Kiara 👠
Na semana que se seguiu, Kiara viveu em um misto de alívio e incerteza. Desde aquela noite em que Dante enfrentou Rodrigo, não houve mais sinais dele. Nenhuma mensagem, nenhuma ameaça, nenhuma aparição repentina. Ela começou a questionar se Rodrigo tinha desistido ou se estava apenas esperando o momento certo para reaparecer.
Dante, por outro lado, se mantinha próximo, observando qualquer mudança ao redor dela. Ele fazia questão de estar sempre por perto, aparecendo para acompanhá-la ao sair da empresa e inventando desculpas para passar no escritório dela mais vezes. Se antes Dante sentia apenas uma curiosidade sobre Kiara, agora era algo mais profundo - uma necessidade de protegê-la, como se aquela mulher fria e distante fosse a única coisa capaz de fazer sentido em meio à sua vida caótica.
Eles estavam, então, vivendo uma rotina inesperada e silenciosa. Um tipo de aproximação que dispensava explicações, onde cada olhar compartilhado no escritório trazia o conforto de quem dividia um segredo. Dante sentia a tensão de Kiara, mas também percebia os pequenos momentos em que ela relaxava ao lado dele. Aquilo era novo para os dois. Mesmo sem admitir, Kiara estava deixando que ele se aproximasse, ainda que cautelosamente.
Certa noite, depois de um dia longo e cansativo, Dante apareceu no corredor do escritório dela com dois copos de café.
- Está tarde, - ele comentou, estendendo um dos copos para ela. - Você deveria ir para casa.
Ela aceitou o café com um sorriso sutil, algo raro. - Poderia dizer o mesmo de você. Não acha que está cuidando demais da minha vida?
Dante deu um sorriso de lado. - Talvez eu goste disso.
Ela riu levemente, uma risada rápida que soou quase como uma surpresa para ela mesma.
- Isso é algo raro de se ver - ele comentou, observando-a com mais atenção. - Você rindo.
Ela desviou o olhar, a expressão voltando a ficar séria.
- Digamos que o riso não fez parte da minha vida por muito tempo, Dante. Acho que desaprendi.
Dante se aproximou um pouco mais, mantendo o olhar fixo nela.
- Eu gostaria de mudar isso, sabia?
Por um momento, Kiara hesitou, como se estivesse dividida entre se afastar e permitir que ele se aproximasse mais. Mas, em vez de recuar, ela se surpreendeu ao encontrar uma sensação estranhamente acolhedora na proximidade dele.
Os dois permaneceram ali, em silêncio, e Dante decidiu romper a quietude, buscando levá-la a algum lugar diferente daquela atmosfera tensa que parecia cercá-los.
- Vamos dar uma volta - sugeriu, quebrando o silêncio com um sorriso leve. - Se me deixar levar você para jantar, posso prometer que não vou fazer nenhuma pergunta desconfortável.
Kiara arqueou uma sobrancelha, intrigada. A proposta era incomum e, ao mesmo tempo, tentadora. Em vez de responder, ela apenas se levantou, pegou sua bolsa e o acompanhou em silêncio.
Eles saíram da empresa e caminharam pelas ruas iluminadas da cidade, o ar fresco da noite acalmando um pouco o cansaço do dia. Dante a levou a um restaurante discreto e aconchegante, longe dos olhares da mídia, onde ele era reconhecido facilmente. Quando sentaram, ele fez questão de ocupar um lugar de onde pudesse observar qualquer movimentação, mantendo-se alerta.
- Sempre tão atento - ela comentou, percebendo a posição estratégica dele. - Não consegue relaxar?
Ele deu um sorriso, levemente desconcertado.
- Desde que você entrou na minha vida, parece que perdi a capacidade de relaxar.
Ela desviou o olhar, mexendo no guardanapo sobre a mesa. Apesar da brincadeira dele, as palavras tinham um peso que ela não estava preparada para encarar.
Enquanto comiam, conversaram sobre temas leves, distantes de qualquer coisa que os trouxesse de volta àquela realidade ameaçadora. Kiara, pela primeira vez, revelou um pouco mais de si. Contou a ele sobre sua infância, os livros que gostava de ler, seus sonhos esquecidos e o quanto amava música - algo que a fazia se sentir viva quando estava em seus momentos mais sombrios.
Dante a ouviu atentamente, absorvendo cada detalhe, como se estivesse desvendando um mistério que se tornava mais fascinante a cada minuto. Ele sabia que estava entrando em território perigoso. A frieza que ela exibia normalmente escondia uma profundidade que ele ainda não compreendia por completo, mas que o atraía de forma irresistível.
Ao final do jantar, os dois caminharam lado a lado pela calçada, o silêncio confortável entre eles.
- Obrigada por isso - ela disse, parando por um momento e o olhando nos olhos. - Fazia muito tempo que eu não me sentia... em paz.
Dante deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles.
- Você merece se sentir assim, Kiara. Não importa o que aconteceu, você merece uma chance de recomeçar.
Ela sustentou o olhar dele, percebendo que estava, aos poucos, confiando em alguém como nunca antes. Mas ainda era um risco enorme. Cada fibra de seu ser lhe dizia para manter a guarda erguida, para não deixar que ninguém quebrasse as barreiras que ela havia construído com tanto esforço.
- Eu ainda não sei se posso confiar em alguém, - ela admitiu, baixando o olhar para as mãos.
Dante estendeu a mão e tocou o queixo dela delicadamente, forçando-a a olhar para ele novamente.
- Confiança leva tempo, eu sei disso. Mas vou estar aqui, Kiara, até que você se sinta pronta para me deixar entrar.
Ela se permitiu sorrir, um sorriso breve, mas sincero. E, naquele instante, soube que Dante estava mesmo disposto a enfrentar qualquer coisa por ela.
Os dias seguintes seguiram de forma estranhamente calma. Rodrigo continuava sumido, e Kiara tentava se convencer de que ele poderia, talvez, ter desistido. No entanto, parte dela sabia que aquilo era apenas uma ilusão. Ele voltaria, mais cedo ou mais tarde. Mas, agora, com Dante ao seu lado, ela sentia que poderia suportar o peso desse passado sombrio.
Uma noite, Dante a convidou para uma reunião com alguns sócios em um evento de gala, argumentando que ela poderia aproveitar para se entrosar melhor com os grandes nomes da empresa. Embora hesitante, ela aceitou o convite. Foi a primeira vez em que a viram fora de seu habitual semblante profissional, vestida em um elegante vestido preto, com uma delicadeza que a tornava ainda mais intrigante.
Ao chegar, Dante fez questão de guiá-la pelo braço, apresentando-a a diversas pessoas influentes, como se ela fosse mais do que uma funcionária. Ela percebia os olhares curiosos, mas escolheu ignorá-los, deixando-se envolver pela presença dele.
Em um momento mais reservado, enquanto conversavam em uma sacada afastada, Kiara olhou para ele, o vento bagunçando seu cabelo.
- Nunca imaginei que poderia me sentir assim, - ela admitiu baixinho. - Em paz, ainda que por um instante.
Ele sorriu, se aproximando. - E nunca pensei que iria me importar tanto com alguém.
Por um segundo, o olhar dele mergulhou no dela, o silêncio entre eles pesado de intenções não ditas. Dante, então, quebrou a barreira que os separava e a puxou para perto, os lábios roçando os dela em um beijo lento e delicado. Kiara fechou os olhos, permitindo-se entregar a uma sensação que há tempos não experimentava. O beijo era suave, mas carregava uma intensidade que falava mais do que palavras.
Quando se afastaram, ela ainda estava um pouco sem fôlego, mas sorriu, sentindo que, talvez, finalmente estivesse pronta para recomeçar - pelo menos naquele momento, ao lado dele.
Naquela noite, porém, ao voltarem para casa, Kiara encontrou um envelope embaixo da porta. Dentro dele, uma foto dela e Dante no evento, sorrindo um para o outro, com uma frase escrita no verso:
"Você não pode escapar de mim, Kiara."
Seu coração gelou. Rodrigo ainda estava por perto, e agora ele sabia de Dante.
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O MEU MELHOR RECOMEÇO
Romance"O que um simples esbarrão pode fazer na sua vida? Talvez signifique que esteja na hora de mudar a calmaria que há nela" Kiara Oliveira era uma menina doce, gentil e sonhadora. Mas, na adolescência, acaba passando por uma tragédia que muda sua vida...