Parte III

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Avaliando os hematomas novos e antigos no corpo do adolescente e zelando pelo nome dos Uchiha, que ainda possuía algum peso, embora Tajima houvesse se esforçado para jogá-los na lama, a polícia e os advogados da família decidiram que aquele fora um caso atípico de legítima defesa, abafando o caso.

Por já contar com quase dezesseis anos, sua tia optou por não assumir a guarda do sobrinho, mais uma de suas decisões sozinhas e egoístas. Izuna, no entanto, agora um pouco mais maduro e consciente, resolveu que voltaria para casa, que não deixaria o irmão sozinho, não novamente.

Por isso, após bater seus pequenos pés no chão num gesto infantil, o caçula logo estava de volta à sua casa.

Mas Madara já não era o mesmo que deixara anos atrás, e isso foi nítido no instante em que colocou os olhos nele.

O amor e a saudade em seus olhos, porém, os nublou como uma cortina, de modo que Izuna não foi capaz de mensurar o quão diferente o irmão poderia estar. Tudo o que fez, antes de jogar-se em seus braços, foi suspirar resignado. O amor dos dois o libertaria, certo? Era em que o caçula escolheu acreditar.

Mesmo nos momentos em que o olhar do irmão se tornava selvagem durante as noites de tempestade, ou quando os olhos se tornavam vidrados enquanto ele parecia balbuciar algo quando sentado encolhido como uma criança no parapeito da janela da sala, ou quando ouvia alguns gritos durante a noite, resultado dos inúmeros pesadelos de Madara.

Izuna assumiu que aquele fora apenas um efeito da convivência atroz com o pai, e que por isso logo passaria, agora que Tajima não estava mais ali.

No entanto, por mais que Madara tentasse esconder, se tornando mais sutil com o passar dos anos, aquilo não passou. Entre os irmãos, por trás dos olhos do mais velho ainda existia uma espécie de cortina de fumaça, nublando todo o exterior e também blindando Madara por dentro, tornando-o impenetrável. E enquanto Izuna pensava que seu irmão um dia voltaria, ele apenas se distanciava, até que finalmente desaparecesse no horizonte como um navio perdido no mar.

O único a resistir aparentemente, talvez por receber migalhas um pouco maiores de atenção, era Hashirama.

Por mais enciumado que pudesse sentir-se às vezes, Izuna precisava admitir que gostava do Senju, e gostava ainda mais do efeito que o homem grande tinha sobre o irmão. Era sempre Hashirama quem tirava Madara de seus piores momentos, afinal, e Izuna seria sempre grato a qualquer um que fizesse bem para o seu precioso irmão mais velho.

Ele só não conseguia entender porque Hashirama parecia nunca poder entrar na casa dos Uchiha. Os encontros aconteciam, em sua maioria, no quintal, já que Madara se tornara ainda mais recluso após a conclusão do ensino médio.

Por vezes, tomava aulas particulares de tipografia em casa, já que ainda que certamente não fosse preciso trabalhar para o resto de sua vida e a de mais três próximas gerações devido à herança deixada, ainda encontrava, às vezes, conforto nas palavras.

Enquanto isso, Hashirama cursava medicina na universidade local, seguindo os passos da família Senju, que era formada de médicos e pesquisadores. E mesmo em meio aos estudos, ainda encontrava tempo para visitar o amado todos os dias, mesmo que apenas para um beijo de boa noite ou uma brincadeira que o fizesse bufar um riso irritado.

Era como se o amor juvenil ainda estivesse lá, mesmo quando já não eram mais tão jovens. Mesmo que Madara já não fosse mais o mesmo.

Por isso, ainda que impotente e resignado com a triste situação, Izuna resolveu manter-se positivo e esperançoso Tudo ficaria bem com o tempo, ou ao menos era o que ele gostaria de acreditar, contrariando a voz que constantemente parecia soprar em seu ouvido.

"Vá embora e não olhe para trás!" — Ela dizia.

Mas Izuna nunca a ouviu.

Mestre Mandou (Hashimada - Desafio de Halloween)Onde histórias criam vida. Descubra agora