O fato daquela mansão ter apenas três pessoas deixava Lou um tanto desesperada. Quer dizer, três se for contar que um deles já foi humano. Na maior parte do tempo estava sozinha e quando tinha Kirk, era apenas para servi-la. Cliff raramente aparecia quando tinha a presença de Hammett em algum cômodo ou perto de um.
Parecia que Clifford queria distância de Kirk, que sequer se aborrecia por isso. Mas mesmo distante, o mordomo fazia de tudo para arrancar um pouco do assunto para si, até mesmo apelando pro seu corvo fêmea, Buwan, para que se tornasse uma penetra.
Mas no lugar que Lou e Cliff estavam, era impossível alguém ouvir algo.
— Eu gosto dessa estufa pra meditar. – explicou o ruivo, acendendo o cigarro que fedia a morte. – Não sou a porra de um monge mas é o mais próximo que consegui chegar de estar chapado quando tava vivo.
Lou ergueu a sobrancelha enquanto roubava algumas petunias e rosas vermelhas para colocar no vaso de seu quarto.
— Você parece ter e usar bastante coisa no seu bolso, mas não consegue usar nada do mundo dos vivos. É curioso. – ela disse consigo mesma, um tanto pensativa.
Cliff deu uma tragada funda no cigarro, observando Eloise de canto de olho.
— Eu morri com essa roupa. E tudo isso estava no meu bolso quando sofri o acidente.
— Acidente? Acidente de que?– Lou disse em súbito, mas calou sua boca. – Me desculpa, Cliff, eu não quis...
— Não, de boa. – deu de ombros. – Foi durante a turnê com a minha banda no outono de 85, o Trauma.
Com isso, Lou observava Cliff com o olhar inquisidor, esperando por mais detalhes. Ela segurava as pétalas com a ponta dos dedos, querendo absorver cada palavra do rapaz. O baixista hesitou, mas o brilho distante de seus olhos sugeria que a memória ainda estava ali, bem viva, ou melhor dizendo...
Bem morta.
— Lembro de estar exausto pra caralho. – continuou ele, suspirando alto. – Estávamos a um passo de terminar a turnê, mas ela tava terminando comigo e com os caras. Era uma daquelas noites frias, cheias de estradas sinuosas e lotadas de gelo. O ônibus era uma lata velha, mas não ligamos pra isso. Aliás, éramos apenas um bando de caras correndo atrás de um pouco de reconhecimento.
Eloise permaneceu em silêncio, apenas escutando.
— Mas, sabe como que é, a gente ignora essas coisas quando tá feliz. Tanto que jogamos carta naquele dia pra ver quem ia ficar com a beliche de cima. E eu ganhei. – Clifford deu uma risada amarga, tragando o cigarro mais uma vez. – Depois de umas horas de bebida, lembro que me joguei naquela cama e peguei no sono. Até que...
Ele deu uma pausa para se recompor.
— Cliff... – a voz dela ficou trêmula. – Você não precisa ressuscitar esse trauma.
— Eu tô bem. É direito seu saber a verdade. – tranquilizou. – Até que... tudo explodiu. O ônibus balançou como se tivesse sido atingido por um raio, e então senti o peso, o mundo todo girando. De primeira, pensei que era a pior de minhas ressacas. Mas não... fui lançado pro lado, e me recordo de uma dor estranha no meu ombro. E depois... – ele tentou achar as palavras. – Um som do metal rasgando o asfalto e o cheiro da borracha queimada. Foi rápido, mas ao mesmo tempo eterno, sabe? Como se o universo quisesse me mostrar tudo de uma vez...
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The Ripper Hammett - Kirk Hammett
Fanfiction🖤𝔇𝔞𝔯𝔨 ℜ𝔬𝔪𝔞𝔫𝔠𝔢 +18 - 𝔎𝔦𝔯𝔨 ℌ𝔞𝔪𝔪𝔢𝔱𝔱☠️ O ano era 1987 e após uma ligação misteriosa, Eloise Monnieri e sua família descobrem que após a morte da matriarca da família, são donos de uma grande mansão em Nova Orleans. Ao se mudarem par...