Encaro o nascer do sol pela pequena janela da minha sala, o céu tingido de tons alaranjados e rosados. Cada amanhecer me traz um misto de esperança e inquietação, porque, a cada dia, meu caminho parece mais distante do que eu sempre sonhei. Esse pequeno apartamento, que um dia representou o começo da minha independência, agora é só uma lembrança amarga do que a vida poderia ter sido.
A campainha toca de repente, e o som estridente ecoa pelo apartamento, me fazendo parar no meio da sala, com os olhos fixos na porta. Ainda é cedo, e eu não estou esperando visitas. Olho para Ana, que brinca no chão com uma boneca de cabelos encaracolados, tão absorta na brincadeira que mal nota o barulho. Respiro fundo e abro a porta.
Do outro lado, está uma mulher baixa, de óculos retangulares e um olhar frio, segurando uma pasta de documentos firmemente contra o peito. O coque impecável e o terno cinza-escuro a tornam ainda mais severa. Ela me observa como se já soubesse exatamente o que vai dizer.
— Lana Martins? — pergunta a mulher, sem nenhuma dúvida sobre quem eu sou.
— Sou eu, sim. — Assinto, tentando disfarçar a tensão na minha voz.
— Sou Vera Santos, assistente social. Estou aqui para falar sobre sua situação e a da sua irmã, Ana. Podemos conversar?
A assistente social entra antes mesmo que eu a convide, e seus olhos logo pousam em Ana, que continua entretida no chão, alheia ao que está acontecendo. Fecho a porta e observo Vera, que agora avalia o pequeno e modesto apartamento. Seu olhar frio para em Ana por mais um instante antes de voltar para mim.
— Recebemos uma denúncia anônima, senhorita Martins. Fomos informados de que você tem deixado sua irmã sozinha em casa enquanto vai ao trabalho. Isso é verdade?
Meu rosto esquenta, e a culpa me invade. Sei que não é a situação ideal, mas o salário de garçonete não cobre os custos de uma babá, e eu não tenho ninguém a quem pedir ajuda. Lidar com isso sozinha é a única opção que me resta, mesmo que isso signifique deixar Ana em casa por algumas horas.
— Eu... Eu não tive escolha — respondo, a voz trêmula. — Trabalho o dia todo, e o salário mal cobre as contas e as despesas da Ana.
Vera não parece se comover. Apenas tira um papel da pasta e me entrega.
— Esta é uma intimação formal. Se acontecer mais uma vez de você deixar Ana sozinha, o conselho tutelar tomará medidas. Vamos considerar isso um aviso, mas não haverá uma segunda chance. A guarda de Ana será suspensa caso você não consiga manter um ambiente seguro para ela.
Sinto um aperto no peito. Só de pensar na possibilidade de perder Ana, o coração aperta. Ela é a última coisa que restou da nossa família, minha irmãzinha que precisa de mim. Não posso deixar que nos separem.
— Eu entendo, senhora Vera — sussurro, quase sem voz, mas suficiente para que a assistente social confirme com um aceno.
— Espero que tome as providências necessárias, senhorita Martins. Ana é uma criança e precisa de alguém que possa cuidar dela de forma segura e adequada.
As palavras dela são um soco no estômago. A situação fica clara: não basta apenas trabalhar e tentar manter Ana em casa. É preciso muito mais do que eu posso proporcionar no momento.
Assim que Vera sai, desabo no sofá. Ana me olha, com seus olhos grandes e castanhos, cheios de inocência, sem entender o que acabou de acontecer. Eu a abraço e sinto uma pontada de culpa e desespero.
Naquela noite, mal consigo dormir, pensando em uma solução. Sei que não posso garantir a segurança de Ana sem encontrar uma maneira de aumentar a renda. E meu emprego atual não permite isso. Na manhã seguinte, tomo uma decisão difícil: vou até o restaurante onde trabalho como garçonete e entrego minha demissão.
— Tem certeza disso, Lana? — Meu chefe me olha com surpresa, e talvez até um pouco de piedade, sabendo que eu preciso desse emprego.
— Tenho — respondo, tentando manter a cabeça erguida, embora saiba que estou abrindo mão do pouco que tenho.
De volta ao apartamento, o silêncio parece ainda mais pesado do que de costume. Logo após, tomo a segunda decisão mais difícil: colocar Ana em um internato. Converso com a direção do colégio, explico a situação e, para minha surpresa, eles conseguem uma vaga. Embora o custo seja alto, é a melhor solução que encontro para garantir a segurança da minha irmã enquanto me reorganizo financeiramente.
No dia em que deixo Ana no internato, sinto como se meu coração fosse se partir. As lágrimas ameaçam cair enquanto a abraço.
— Quando você volta, mana? — pergunta Ana, com sua doçura inocente de sempre.
— Logo, meu amor. E eu vou te visitar o máximo que puder, prometo.
Aquela cena fica comigo por dias. O silêncio do apartamento me atormenta, e a falta de Ana só torna tudo ainda mais insuportável. Com o tempo, começo a procurar alternativas que possam me tirar dessa situação e me dar a chance de juntar o suficiente para recuperar minha irmã. É então que ouço falar da VIPSecret, uma agência de acompanhantes. A princípio, hesito. Nunca imaginei que consideraria algo assim. Mas, com o tempo, percebo que é uma das poucas opções que tenho.
Depois de uma conversa franca com Sarah, a dona do local, entendo que posso estabelecer minhas próprias condições e horários, e que o trabalho não precisa ir além de um acompanhamento elegante e discreto para os eventos dos clientes.
Assim, começo a trabalhar ali, dedicando cada esforço e economizando o máximo que posso para garantir um futuro para Ana. Em poucos meses, consigo alguma estabilidade e planejo visitar minha irmã regularmente. Com o tempo, até começo a ter esperança de que o sacrifício, de fato, nos levará a uma vida melhor.
Daquele dia em diante, faço uma promessa silenciosa: por mais difícil que seja, não vou descansar até que Ana tenha o que merece, e que possamos, finalmente, ser uma família unida novamente.
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Noiva por Conveniência
RomanceApós a trágica perda dos pais, Lana Martins se vê obrigada a assumir a responsabilidade pela irmã de apenas 5 anos. Para garantir a custódia da menina, ela é forçada a tomar decisões difíceis, aceitando trabalhos arriscados, como o de acompanhante...