Butsuma não resistiu.
Devastado após o funeral, Hashirama só pensava em afundar-se nos braços do amado. Não deixara de pensar em Madara em nenhum dia sequer durante aquele afastamento forçado, afinal. Mas a saúde de seu pai era prioridade, principalmente quando já era um médico formado, ainda que houvesse optado pela psiquiatria, por motivos dolorosamente óbvios para si.
Quando o último Senju deixou a sua casa, levando Tobirama junto a ele, visto que o irmão não pretendia dormir na residência em que seu pai faleceu, pelo menos não durante aquela noite, ao se ver sozinho, Hashirama decidiu que finalmente era chegada a hora de encontrar conforto nos braços de quem mais amava.
Conforto, no entanto, não foi exatamente o que encontrou.
Cansado de chamar e bater na porta da casa dos Uchiha sem sucesso algum, Hashirama achou que não seria de todo mal testar a maçaneta e entrar, caso estivesse aberta. Por mais que Madara o houvesse proibido veementemente de adentrar a sua casa, o Senju ainda pensava que aquele era apenas um desejo bobo, sem razão de ser. Bom, ao menos pela sua lógica, mesmo que soubesse que a lógica de Madara poderia ser bem diversa da comum, lamentavelmente.
Girando a peça gelada de ferro em sua mão grande, sorriu empolgado quando a porta se abriu. Finalmente após anos adentrava aquela casa, e não só isso, veria o seu amado após dias de afastamento!
Ele só esperava que o Uchiha estivesse bem.
Controlando a ansiedade, Hashirama voltou a chamar por Madara, e quando não houve resposta, ainda tentou o nome de Izuna, porém, igualmente sem sucesso.
O Senju conseguiu subir as escadas rapidamente com o seu condicionamento e pernas longas, e logo atravessava o corredor imponente com suas inúmeras portas. Franzindo as sobrancelhas espessas, se perguntava qual delas seria a porta do quarto de Madara, enquanto sorria carinhoso perante o desenho que sua imaginação fazia de como seriam os seus aposentos.
Decidido a tentar, ele abriu a primeira porta, deparando-se com um cômodo empoeirado cujo certamente seria um dos quartos de hóspedes, bem como a sua segunda e terceira tentativa.
Na quarta, havia uma escrivaninha lotada de livros e papéis, numa bagunça organizada, enquanto a cama estava perfeitamente bem feita, exatamente como imaginava que seriam os aposentos do amado. A caixinha de pílulas na mesa de cabeceira acima não deixava dúvidas: Aquele era definitivamente o quarto de Madara.
No entanto, onde ele estaria?
Não satisfeito, Hashirama então decidiu vasculhar o restante da casa. Se já estava por ali, tendo invadido inclusive a privacidade de Madara ao adentrar o seu quarto sem que ele estivesse presente, não faria mal continuar a procurá-lo, certo?
Quando abriu a porta do quarto ao lado, porém, desejou nunca tê-lo feito, ou sequer ter desobedecido ao pedido veemente do amado de que não adentrasse naquela casa.
O retrato era semelhante ao que fora relatado anos atrás pela antiga empregada dos Uchiha. O corpo jovem de Izuna, antes vigoroso em toda a sua glória juvenil, agora não passava de um boneco de trapos, os lábios já azuis e abertos debilmente em contraste com o vermelho vivo do sangue em suas vestes, que descia do enorme corte em sua garganta.
Sentado encolhido no chão e com as costas acomodadas aos pés da cama, Madara tinha uma adaga sangrenta nas mãos que tremiam, bem como seus lábios ao sussurrar palavras desconexas, olhos vidrados em direção ao nada em especial.
— Madara! — O som foi mais um gemido, um lamento. O luto se confundiu com a sensação de pavor, terror e desolação.
Naquele instante, soube ter perdido não só o seu pai, mas também o amor de sua vida.
— Não, não fui eu! Foi Ele! — O Uchiha apontou para o nada, e se sentiu a mais impotente das criaturas no momento em que viu o olhar de descrença e pena nos olhos de Hashirama.
Hashirama nunca o tinha olhado daquela forma, mesmo quando todos os outros, seu irmão incluso, o fizeram, como se Madara fosse de fato louco, doente.
Por isso, não tentou lutar quando a adaga foi tirada de suas mãos, nem quando foi encaminhado ao banheiro para que se lavasse de todo o sangue em seu corpo e vestes. Também não reclamou quando Hashirama lhe vestiu, ou quando lhe sorriu com indulgência enquanto assegurava que tudo ficaria bem, como se falasse com uma criança, enquanto o conduzia pelos corredores daquele hospital.
As paredes acolchoadas lhe pareceram grotescas de início, mas o que mais o incomodou foi a ausência de janelas, uma vez que só havia uma em todo o quarto, e bem alta e pequena.
Agora, anos após o acontecido, Madara já se sentia conformado com o lugar, ainda que os gritos lá fora o perturbassem às vezes. Passava seus dias fazendo a única coisa que ainda lhe era permitida ali, e ironicamente o que mais gostava de fazer desde que se apaixonou pela tipografia: Escrever. Mesmo que com um giz de cera horrível, uma vez que canetas ou lápis estavam fora de cogitação para si.
Hashirama ainda lhe visitava, trazendo remédios e mais material para a sua escrita, e o tinha agora também como paciente, fazendo questão de manter os cuidados do amado.
Mas o seu sorriso, que um dia iluminou Madara e tinha o poder de cura em seus piores dias, não existia mais, e nas raras vezes em que surgia, não era real, não mais lhe alcançava os olhos, sequer acendia como antes.
Resignado e impotente, tudo o que Madara fazia era sobreviver, dia após dia, como um pássaro triste em uma gaiola. E na maioria das vezes, sozinho, uma vez que Hashirama não poderia ficar o tempo todo consigo, e o Uchiha jamais exigiria algo do tipo. Na verdade, secretamente torcia pelo dia em que o Doutor Senju finalmente desistisse, que conseguisse libertar-se daquela maldição como ele jamais poderia, que pudesse viver a sua vida como o pássaro livre que era, do contrário de Madara.
Irônico era imaginar que do mesmo modo em que começara, terminaria. Apenas quatro paredes o cercando, mantendo-o cativo do seu sofrimento, testemunhando a sua solitude, o seu choro, seu desespero.
Tudo começou e terminaria ali, na sua prisão particular. Suas únicas companhias? As quatro paredes acolchoadas e talvez um velho amigo à espreita. Olhos brilhantes no escuro e prontos para atacar a qualquer momento, na menor oportunidade.
— Mestre mandou...
Há uma ferida que sempre está sangrando
Há uma estrada que eu sempre estou caminhando
E eu sei que você nunca voltará a este lugar...
(Hope Leaves - Opeth)
Fim.
E esse foi o resultado do desafio de halloween do grupo das fanfiqueiras, ufa! Confesso que foi difícil de sair, mas fiquei satisfeita com o resultado e espero que também satisfaça quem for ler! No mais, estou indo embora kkkkkkk. Obrigada desde já a quem chegou até aqui!
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Mestre Mandou (Hashimada - Desafio de Halloween)
Horreur"Eu sou Uchiha Madara e essa é apenas mais uma das histórias que eternizam momentos de uma vida cujo eu não gostaria de me recordar, tampouco ter vivido, mas que infelizmente vivi. A história de como eu perdi tudo." Fanfic escrita para o desafio de...