Capítulo 4 - Felicia

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Eu acordei com o sol batendo no meu rosto, me fazendo resmungar enquanto puxava os lençóis contra minha cabeça até notar a diferença deles para os meus lençóis. Eu costumava dormir numa cama enorme e fria por causa dos tecidos em seda, absurdamente caros a ponto de um deles poder sustentar uma família novaiorquina de classe baixa por um mês.

Mas então tudo veio como um flash na minha mente. A discussão com Peter, minha "queda" nessa dimensão futurística, ser encurralada por milhares de versões da única pessoa que eu não queria ver agora. Parecia muito irônico. O destino brincava com a minha cara, o fato da Gata Negra simbolizar e ser tão azarada quanto. Que patético...

Acabei me sentando naquela cama, esfregando meu rosto para me acostumar com a claridade pela parede feita de vidro. Eu não via nenhum tipo de cortina ou controle tecnológico. Isso parecia pura implicância de um certo aranha-morcego enorme de bunda grande para me fazer acordar cedo.

—Babaca gostoso... Se aquela bundinha não fosse um patrimônio histórico... Eu teria acabado com ela. — Suspirei enquanto me via ali, sozinha num lugar desconhecido. Mas por que diabos isso deveria me impedir?

Me levantei, vendo que ainda era cedo o bastante pra maioria dos aranhas que estavam presos aqui, aparentemente por minha "queda", estarem na cama dormindo. Mas eu como uma boa intrusa, fui me vestir e procurar pelo gostosão, até ver a aranha rosa saindo de uma das portas, sem me ver e eu a segui furtivamente, esperando que nenhum "Peter" me seguisse e me trancasse.

Tudo parecia tão mais tecnológico do que eu conhecia, uma dimensão futurística que parecia tão deprimente apesar de tudo. Eu era ótima com tecnologia, apesar da cara de patricinha, adorava saber sobre tudo isso, era ótimo para meus momentos de ladra.

Parei pouco antes da porta aberta da sala de reuniões onde "Gwen" entrou, parando ao ouvir a voz grossa com sotaque latino que me fez ferver por dentro. Que voz deliciosa... Uma pena ele ser tão irritante e mandão.

—Isso não é uma simples falha! Se a porra dos portais não se estabilizarem, nenhum aranha consegue voltar pra casa! Estamos todos presos! — Ele rosnou e eu senti um frio correr pela minha barriga. Miguel parecia o tipo que não conversava, alguém de poucas palavras e mais ações. Por isso era tão respeitado, ninguém ia contra ele.

—Acha que isso é culpa da Hardy? — Uma voz semelhante a de Peter soou, o tal Peter "Ben" Parker, a versão envelhecida. —Ela está com a pulseira agora, mas se a chegada dela causou isso... O que será que a permanência dela vai causar?

Eu senti minha boca ficar seca, olhando pro nada enquanto ouvia a reunião de emergência feita contra mim. Eu não pedi por isso, não pedi pra cair nesse lugar cheio do meu fracasso, cheio de rostos iguais ao dele. E estar sendo culpada disso era um grande absurdo. Mas eu estava tão focada, pensando nisso, que pela primeira vez, fui pega.

Dei um pulo pelo susto ao ver a silhueta enorme de um aranha diferente na minha frente, o peitoral gigante de frente com meu rosto por ele ter quase dois metros de altura. E logo aquela mão pesada e grande estava no meu antebraço.

—Nunca ouviu falar que a curiosidade matou o gato? Anda bisbilhotando demais... — Miguel me olhou intensamente, procurando qualquer segredo que eu guardasse e me senti vulnerável quando aqueles olhos me fiscalizaram, olhando meu uniforme e dessa vez, sem minha máscara.

—Eu tinha que descobrir o que planejam fazer comigo. Acha que eu queria estar aqui? Já é difícil o bastante estar numa dimensão que não conheço, rodeada por essas cabeças de teia irritantes e ainda ser culpada por tudo isso! Não é justo.

—E o que é justo, Felicia? De quem é a culpa? — Seu olhar castanho e sério estava sob o meu azulado, me deixando sem fôlego enquanto franzia as sobrancelhas, tentando demonstrar seriedade.

—Foi... Um acidente. — Falei finalmente, não notando que todos naquela sala me olhavam em silêncio, talvez porque seu líder estava tão próximo da Gata Negra, ou apenas para ouvir a história.

—Me conte... —Ele não baixava a guarda em momento algum e eu arfei antes de contar a ele tudo o que aconteceu, omitindo a parte da discussão e o motivo. Aquilo chegava a me envergonhar. Então apenas contei o que ele precisava saber.

Miguel parecia acreditar em mim, por outro lado, "eu" tinha uma fama em toda essa dimensão de ser uma ladra mentirosa. Eu era sim terrivelmente boa em mentir, mas estava falando a verdade dessa vez.

—Você está me dando uma grande dor de cabeça, Felicia Hardy... — Ele suspirou, pouco antes de se afastar, andando pelos corredores sem saber o que fazer e eu o segui. —Não foi convidada.

—Prefere me deixar aqui sozinha? — Ele pareceu odiar a ideia e bufou, sabendo que eu poderia destruir mais coisas. Então só agarrou meu pulso enquanto ia pra uma sala cheia de computadores.

Teias e Safiras {Miguel O'Hara × Felicia Hardy}Onde histórias criam vida. Descubra agora