Capítulo doze

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Mark

      Levanto cedo para me encontrar com Veronica, mas ela pediu que eu fosse até a cobertura do Dorian por razões óbvias. Eu mandei a mensagem para ela acima da hora, já devia estar com o namorado em casa quando pedi o favor.
      Quando toco a campainha é Dorian quem abre a porta, sem camisa, com uma calça xadrez e pés descalços. Seus cabelos estão despenteados e o rosto de quem acabou de acordar o entrega.
        — Que merda você faz aqui a uma hora dessas? — ele permite a minha passagem. — Hoje é domingo, Mark. Não podia ir correr, ir à igreja, ler um livro ou dormir até tarde como uma pessoa normal?
       — Isso é para você que está em paz e tem uma namorada maravilhosa. Eu tenho parentes horríveis, uma empresa para recuperar e uma mulher para conquistar. Não posso me dar ao luxo de dormir até tarde. — Cruzo os braços.
       Veronica vem para a sala de estar com um sorriso enorme, vestindo um short jeans e uma camiseta branca larga que fica muito bem nela. Sorrio também e deixo que beije o meu rosto.
        — Oi, Mark. Eu fiz o que você pediu. Felizmente estava aqui, a dispensa do meu namorado é ilimitada. — Ela aponta para a cozinha. — Vou organizar o cesto de piquenique agora. Pode me ajudar?
        — Claro.
         Ela beija o rosto do Dorian e vai para a cozinha. Dorian olha para mim e se aproxima, passando as mãos nos meus ombros, ligeiramente perigoso, eu diria.
         — Se eu não soubesse que você é louco pela Lindsay, já teria ficado sem rosto.
        Rio. — Ser ciumento não te fica bem. E Veronica é como uma irmã para mim.
        — Ainda bem. Vamos preparar o seu cesto. Espera! O quê? — ele parece confuso agora. — Nós vamos fazer um piquenique?
        — Não. Eu e Lindsay vamos, mas ela ainda não sabe disso.
        — Ainda bem, estou sem vontade de sair de casa hoje.
        Caminhamos lado a lado até a cozinha, onde Veronica já começou a colocar as coisas no cesto. As outras comidas e bebidas estão por cima da ilha, onde ela organizou para facilitar o processo.
        — O jeito que você coloca as coisas dentro do cesto, simplesmente faz o meu coração parar. — Dorian senta na frente dela e apoia o rosto no punho fechado, admirando a namorada.
        — O jeito que você deixa a mão por cima da mesa, derrete o meu coração. — Veronica sorri para ele.
        — O jeito que vocês os dois esquecem que não estão sozinhos, faz o meu estômago embrulhar. — Ajudo a encher o cesto para sair o mais rápido possível.
        — Não temos culpa se você é solteiro. — Veronica diz.
        — Esperava essa resposta do Dorian e não de você, Vero. — Coloco a mão no peito para fingir dor.
        — Ela se parece cada vez mais comigo, não é? — Dorian suspira. — Ainda bem.
        — Infelizmente. — Digo. — Mas não deixa de ser a minha preferida. Não diga isso para Elena nem para Alaia.
        — Eu sei disso, também só a preferida do Chris. — Sorri. — E não vou dizer a ninguém.
        — Já eu não posso prometer nada. — Dorian mostra um sorriso de vilão.
        — Vai se foder!
        Veronica empurra o cesto para mim. — Aí está, um cesto de piquenique.
        — Muito obrigado, Vero. Você é maravilhosa. — Dou vários beijos no rosto dela.
        — Ei! Ela tem namorado. — Dorian põe-se em pé.
        — Não exagera, Dorian. Eu dou para você também. — Vou até ele e quase beijo o seu rosto, mas ele me afasta.
         — Faça isso se quiser ficar sem lábios. Agora saia daqui imediatamente. As próximas cenas que se seguem são para maiores de dezoito. Ou de trinta. — Ele olha para Veronica com fogo nos olhos.
         Pego no cesto e regresso à sala de estar. — Já vou. Mais uma vez, obrigado e tenham um dia lindo.
         — Você também, Mark. — Ouço Veronica e fecho a porta atrás de mim.

                                          ****

      Dirijo até o apartamento de Lindsay mais uma vez, sem me preocupar com George.  Estaciono e respiro fundo, pensando no que tenho que dizer para que aceite sair comigo. Não combinamos nada, nem sequer verifiquei se tinha planos, espero não ser rejeitado.
       Desço do carro, perguntando porquê comigo tinha que ser mais difícil? Christopher foi obrigado a casar com a mulher que amava, Alaia não resistia ao Justin e Dorian tinha uma mulher que era louca por ele. Já eu, tenho que fazer de tudo para conseguir a atenção de uma mulher que namora o meu primo.
        Num segundo, estou na frente da porta e minha mão congela. Eu devia ter feito um convite primeiro, mas é tarde para recuar. Não posso me dar a esse luxo. Além disso, a noite de ontem foi boa demais, ela não irá negar.
        Toco a campainha e espero cinco minutos para Lindsay abrir a porta com uma calça de moletom cinza, uma regata preta e o cabelo em um rabo de cavalo. Seu rosto sem maquiagem me deixa ainda mais apaixonado, o jeito que sorri para mim, o jeito que me faz sentir, a vontade que tenho de cuidar dela e protegê-la é inexplicável.
        — Mark, que surpresa!
        — Você está linda.
        Ela cora. — O que você faz aqui?
        — Vim te levar para sair. Não aceito um não como resposta.
        — Assim, de repente?
        — Isso mesmo. — Coloco as mãos nos bolsos. — Prometo que vou me comportar. Vamos? Se dizer que não, vou ter de doar toda a comida que tenho no carro.
        — Comida?
        — Isso mesmo.
        Ela sorri. — Está bem. Vou trocar de roupa e vamos. Quer entrar?
         — Claro. — Entro, e vou imediatamente ocupar o sofá enquanto ela corre para o quarto.
         Sua sala é minimalista, mas acolhedora e bonita com um sofá em L bege perto das portas francesas com cortinas brancas transparentes, que permitem ver tudo o que está lá fora, incluse o céu escuro que se forma. Ao lado tem uma poltrona branca, uma mesinha de centro por cima de um tapete, decorada com um vaso com flores que não estavam aqui antes. Na frente há um hack branco, uma TV e bem acima uma prateleira com decorações peculiares e fotos de seus pais, suas amigas, do nosso grupo e dela.
         Toco o sofá com dor ao pensar que já passei a noite aqui e também George, mas o jeito dele deve ter sido mais interessante. Gostaria de saber se ela sabe quem ele realmente é e se o aceita desse jeito ou se mostra uma máscara para ela.
       Eu devia provocar ele, mas não posso deixar que saiba de todos os meus passos. Quero que perca Lindsay num piscar de olhos, que não perceba como aconteceu.
       Suspiro e aguardo alguns minutos, preocupado que a demora da minha futura namorada possa influenciar no clima lá fora. Pelo menos hoje poderia abrir um pouco de sol, mas parece que até o universo está contra mim.
       Lindsay sai do quarto com uma calça jeans, tênis e uma blusa vermelha de mangas. Seus cabelos estão soltos agora, suas mãos seguram uma bolsa branca e fez a sua maquiagem de sempre, realçando os olhos com delineado afiado.
       — Eu estou pronta.
       Levanto, ainda com mais vontade de beijá-la. — Você... você está linda.
       — Obrigada.
       Caminho até ela para segurar a sua mão e saímos do seu apartamento como se fôssemos mais do que amigos. Assim que entramos no carro e tudo o que sinto é o cheiro do seu perfume por longos minutos, percebo que não sou tão azarado quanto pensava.
        Ligo uma música também, uma dos anos dois mil, porque eu sei que gosta. Eu sei tudo sobre ela, o que gosta, o que não gosta, onde nasceu, onde cresceu, nome dos seus pais, onde estudou, tudo. Ela ainda não sabe, mas eu faria qualquer coisa por ela.
        — Eu acho que vai chover. — Ela diz.
        — Não sabemos, pode não chover.
        — O céu está assustador.
        — Isso não pode nos impedir de fazer um piquenique. — Estaciono o carro no Álamo square que estranhamente está quase deserto, talvez por causa da chuva. Dou a volta para abrir a porta de Lindsay.
        — Obrigada.
        Vou buscar o cesto depois e escolhemos o melhor lugar para fazer o piquenique. Estendemos um pano no chão e sentamos nele junto com o cesto. Lindsay começa a verificar o que tem no cesto, ignorante do meu olhar devorador.
        — Sanduíche, frutas...
        — Está com fome?
        Ela prepara tudo para comer. — Faminta. Você não?
        — Estou sim.
        Lindsay me entrega um sanduíche e rio porque acabamos de chegar e ela já começou a atacar a comida toda sem piedade. No entanto, não deixa de ser adorável, não consigo encontrar um defeito. Ela é muito fofa.
        — Está muito bom. Eu conheço esse sanduíche, foi a Veronica que fez.
        — Eu nunca disse que eu tinha feito.
        Lindsay sorri. — Obrigada por me convidar para um piquenique.
        — Não precisa agradecer. Imaginei que talvez precisasse de sair um pouco de casa nessa linda manhã de domingo.
         Os trovões começam, retirando o que acabei de dizer sobre "linda manhã". Como também, percebendo que Veronica fez muita comida, mas mesmo assim acho que conseguitemos comer a maior parte.
        Lindsay ri. — O universo acabou de te responder.
         — Sim. Então, como estão as coisas com o seu namorado?
         Ela olha para mim. — Por que gosta tanto de perguntar sobre ele?
         — Porque eu me preocupo com você.
        — Não precisa fazer isso. — Respira fundo. — Mas eu e George estamos bem. Ele está fora da cidade, mas vai voltar em breve.
        — Parece que sim.
        — Você se machuca com toda essa situação, mas é sempre você quem procura, Mark.
        — Só faço isso porque estou apaixonado por você, Lindsay. Porque eu quero sempre estar ao seu lado, mesmo que seja como amigo. — Digo.
         — Não diga que está apaixonado por mim, por favor.
        — Mas é a verdade.
        Ela não responde e come o sanduíche desconfortável. Eu não devia dizer essas coisas, talvez ainda seja cedo demais, mas algumas vezes não consigo evitar.
        — Desculpa.
        — Não precisa pedir desculpa.
        Comemos em silêncio por alguns minutos, tudo o que ouvimos são os sons dos trovões. Eu tenho que aprender a me controlar, estraguei tudo em tão pouco tempo. Irei criar uma regra para mim mesmo, não falar sobre George.
         Como um morango. — Você tem família no Japão?
         — Sim. Apenas os meus pais e uma tia vivem aqui. Você conheceu a minha prima, a Primrose, na festa do sobrinho da Veronica.
         — Lembro dela. É uma menina adorável. — Como outro morango. — Posso fazer uma pergunta?
         — Se não for sobre o meu namorado, pode sim.
        — Você ficaria feliz se eu tivesse uma namorada?
        Ela desvia o olhar. — Acho que sim. — Olha para o cesto. — É assim que deve ser, não é? Ficar feliz pelos meus amigos.
        Uma gota de chuva acerta o meu rosto. Depois outra e outra. Eu tive uma ideia boa, mas escolhi o dia errado para fazer isso. Lindsay me ajuda a arrumar tudo para dentro do cesto novamente porque parece que vem um dilúvio.
         — Eu sabia que iria chover. — Ela termina de dobrar o pano.
         A chuva começa, e eu agarro o cesto e o braço de Lindsay para sairmos correndo até o meu carro. Achei que poderíamos chegar sem molhar, mas a chuva é forte demais e ficamos encharcados quando entramos. Felizmente, o cesto é coberto, mas sei que a comida molhou um pouquinho também.
       Lindsay começa a rir. — Dia lindo, você dizia.
       Rio também. — Temos que admitir que correr na chuva foi libertador.
       — Foi sim.
       Ligo o carro. — Vamos para o meu apartamento, é mais perto. Não dá para dirigir para muito longe com essa chuva.
       — Está bem. — Ela cruza os braços, com frio. — É a primeira vez que vou para lá.
       Dirijo, e começo a acreditar que talvez até tenha um pouquinho de sorte.
        

DESASTRE [SERÁ RETIRADO DIA 20/02]Onde histórias criam vida. Descubra agora