Festa Surpresa

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POV ANY GABRIELLY

Assistia os raios de sol cada vez mais se esconderem por de trás das montanhas, sentia o vento gélido vir de encontro com o meu rosto, não sabia para onde estávamos indo, e nem fiz questão de perguntar.

Por algum motivo pela primeira vez meu aniversário não tinha graça, eu estava basicamente sozinha... rodeada de estranhos recém conhecidos...não estou sendo ingrata com eles...mas não é a mesma coisa...não tenho mais nenhuma família...

Comemorar...comemorar a solidão...Queria que alguém tivesse me avisado que eu faria isso sozinha daqui por diante...

Há razões nas quais eu sou grata, há várias coisas nas quais eu também sou grata...

Mas é irônico estar rodeada de pessoas estranhas, nas quais parecem me querer mais do que as conhecidas...

Era só uma vazio que estava tomando conta de mim...Soprar as velas dessa vez vai ser estranho..."Feliz Aniversário pra mim"...Feliz? Pra quem?

"Você tem a vida toda pela frente, só tem 24 anos", é...e eu temo que os melhores anos já tenham passado por mim...

Eu sinto falta da vovó...queria ela me abraçando...é pedir muito só mais um abraço?

24 anos...

Acabou a brincadeira...E aumentou em mim, a pressa de ser tudo que eu queria ser, e ter tudo o que eu queria ter...Tenho sonhos adolescentes, mas as costas doem, sou jovem pra ser velha, e velha pra ser jovem...Com 18 anos eu pensei que já teria uma vida inteira aos 24...O tempo falta, e me faz tanta falta!

Tudo o que eu idealizei não existe e nem me parece fazer mais tanto sentido assim, a sensação que eu tenho é que estou apostando corrida contra mim mesma, que estou ficando para trás de padrões idealistas que ninguém nunca estabeleceu, mas que eu defini como o certo!

Em menos de uma semana, todos os meus planos seguiam a cartilha certinha, morava sozinha numa casa boa, tinha um emprego no qual eu gostava, estava noiva e logo começaria a pensar em maternidade...minha vida estava montadinha, tal qual um enxoval...

E agora nada disso é real...

É como se a cada segundo depois desse desastre todo, o meu cérebro me falasse que está ficando muito tarde, que meu alarme biológico está batendo, e eu tenho muita coisa ainda pra fazer, que eu preciso parar de choramingar, reagir, que eu não sou mais um nenê...

Mas...será que alguém mais vai querer saber meus próximos planos, e como eu pretendo seguir, ou ninguém mais tá interessado no que eu tenho a dizer?

Será que eu sou uma fraude?

Bom...já já vamos ver...Mas certeza que eu estou a beira de enlouquecer!

Cheguei a conclusão, que os nossos 20 anos são como um funeral de todas as versões que achávamos que iríamos ser, de todas os planos que fizemos...é aquele momento em que você realmente percebe que...não você não vai ser um astronauta, nem uma princesa, muito menos uma fada...Aliás, a partir de agora, é realidade, um jogo duro de sobrevivência e inteligência.

No qual eu não sei jogar, porque até agora eu tinha deixado que jogassem os dados...e agora, eu estou sozinha no meio do tabuleiro, sem um narrador, sem um time...apenas eu...

Encarando esse tabuleiro de frente. As regras nunca foram claras para mim, ou talvez eu estivesse ocupada demais criando minhas próprias. Agora que tudo está tão distante do que imaginei, eu me pergunto: como é que se joga esse jogo chamado vida?

Quem sou eu, afinal? Aquela menina cheia de sonhos ou essa mulher que mal consegue planejar o amanhã?

É engraçado... eu queria ser tudo ao mesmo tempo, mas agora me sinto dividida em tantas partes que não sei qual delas sou eu de verdade.

The Last Witch - BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora