Cena 2: A Colheita Sombria - Catherine Cabral

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A colheita sombria:

A Lenda do Monstro da Abóbora

Há muitos e muitos anos, em uma pequena vila cercada por densas florestas, contava-se uma história sombria que passava de geração em geração. Às vésperas do Halloween, quando o vento soprava frio e as folhas caíam como se até as árvores tivessem medo, os anciãos reuniam as crianças ao redor da fogueira para contar a lenda do "Cabeça de Abóbora".
"Dizem que, em uma noite de Halloween, muito tempo atrás, um fazendeiro ambicioso fez um pacto sombrio. Ele queria colheitas abundantes para sempre, custasse o que custasse. Desesperado por sucesso, ele fez um acordo com uma entidade maligna da floresta. Em troca de riqueza eterna, ele ofereceu aquilo que mais amava: sua própria filha. A entidade aceitou e, naquela mesma noite, o fazendeiro perdeu sua filha para sempre.
Mas a maldição não parou por aí. Em vez de ser agraciado com colheitas fartas, o fazendeiro foi transformado em um monstro, com um corpo feito de galhos retorcidos, raízes e trepadeiras. Sua cabeça foi substituída por uma abóbora oca, esculpida com um sorriso cruel e olhos flamejantes que nunca apagavam. Ele foi amaldiçoado a vagar pela terra a cada Halloween, em busca de crianças para preencher o vazio deixado pela sua própria perda."
A lenda dizia que, na noite de Halloween, quando o céu estivesse sem lua e o vento cantasse nas árvores, o Cabeça de Abóbora sairia de seu esconderijo na floresta. Ele caçava crianças desobedientes, aquelas que desafiavam seus pais e se aventuravam longe de casa. Seus passos eram leves como folhas secas no chão, e ele se movia nas sombras, rápido e silencioso. Ninguém via o monstro se aproximar, até que já fosse tarde demais.
Os anciãos sempre terminavam a história com um aviso: "Tranque as portas, feche as janelas e não desobedeça seus pais na noite de Halloween. Caso contrário, o Cabeça de Abóbora vai te encontrar."

A Noite do Monstro de Abóbora
Era noite de Halloween, e a vila estava mais silenciosa do que o normal. As poucas crianças que ousaram sair estavam fantasiadas, mas os mais velhos lembravam a todos para não se afastarem muito de casa. As janelas estavam trancadas, as portas fechadas com firmeza, e as abóboras com velas nas portas piscavam suas luzes débeis. Havia algo no ar — uma sensação de inquietação, como se a lenda pudesse ser mais do que apenas uma história para assustar.
Em uma pequena casa no fim da rua, três irmãos estavam inquietos. Seus pais haviam saído para ajudar com os preparativos de uma festa na igreja, deixando-os sozinhos em casa com uma advertência séria.
— Fiquem dentro de casa, trancados. Não saiam até voltarmos.
Mas as crianças, sempre curiosas e desobedientes, decidiram fazer o contrário. Ana, a mais velha, de 12 anos, decidiu que a lenda era apenas uma bobagem. Ela provocou seus irmãos, Lucas e Júlia, para que saíssem com ela.
— Não acredito nessas velharias. Vamos pegar doces das outras casas!
Lucas, de 10 anos, hesitou, mas a ousadia de sua irmã o convenceu. Já Júlia, a mais nova, tinha apenas 7 anos, e embora relutante, seguiu seus irmãos.
Eles saíram em silêncio, rindo de nervosismo, suas lanternas iluminando fracamente o caminho à frente. O ar estava frio, cortante, e as folhas secas sob seus pés estalavam como pequenos ossos. Quanto mais se afastavam de casa, mais o vento parecia sussurrar nos ouvidos, como um aviso que eles ignoravam.
À medida que as crianças avançavam, não percebiam que o caminho por onde caminhavam estava mudando. As árvores ao redor ficaram mais densas, as sombras mais escuras, e uma estranha neblina começou a se formar ao nível do chão. Quando finalmente se deram conta, estavam longe demais de casa, perdidos em uma parte da floresta que nunca haviam visto antes.

— Eu acho que devíamos voltar. — disse Júlia, com a voz tremendo.

Ana ia responder quando o vento mudou, trazendo consigo um som distante, como o arranhar de galhos secos. Lucas parou abruptamente.

— Vocês ouviram isso? — perguntou ele, virando a cabeça em direção às sombras.

O som repetiu-se, mais próximo desta vez, um arrastar lento, como se algo muito pesado estivesse se movendo entre as árvores.

Foi então que eles o viram.

Na borda da clareira, emergindo das sombras, estava o Monstro de Abóbora. Sua figura grotesca parecia fundir-se com a escuridão. O corpo, torcido e deformado, parecia feito de galhos secos, raízes e trepadeiras, todos enrolados de forma grotesca. Mas o que realmente paralisava o trio de medo era sua cabeça — uma enorme abóbora esculpida com um sorriso cruel e olhos que brilhavam com uma luz laranja incandescente, como brasas de um fogo eterno.

Ele estava parado, imóvel, observando as crianças com seus olhos flamejantes. Seus dedos longos e esqueléticos se arrastavam pelo chão, agarrando as folhas e as puxando como se se alimentasse da própria terra. E então, sem aviso, ele se moveu. Rápido demais para algo de seu tamanho, ele avançou com um passo lento e firme, cada movimento ecoando com o som de galhos quebrando.
Ana gritou e puxou seus irmãos para correr, mas o Monstro estava em seu encalço. Eles correram o mais rápido que podiam, mas o som do arrastar de galhos secos e folhas nunca diminuía. Ele estava sempre ali, logo atrás, pronto para agarrá-los. Quando finalmente chegaram à beira da vila, já era tarde demais. O Monstro de Abóbora estendeu seu braço longo e agarrou Lucas com uma força imensa. O menino gritou, mas o som foi abafado quando ele foi puxado para o escuro. Ana e Júlia correram para casa, mas sabiam que o Monstro ainda os observava, esperando o momento certo para completar sua caça.
Na manhã seguinte, quando os pais das crianças retornaram, a única pista de Lucas era uma única abóbora deixada à porta da casa, esculpida com o mesmo sorriso cruel e os olhos flamejantes que as crianças haviam visto na noite anterior.

A lenda do Cabeça de Abóbora continua viva e real, e aqueles que desafiavam suas regras pagavam o preço.

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@autora_caah

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