Capítulo dezassete

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Lindsay

         Acordei com o carinho de Mark e com seus olhos verdes em mim, e agora estamos na sua cozinha, tomando café e ele ainda olha para mim como se eu não fosse real. Acho que nunca ninguém olhou para mim desse jeito e estou gostando. A maneira como ele me trata é simplesmente inexplicável. Não que George não tenha sido um bom namorado, eu sempre apreciei tudo o que fazia por mim, mas com Mark é diferente.
        Dou um gole no café e desvio o olhar, sorrindo. Eu me sinto bem depois de tudo o que aconteceu ontem, tudo parece mais leve, de um jeito que não dá para explicar. Eu não tinha percebido que meu relacionamento com George não tinha futuro.
        — Está muito bom. — Mark estende a mão para tocar a minha. Depois de ontem, ele não para de fazer contato físico. — Você faz um café maravilhoso.
        — Obrigada. Você também é muito bom com as mãos.
        Ele sorri. — É verdade, mas deve ser porque elas desejaram bastante tocar em você.
        Como um morango. — Ainda bem.
        — Você está bem com tudo isso? — olha para mim com cautela, seu sorriso desaparecendo aos poucos.
        — Com o que aconteceu ontem a noite?
        Ele acaricia a minha mão. — Com a nossa noite, com os meus sentimentos, a minha declaração, tudo.
         — Se eu não estivesse, não estaria aqui. Não viria para cá no mesmo minuto que terminei com George.
         Ele respira fundo. — Você não vai se arrepender. — Ele sussurra e soa tão sexy, que me deixa um pouco desorientada.
         Seu telefone toca na mesa, assustando-me porque estava tão focada nos seus olhos verdes quentes e na sua voz grave e rouca sussurrada. Mais uma vez, não entendo como seu charme alguma vez me escapou. Por que só agora ele me faz sentir isso?
         Vejo o nome "Henri" na tela e levanto para levar os nossos pratos na pia. — Você pode atender, eu não me importo. Afinal, você tinha planos para hoje.
         — Mas agora os meus planos envolvem você. — Ele rasteja a cadeira e vem atrás de mim. — Não quero fazer outra coisa que não seja apreciar você.
         Viro e olho para ele, recebendo a sua boca no mesmo segundo. Meus olhos se fecham, sentindo o seu gosto mais café e frutas vermelhas. Seu corpo fica preso ao meu, e minhas mãos sobem lentamente pelos seus braços fortes e musculosos, até tocar seu rosto, sua barba rala.
        Seus lábios me devoram, lenta e carinhosamente, mordendo, chupando, e parece que seu beijo fica melhor cada vez que nossas bocas se encontram. É errado eu não me sentir mal por estar aqui depois de terminar com George? Sou uma pessoa ruim por isso?
        O telefone toca mais uma vez e eu me afasto, mesmo estando nas nuvens. — É melhor você atender.
        Mark suspira. — Não demoro. — Ele vai buscar o telefone na mesa e vai para a sala de estar atender.
        Eu lavo e limpo tudo enquanto ele conversa com seu amigo, mas não percebo o meu sorriso, até olhar para Mark. Ele está de costas, olhando para a janela, dando uma vista de suas costas definidas e o traseiro lindo numa calça de moletom cinza. Ele vira quando deixo um copo cair no chão.
       — Eu estou bem. — Digo, um pouco desorientada. Eu não sei o que se passa comigo.
        Eu sei que não estou apaixonada por Mark, eu gosto de passar tempo com ele, de seus beijos, acho ele muito atraente, gosto dele, mas não acho que já desenvolvi sentimentos mais fortes. Mas também não posso dizer que é apenas atração sexual porque seu olhar nesse momento faz as minhas pernas tremerem. O jeito que olha para mim com preocupação agora, aquece o meu coração.
       Limpo tudo com cuidado e depois vou para a sala de estar sentar no sofá, descontrair um pouco. Tento prestar atenção na TV, mas Mark fala um pouco alto demais.
        — Essa semana, Henri. Eles ainda não agendaram uma reunião? — ouço ele atrás de mim. — E você notou o interesse deles? Ou não pareciam interessados? — ouve o outro lado. — Claro, eles precisam de dinheiro. A empresa está péssima, é uma proposta irrecusável. Ouve, estou um pouco ocupado agora, podemos conversar depois?... Entendido. Até mais.
        Ouço seus passos e ele vem sentar ao meu lado. — Desculpa a demora, amor.
       — Não faz mal. Há problemas no trabalho?
       — Sim, mas vai ser resolvido em breve. — Beija o meu pescoço. — Agora eu só quero pensar em você. — Ele me puxa para os seus braços.
       Abraço o seu corpo também, sentindo que tudo está bem, que não preciso de mais nada. O seu calor me mantém aconchegada, seus braços me mantêm segura e quando ele beija a minha testa, fecho os olhos e sorrio, satisfeita.
       — Eu sempre quis isso. — Mark sussurra. — Só preciso de você para estar bem, meu amor.
       — Por que você é tão perfeito?
       — Não sou perfeito. Apenas estou apaixonado por você.
       Abro os olhos, mas não sei o que dizer. Eu me sinto bem com tudo isso, mas as suas palavras também me assustam um pouco. Não me lembro da última vez que me entreguei completamente para alguém. Não quero bloquear os meus sentimentos por ele, mas também não sei como não fazer isso.
        Mark beija a minha testa mais uma vez, como se dissesse que está tudo bem e que não se importa, porque ele é assim. Ele é paciente, compreensivo, carinhoso e muitas coisas que podem fazer uma mulher se apaixonar.
        Volto a fechar os meus olhos, mas o toque agressivo da campainha não nos deixa ter paz. Além de tocar a campainha, a pessoa bate a porta como se sua vida dependesse disso, e fico assustada.
        — Quem pode ser? — pergunto.
        — Vou verificar.
        Mark me deixa livre e levanta para ver quem é. Ele espreita pelo olho mágico, mas parece que não dá para ver quem é.
        — Deve ser um dos meninos fazendo brincadeiras. — Ele abre a porta e é empurrado para longe, depois George entra.
        Levanto no mesmo segundo e deve ser isso que chama a sua atenção, pois George olha para mim em choque. Estou vestindo as roupas do Mark e estou no seu apartamento cedo pela manhã, tenho a certeza que ele entendeu tudo o que aconteceu.
         Os seus olhos quebram o meu coração, a desilusão e tristeza nítida neles, o jeito que fica congelado olhando para mim como se não soubesse o que fazer, o que dizer ou o que pensar, tudo me faz sentir péssima. Nós terminamos, mas não queria que ele soubesse desse jeito.
         — O que você faz aqui? — Mark pergunta.
         George nem olha para ele. — C-Como? Por que você está aqui?
         Desvio o olhar para as minhas mãos porque acho que não tenho o direito de dizer nada. O que eu poderia dizer?
         — Eu perguntei...
         George não deixa Mark continuar. — Que porra você acha que eu faço aqui? O QUE VOCÊ ACHA?
         — Você sabia? — Mark quer saber.
         — Não. Eu não sabia que a minha namorada me traía enquanto eu estava em outra cidade. Eu não fazia ideia de que confiei na mulher errada, que eu me esforcei tanto para ser um bom namorado para alguém que sempre jogou os meus sentimentos no lixo sem eu saber. — Agora ele está furioso.
        — George, agora não é o momento, vai embora. — Mark segura seu braço, mas ele solta.
        — Não vai me dizer nada, Lindsay?
        — Eu não traí você. As coisas não são como você pensa. — Tento explicar.
        — São sim. Você terminou comigo e passou a noite com ele. Estava doida para se livrar de mim, não é?
        Olho para ele. — Não...
        — Poderia ter feito isso com qualquer outra pessoa, Lindsay!
        — George, saia! — Mark ainda tenta expulsá-lo.
        — Poderia ficar com qualquer outro homem. Mas escolheu logo ele?
        — SAÍ DAQUI! — Mark também está furioso.
        E agora eu percebo que se George veio até aqui é porque eles se conhecem. Ele queria conversar com Mark e não sabia que eu estava aqui. E agora ele diz essas coisas.
        O que se passa?
         — Você é um plano para se vingar de mim? Vocês dois fizeram isso para me machucar? Por algo que eu fiz quando era um adolescente mimado? Eu mudei, mas... — Ele vira para Mark. — Você não quer saber. Mas sua vingança deu certo porque eu me apaixonei de verdade e agora estou com o coração despedaçado.
        — Vingança? — estou completamente confusa. — Mark...
        — Lindsay, eu vou explicar tudo. — Mark empurra George para fora, mas ele luta para ficar.
        — Como se você não soubesse que nós somos parentes. E se não sabia, parabéns, ele usou você para se vingar de mim. — Suas palavras atingem o meu peito fortemente.
         — Cala a boca. — Mark dá um soco nele e o coloca para fora, fechando a porta.
         Sento no sofá, tentando absorver a informação. Ainda estou confusa com a história de vingança, de parentes, não sei o que pensar, mas não quero aceitar que Mark tenha elaborado algo assim. O jeito que me tocou, que me beijou, não pode ser uma simples vingança.
         Mark senta ao meu lado e olha para mim. — Eu não te usei.
        — Vocês são parentes? É isso? — pergunto num sussurro.
        — Ele é o meu primo. Eu falei dele para você.
        — Você sabia que ele era meu namorado? — afasto-me um pouco dele.
        — Eu sabia. Mas eu descobri recentemente, quando estávamos na casa do seu pai.
        — Mesmo assim não me disse nada, Mark!
        — Porque eu estou apaixonado por você e se você soubesse disso, iria se afastar de mim. Eu não queria que isso acontecesse. — Admite.
        — Eu não sei o que pensar. George sabia?
        — Ele sabia que eu era seu amigo.
        — Você... odeia ele?
        — Sim. Mas eu não usei você como vingança, Lindsay, eu juro.
        Levanto e não olho para ele. Eu me sinto enganada, dói mais saber que ele mentiu para mim do que saber que George o fez. Não sei explicar porquê.
        — Mesmo que não tenha sido por vingança, devia ter me dito. Eu merecia saber.
        — E eu iria contar.
        — Quando iria contar? Quando concluísse a sua vingança? — olho para a porta que George acabou de deixar.
        — Você não está envolvida em nenhuma vingança. George apenas disse aquilo para você desistir de mim.
        — É um jogo? Vocês disputavam entre si sobre quem iria ficar com a idiota da Lindsay, não é?
         — Claro que não. Não sei se foi um jogo para ele, mas nunca foi para mim, por favor, acredite em mim.
        — Acho melhor eu ir embora. — Caminho até os degraus, mas Mark vem atrás de mim e segura o meu braço.
        — Lindsay, por favor, acredita em mim. Desde o começo que eu quero você, muito antes de George existir na sua vida.
        — Eu preciso de um tempo para pensar. — Solto o meu braço e vou para o quarto buscar as minhas coisas.
        Fecho a porta atrás de mim e o aperto no peito traz uma vontade de chorar, mas eu seguro as minhas lágrimas. Não quero acreditar que os dois estavam em guerra e eu era o brinquedo deles, não quero pensar que Mark só fez isso por causa do ódio que sente por George. Eu sinto que o jeito que olha para mim é real, mas preciso pensar sobre isso porque tudo continua confuso na minha cabeça.
         Sento na cama e respiro fundo, vendo as imagens de ontem na minha cabeça. Uma parte de mim gritando para acreditar nele e outra duvidando. É por isso que preciso ir embora, não vou conseguir pensar aqui.

DESASTRE [SERÁ RETIRADO DIA 20/02]Onde histórias criam vida. Descubra agora