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Rio saiu do estoque pronta pra começar a trabalhar vestida com simpático  uniforme da cafeteria, a camisa era verde musgo e tinha flores bortadas nas mangas, o avental era sinza e a touquinha também.
Apesar de não odiar a roupa, odiava ter que vestia-lá de novo, estar atrás desse balcão significava que ela havia falhado, que havia perdido tudo que lutou pra conquistar, ela se sentia a mesma menina de 16 anos que desacretidada do futuro e desesperada pra sair daquela cidade pequena, ir pra longe de todo mundo e finalmente poder ser livre.
Rio é uma mulher lésbica, a essa altura ela não ligava mais pra opinião dos moradores daquela cidadezinha pacata, mas na época, parecia ser o fim do mundo que as pessoas soubessem que ela gostava de mulheres e tinha uma queda pela menina mais popular da escola.
Rio acompanhava as vezes a vida dela, fuxicava o Instagram pra saber como ela estava e como a vida dela andava, logo após ela se mudar houve um tempo que Agahta ficou lowprofile, mas alguns anos atrás ela retomou a rede social e Rio sabia que ela tinha dois filhos gêmeos, uma menina chamada Eva e um menino que Rio não sabia o nome, pois ele havia se assumido trans a um tempo e ela não tinha conseguido encontrar o nome social dele em lugar nenhum.
O sino tocou na porta chamando a atenção de Rio.

-A meu deus! Rio querida! É você mesmo!?

Sharon, sua ex-professora de biologia havia passado pela porta, Rio se assustou um pouco com o escândalo da senhora, mas foi educada.

-Bom dia Sra. Hart! Quanto tempo!

A mais velha sorriu

-É Sra. Davis agora querida, eu me casei...

Rio não conseguiu disfarçar a surpresa no rosto.
"Meu deus mas essa mulher era velha quando dava aula pra mim, o marido dela deve ser pré-histórico, só se for..."

-Que notícia maravilhosa! Quando foi?

Rio não ligava, mas tentava ser educada.

-A pouco mais de dois anos...demorou mais finalmente o amor chegou.

As duas deram uma pequena risada, mas Rio logo voltou a atenção para o caixa, ela não estava muito afim de conversar, cada palavra que saia de sua boca era um lembrete doloroso de que ela havia voltado pro lugar miserável e onde ela tinha lutado pra sair.

-Oque vai querer Sra. Har...quer dizer Sra. Davis?

-Hum...deixa eu olhar o cardápio...

A cafeteria não era muito movimentada durante a semana, especialmente nas segundas e terças-feiras de manhã, então ela aproveitava pra ficar atoa pelo lugar, lia livros e passava quase todo o tempo mexendo no celular ou escrevendo em seu caderno, Rio era uma escritora, gostava muito de escrever poemas mas a sua especialidade eram os thrillers e romances policiais, ela havia ido para a cidade grande pra tentar publicar seus livros, mas nenhuma editora realmente deu bola pra ela, a faculdade de jornalismo era cara e foi ficando cada vez mais difícil e solitário viver lá.
Rio estava sentada num banco , lendo com os pés apoiados no balcão e de fones de ouvido escutando "Good Luck, Babe" da Cheappel Roan quando o sininho da porta tocou.
Ela rapidamente tirou os pés do balcão e largou os fones em qualquer quanto, assim que levantou o olhar tentou disfarçar a surpresa, na sua frente estava um dos filhos de Agatha, o menino.

-Bom dia.

Rio deu um sorriso educado vendo ele parar na frente do caixa, o menino era um pouco alto, magro, de olhos azuis e cabelos castanhos, era praticamente uma cópia da mãe.

-Bom dia.

O menino respondeu sorrindo timidamente.

-Me vê um copo de capucino grande por favor...

-Claro, já trago.

A voz do menino era suave e ele parecia ser bem tímido, era bonito e se parecia muito com a mãe.
Quando era mais jovem, Rio jurava que Agatha era lésbica também, ela não tinha nenhuma prova mas seu gaydar apitava absurdamente quando olhava pra ela, o gaydar dela nunca tinha falhado, mas aparentemente ela estava enganada em relação a Agatha.

-A Alice não vai mais trabalhar aqui?

O menino perguntou timidamente

-Só aos finais de semana agora, pra me ajudar.
-Ah...entendi...

Rio terminou de preparar o café e cobrou o preço, quando o menino estava perto de sair ela pergunta.

-Desculpa ser inconveniente mas...eu não sei o seu nome social e...eu não quero ser idiota a ponto de errar.

O menino olhou para Rio um pouco surpreso.

-Você já me conhecia?
-Sim...quer dizer não exatamente, eu sei da sua existência, mas eu só sei o seu nome antigo...

O menino deu um pequeno sorriso.

-Obrigado por perguntar...Rio, é Rio o seu nome?

Ele disse apontando pro crachá (que honestamente era meio inútil porque a maioria das pessoas que iam lá viram Rio crescer).

-Sim.

Ele sorriu.

-Que nome bonito...Muito prazer Rio, o meu nome é Nicolas!
-O prazer é todo meu Nicolas!

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Agatha se espreguiçava na cadeira fazendo suas costas estralarem, ela estava afundada com a cara no computador a dias, tinha que terminar de lançar as notas de seus alunos no sistema da escola, as férias de meio de ano estavam chegando, e ela não queria ter trabalho durante o único período de descanso que tinha.
Mia e Nicolas haviam dito a ela que talvez seria mais saudável ela ir a outro lugar trabalhar ao invés de ficar trancada no quarto o dia inteiro, e ela estava começando a se convencer disso, não aguentava mais olhar pra mesma parede branca e sem graça todos os dias, a única distração era a vista que tinha de sua janela, mas ultimamente nem os pássaros estavam visitando ultimamente, então não sobrava nada além de árvores verdes e sem nada de especial.

-Mãe você sabe onde o Niky foi?

Agatha tomou um leve susto mas respondeu com a voz firme de sempre.

-Foi comprar um capucino pra ele na cafeteria.

  A menina concordou com a cabeça mas ficou parada na porta como se tivesse tido uma idéia.

-Porque a senhora não vai trabalhar por lá amanhã?

-Na cafeteria?

-É...digo, lá é tranquilo, pelo oque o Niky fala não tem muita gente de segunda e de terça de manhã...além do mais é um lugar bem mais espaçoso pra você ficar...sabe...vegetando

Agatha riu.

-Eu não estou vegetando, eu estou passando as notas dos alunos pra coordenação...aliás...que nota de história é essa aqui?

Agatha disse apontando para o monitor onde havia escrito "3,7"
A menina sorriu e fez um coração com a mão.

-Qual é? Eu odeio esse tema em história.

-Tem algum tema que você não odeie em história por acaso?

Agatha não estava irritada, ela não obrigava os filhos a terem notas altas na matéria que ela dava, só não queria que eles tirassem notas abaixo da média.

-An...acho que não...

As duas rirar, Mia andou até a mãe e depositou um beijo na sua testa.

-Vou sair pra dar uma volta no bosque tá? Quando o Niky chegar avisa ele que eu vou estar perto do riacho e...por favor, pensa sobre ir trabalhar na cafeteria? Eu não gosto de ver você aqui pegando mofo...

Agatha sorriu.

-Tá bom, vai lá...

Quando Mia estava quase saindo, Agatha grita.

-TE AMO! CUIDADO E VOLTA ANTES DE ESCURECER!

-TÁ! TAMBÉM TE AMO!

Ao leve baque da porta se fechando, Agatha suspirou, ela realmente precisava sair daquele quarto, mas hoje já estava tarde e ela não queria mais trabalhar nisso, ela iria amanhã de manhã, já que não dava aulas de segunda nem de terça.
A mulher levantou e saiu do quarto em direção ao banheiro da casa, ela precisava de um banho pra aliviar a dor na coluna.

The coffee shop of the flowers | agatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora