Me tire daqui, porfavor.

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Os segundos começaram a passar, que se tornaram horas, que se tornaram dias, que se tornaram meses.

Quando eu menos percebi haviam se passado mais seis meses, e eu ainda estava lá. Alucinando, enlouquecendo, ainda com a mesma sensação de morte atrás de mim.

Cada vez que eu deitava para dormir ou acordava, eu agradecia por mais um dia de vida, pois com Tiffany as coisas eram imprevisíveis, nada era previsível, nada era perceptível e muito menos calmo.

E eu simplesmente não aguentava mais, eu continuei vendo o mesmo homem, aquela sombra alta e distorcida ainda aparecia pra mim algumas vezes, mas sinceramente, eu não consigo explicar, e quase como se... Depois de algum tempo, o que me restou foi apenas um pequeno pedaço de memórias de uma vida passada, aonde eu conseguira talvez, se eu não tivesse saído aquele dia para comprar aquele refrigerante, me livrado de um problema aonde me perseguirá até o fim de minha vida.

E além disso, conforme os meses foram se passando, eu fui me adaptando a solidão, o silêncio daquela casa gigantesca, exceto a noite, quando as vezes, eu escutava gritos agonizantes, quase como se viessem de todos os lugares, porém, ao mesmo tempo não viessem de lugar nenhum.

Com o tempo, comecei a sentir conforto na tristeza, me consumindo a cada dia que se passava, aonde eu me questionava qual era meu lugar.

Se eu deveria fugir, ou ficar e simplesmente aceitar que não há escapatória do destino, na qual apenas resta a mais pura e triste solidão.

Conforme as semanas se passaram, o homem alto tentava se comunicar, ainda tentando me incentivar a fugir, portanto conforme eu o ignorava, ele ia desistindo, até chegar um ponto que ele simplesmente não apareceu mais.

Eu ainda sentia ele as vezes, apesar de não conseguir levantar da cama na maior parte das vezes.

Eu já perdi as contas de quanto tempo eu estava presa ali, com ela, todos os dias, sendo alimentada por ela, escutada por ela, cuidada por ela.

Aonde o meu único contato com o mundo exterior eram as revistas, pois até as televisões ela havia retirado, era como se ela brincasse comigo, tentando ver até aonde minha sanidade iria, até aonde eu aguentaria.

Meu único contato era ela.

Meu único apoio era ela.

Eu a odiava.

Eu a amava.

Por que eu a amava? Era por que ela era a única figura de proteção que eu tinha no momento? Era o medo? Era a carência de talvez sair e conversar e agir como um ser humano normal.

Eu sentia que ela fazia essa tortura na intenção de que, quando eu simplesmente não aguentasse mais, eu me jogaria nos braços dela, implorando para ela me escutar e me dar atenção, pois eu não aguentava mais ficar sozinha sem nenhum contato com o mundo exterior.

Ainda mais depois dos acontecimentos envolvidos a Gina.

Depois disso, qualquer mínima coisa relacionada a Gina caia sobre mim.

Ela instalou sistemas de seguranças três vezes mais potentes que os anteriores.

Colocou rastreadores em tudo, além dos alarmes.

Mesmo assim, quando Gina aparecia minimamente feliz, ela achava que eu estava envolvida.

Quando Gina aparecia triste, ela achava que era minha culpa.

Quando Gina parecia pensativa, ela achava que era minha culpa.

Eu estava a ponto de enlouquecer, ao mesmo ponto que eu queria a matar, estraçalhar, desfigurar, eu queria sentar com ela e apenas chorar, implorar para que ela parasse, que me deixasse ir, ou que pelomenos me deixasse ter um pouco de contato com o mundo, ou ao menos me deixasse ir ao jardim, aonde eu poderia me distrair de meus pensamentos e pegar um pouco de sol.

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⏰ Última atualização: Nov 03, 2024 ⏰

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