DESASTRE [SERÁ RETIRADO DIA 20/02]

Capítulo quatro

Lindsay

      George desce do seu Peugeot preto com óculos de sol e todo vestido de preto. Sua camisa está dobrada até aos cotovelos mostrando as suas tatuagens e seu Rolex prateado. A cada passo que ele dá aumenta a minha culpa e não sei se digo a verdade ou minto. O problema é que a verdade é que dormi na mesma cama com outro homem. De certeza que em voz alta soa muito pior.
        Sorrio para ele que me envolve num abraço e beija os meus lábios rapidamente. Eu não traí ele, então por que me sinto como se tivesse feito isso?
        — Meu amor! — passa a mão pelo meu rosto.
        — O que faz aqui? Pensei que estivesse fora da cidade? — pergunto, olhando para cima para ele.
       — Eu estava, mas cheguei hoje de manhã. Não aguentava mais as saudades. — Ele me abraça mais uma vez.
       O carro de Mark entra na estrada e vai para longe, mas não passou despercebido, George vira para olhar na sua direção. Ainda bem que ele não pediu para conhecer o meu namorado, mas será que George viu alguma coisa?
       — Vamos entrar. — Seguro a sua mão. — Você deve estar cansado.
       — Estou sim.
       Entramos e seguimos para o elevador. George observa as minhas roupas e a minha sacola e parece desconfiado. Se eu contar a verdade ele vai acreditar? A história é louca demais e só as minhas amigas acreditariam em mim. Melhor mentir, só por agora.
        — Onde você estava? — ele pergunta, com a testa franzida.
        — Eu fui para o evento do hotel ontem, lembra? Estava com os meus amigos e depois fomos para a casa da Veronica. Eu dormi lá e hoje um amigo veio me deixar. — Minto. Eu não devia fazer isso ao meu namorado, mas é para o bem da minha relação.
        — Você se divertiu?
        — Bastante, mas claro que seria melhor se você estivesse lá. — Digo.
        — Na próxima vez eu vou.
        — Claro.
        — Você está estranha. O que houve?
        — Deve ser o cansaço.
        Saímos do elevador e abro a porta do apartamento. Entramos e George se põe confortável no sofá, olhando para mim enquanto abro as janelas e depois vou para o quarto deixar a minha sacola.
        Eu não devia me sentir assim, não aconteceu nada. Eu vi Mark quase sem roupas, ele beijou o meu ombro, disse ao meu pai que é o meu namorado, mas não aconteceu nada. Aquela noite vai ser esquecida num instante.
        Volto para a sala de estar e sento ao lado de George, afastando as minhas preocupações. — Então, como correu a viagem?
        — Cansativa, mas não importa. Conta como foram as coisas ontem?
        — Eu dancei e conversei bastante com os meus amigos, nada de interessante.
        — Tem uma foto? — pergunta. — Quero ver como o vestido ficou em você.
        — Eu posso vestir agora...
        — Mas você acabou de chegar e está cansada. Deixa ver as fotos da festa.
        — Eu não tenho comigo. Depois eu peço para Elena mandar. — Fujo de seus braços, um pouco desconfortável. Ele não merece que eu minta, mas tem que ser.
        — Meu amor, por que está tão estranha? Está assim porque não fui com você ontem? Eu quis muito, mas só consegui um voo a tempo para hoje.
        — Não é isso.
        — Foi algo que eu fiz ou disse? É porque passei muito tempo fora? — pergunta.
        — Claro que não. Na verdade, tenho problemas com o meu pai, apenas isso. Eu vou resolver em breve.
        — Ele veio atrás de você?
        — Sim, mas não importa. Não quero estragar o momento. Podemos esquecer o assunto? — peço, segurando a sua mão.
        — Sim, mas se precisar de qualquer coisa, eu estou aqui. — Ele me puxa para me abraçar, mas eu me sinto pior. Uma mentira trouxe outra mentira e ele não merece isso.
        Foi a última vez que menti para ele, e só o fiz para proteger a nossa relação e não perder a confiança nele, embora saiba que mentir pode fazer isso também. É uma confusão, mas foi a melhor decisão e é uma mentira de nada. A noite de ontem não existiu para mim.