capítulo 41

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_Anônimo_

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_Anônimo_


Fui pra mais perto da laje, meu ponto alto, com a vista aberta de todo o meu reino: a favela. Aqui, eu sou o dono e nada escapa dos meus olhos. E se falam mal de mim, que falem. Na selva, só tem espaço pra um rei, e esse rei sou eu.

Eu vejo os normais tentando me entender, mas eles não sabem de nada. Quem é louco aqui sai com o peito cheio, como quem carrega 100% de vitalidade. Eu não tenho medo de mostrar o que faço, porque no fim, quem vence a batalha é o vilão. E é isso que eu sou, o vilão que toma o que quer, quando quer, e ninguém segura.

Enquanto eu observava tudo, chegou um dos meus vapores, com a cara de paguão, como sempre.

- Chefe, eles acabaram de sair pra missão - ele falou, quase sem respirar.

Puxei um cigarro do bolso, acendi, e traguei sem pressa, soltando a fumaça antes de responder.

- Tem certeza, menor?

Ele assentiu, quase pulando de ansiedade.

- Claro, pô! Pelo que entendi, não foram nem metade dos soldados deles. É uma missão fechada dessa vez. Deve ser coisa deles com os "gringo", tá ligado?

Continuei soltando fumaça, ouvindo ele contar os detalhes, mas minha cabeça já tava em outro lugar, maquinando os próximos passos.

- Vai atacar agora, chefe? - ele insistiu, olhando pra mim como se esperasse uma ordem.

Dei uma risada curta, fria, e neguei com a cabeça.

- Ainda não. Tá na hora ainda não. Quem eu quero, não tá lá. Quero que todos eles vejam meu show da pior forma.

Ele piscou, como se não tivesse entendido muito bem, mas isso era problema dele.

- Tu vai pegar o morro do Marcola no final, chefe? - ele perguntou, a voz meio cheia de admiração e medo. - Sabe que não é só tu na parada, né? Tem cabeça grande de olho nisso também.

Soltei uma gargalhada seca.

- A única cabeça grande na parada que importa é a minha, o resto é só degrau pra mim. O morro é pouco pra o que eu vou tomar daquele filho da puta. Vou fazer ele engolir poeira, e ele sabe que não tem outro jeito.

Joguei o cigarro no chão, esmaguei a bituca com o pé e fui pra dentro de uma das bocas. O menor veio me seguindo, ainda cheio de perguntas.

- Aproveita que a Lobo foi pra essa missão - continuei, - e foca a atenção redobrada na mais velha do Marcola. Quero saber até quantas vezes essa garota respira.

Ele balançou a cabeça, entendendo, e já sacou o celular pra mandar as ordens.

- Jáé, chefe. Vou mandar um alô pro nosso mano de lá.

Olhei pra ele com impaciência, quase rindo.

- E tá fazendo o quê ainda na minha frente, porra? Vai logo e deixa de falar no meu pé do ouvido - falei, dispensando ele da minha sala com um aceno.

Assim que ele saiu, fiquei só eu e o silêncio, com o eco da favela lá fora. A fumaça ainda rondava a sala, o cheiro amargo misturado com o de pólvora e sujeira que parece nunca sair. Fechei os olhos por um instante, sentindo a adrenalina borbulhar nas veias. Era sempre assim antes do ataque, uma calma tensa, como um predador espreitando a presa. Eu sabia que a hora certa ia chegar, e quando chegasse, ia ser brutal.

A Lobo tava fora, mas isso não ia durar muito. Ela era esperta, sabia como se mover, mas no fundo, eu era o único que conhecia todos os caminhos desse jogo. Era questão de tempo até eu tomar tudo que era dela e mais. E com a mais velha do Marcola sob meu radar, tava tudo sob controle.

Lá fora, o céu começava a escurecer, o sol se escondendo atrás das casas amontoadas. Pra quem olhava de fora, isso aqui era só bagunça e caos. Mas pra mim, cada viela, cada beco, era uma peça no meu tabuleiro. Eu conhecia as regras, sabia quem eram as peças principais e quem eram os peões.

Não demorou muito até outro vapor chegar, trazendo mais informações. Ele parecia nervoso, o rosto marcado pelo medo que sentia só de olhar pra mim.

- Chefe, tem novidade da Lobo. Parece que eles tão se preparando pra um esquema maior. Tem gente nova na área deles, e tão armados até os dentes.

Senti um sorriso frio no canto da boca. Era disso que eu gostava: desafio, risco. Só me deixava mais focado.

- Fica de olho neles. Quero cada movimento monitorado. E qualquer novidade, vem direto pra mim. Sem desvio, entendeu?

O moleque balançou a cabeça, visivelmente aliviado por poder sair logo dali. Eu sabia que eles me temiam, mas também sabiam que comigo, quem fizesse direito, subia na vida. Era o equilíbrio. E eles preferiam mil vezes estar do meu lado do que contra.

Voltei pra laje mais uma vez, contemplando meu domínio. Sabia que a guerra com o Marcola não ia ser fácil, mas isso nunca me preocupou. Eu nasci pra isso. Essa vida, o caos, a violência... era tudo que eu conhecia, tudo que me mantinha vivo. E pra quem tentasse me derrubar, o aviso era claro: só deixo terra queimada atrás de mim.

Na minha mente, já visualizava cada passo. Quando a hora chegasse, o ataque ia ser coordenado. O Marcola e os dele não iam ter nem tempo pra respirar. E no final, quando eu estivesse de pé, com o morro a meus pés, ia ser o momento em que todos iam entender que o louco da favela, o vilão, era o verdadeiro rei.

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Já era quase noite quando percebi a movimentação nas vielas, uma sombra rápida. Meus olhos se estreitaram. Esse era meu território, e eu sabia que qualquer movimento estranho queria dizer uma coisa: eles tão vigiando. Mandei um recado pra vigia do beco.

- Quero o olho na retaguarda. Se for alguém do Marcola, quero saber até o que carregam no bolso. Não admito espião rondando.

- Pode deixar, chefe. Tudo que eles fizerem, a gente reporta.

A noite tava só começando, e eu sabia que a tensão ainda ia subir. Mas eu esperava. Porque no final, quando o show começasse, ia ser só eu, o morro e meus olhos atentos. E quem ousasse entrar no meu caminho ia entender do pior jeito quem manda aqui.

...

Notas da autora; vocês já tem noção de quem é essa pessoa?















Ritmo do crime (romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora