Percebo que estou viva quando quase tenho infarto.O rosto do Velho Quil quase colado no meu não era bem a visão que eu esperava ao abrir meus olhos, e meu susto acaba o assustando também. Quando volto a sentir meu coração se acalmando, tento entender o que ele estava fazendo aqui — e onde era aqui, exatamente.
A casa era familiar, igual a todas as casas da reserva. Mas eu não reconhecia a decoração. Tento focar minha visão em outras coisas ao meu redor, e percebo que ele não é o único comigo ali. Ao seu lado, Sue me olha cheia de preocupação. Leah e Seth estavam mais afastados, no canto da sala. Harry estava atrás do sofá, junto com meu pai e Quil.
Espera, meu pai?
— Oi — tento dizer, mas minha garganta arranhava.
— Shh, não force querida — Sue sorri tentando me acalmar, e sinaliza para Leah pegar um pouco de água para mim.
— O que aconteceu? — aquilo mal soa como palavras.
— Julie, fica quieta por um segundo. — Quil tenta disfarçar a preocupação com um sorriso.
Quil Ateara V preocupado? O negócio foi feio.
Mas o obedeço, tomando a água que me foi dada. Até mesmo a água machuca quando passa pela minha garganta irritada, e preciso de mais dois copos para minha voz ser audível.
— O que aconteceu? — repito.
— Do que você se lembra? — o Velho Quil pergunta. Ele estava precisando mais da água do que eu.
— Não me lembro de muita coisa. — E é a verdade. — Eu fui tomar água e apaguei.
O rosto enrugado em minha frente se contorce ainda mais.
— Não se lembra de mais nada? — a voz de meu tio soa errada, como se não fosse ele ali.
Uma chuva de lembranças me invade, e eu levo as mãos a cabeça tentando impedir que me afoguem. Um pesadelo vivo. As vozes, a dor. Até mesmo as vozes que ouvi ontem. Todo me atinge de uma vez só. Eu deveria estar lá.
— Desculpa, eu não queria assustar vocês. Foi só um pesadelo. — tento me levantar, mas o Velho Quil me segura com força com o sofá. Havia algo em seus olhos, algo que me assustou.
— Um pesadelo? Querida, você ficou apagada por três horas. O que aconteceu? — meu pai diz assustado, e sinto um aperto no coração. Odiava ser quem o preocupava.
— Nada demais, foi um sonho.
— Você estava bem acordada. — Seth diz recebendo uma cotovelada de Leah.
— Eu sei, já aconteceu antes.
— Quando? — pergunta, e percebo que eu havia esquecido de contar a meu pai sobre o incidente.
— Na escola. Foi rápido e não teve nada disso — aponto para a sala —, eu nem tinha percebido na verdade. É por isso que eu não posso dirigir, né?
— Jules, querida...
— Eu tô bem pai, eu juro.
— Podem nos dar licença? — O ancião que ainda me segurava pede e a sala toda obedece.
Na cultura Quileute, por ser o mais velho, Quil III é o mais influente e sábio da tribo, e portanto, o mais respeitado. Quando todos da casa saem, eu finalmente percebo que estou na casa dos Ateara. Vejo algumas fotos do Quil — o meu amigo, no caso. — bebê, outras dele nos primeiros dias da escola chorando desesperadamente. Era a primeira vez que eu entrava lá, já que a presença do ancião me deixava um pouco desconfortável e isso até fazia sentido, já que ele ainda segurava meus braços me olhando por cima dos óculos.
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the albatross. EMBRY CALL
FanfictionO ALBATROZ. | Em algum ponto da história da humanidade, várias civilizações concordam na existência de almas gêmeas. Sejam elas ligadas por um fio invisível ou um mesmo corpo separado em duas partes condenadas a vagar pelo mundo até se juntarem n...