a tensão em meu peito só aumenta. Estou sozinha em meio ao desespero, ansiosa por conexão, enquanto o mundo desmorona ao meu redor.

Acordo com um salto, o coração ainda acelerado, como se o pesadelo tivesse se arrastado para a realidade. As sombras da cidade vitoriana ainda dançam na minha mente, e o som dos gritos parece ecoar nas paredes do meu quarto. Levo um momento para me recompor, e então, instintivamente, minhas mãos procuram o colar que sempre uso.

Sinto o frio do pingente de flor contra minha pele, e um suspiro de alívio escapa dos meus lábios. Ele é tudo que me resta dos meus antepassados, um símbolo de força e amor que me conecta a uma história que parece tão distante. A flor, delicada e resistente, é um lembrete de que, mesmo em tempos de escuridão, há beleza e esperança. Aperto o colar com força, como se pudesse absorver a coragem que ele representa.

Enquanto me deixo envolver por essa sensação, ouço a porta se abrir suavemente. Minha mãe entra no quarto, com um sorriso materno que ilumina o ambiente.

-Está na hora de se levantar, querida - ela diz, sua voz suave é reconfortante. Sinto um calor no peito ao olhar para ela, um lembrete de que, apesar dos pesadelos, tenho um lugar seguro onde posso estar.

Já vou, mãe - respondo, ainda segurando o colar, um pouco mais tranquila agora. O pesadelo pode ter me deixado inquieta, mas aqui, com minha mãe e meu amuleto, sinto que posso enfrentar o dia com esperança e determinação.

Levanto-me da cama, ainda com a imagem do pesadelo a assombrar minha mente, mas o conforto do meu lar logo começa a dissipar a neblina de horror. Dirijo-me ao lavatório, onde a água fresca escorre sobre meus dedos, trazendo-me uma sensação de renovação. Enquanto me lavo, respiro fundo, permitindo que a serenidade da manhã me envolva. Após completar minha higiene matinal, visto um vestido simples, mas que me parece acolhedor, e com um último olhar no espelho, sigo em direção à cozinha.

Ao entrar na cozinha, sou recebida pelo calor do fogo crepitante na lareira e pelo aroma do pão fresco assando. Meus pais e avós estão sentados à mesa, já imersos em conversas suaves, e sinto um sorriso se formar em meu rosto ao vê-los.

-Bom dia, minha querida! - exclamou minha mãe, seus olhos brilhando de alegria ao me avistar.

-Bom dia, mãe, -  respondo, passando a mão pelos cabelos enquanto me aproximo da mesa. - Espero que não tenha esperado muito por mim.

AMORES A PARTE Onde histórias criam vida. Descubra agora