Fernando Point If View
Subi o morro em direção à casa da Tay, frustrado como nunca — o termino de Jully e Caveira parecia ser a minha oportunidade de fazer Caveira me perdoar, mas não foi o que aconteceu, agora ele não só me odeia, como me faz de gato e sapato — Estou cansado dessa merda, eu fui burro e continuei sendo, sofrer por isso por um tempo foi bem feito para mim, mas será possível que essa merda vai me perseguir para sempre?
Cheguei na porta dela, batendo palmas; ela não demorou a aparecer. Tay e eu nos conhecemos desde a infância, fizemos a pré-escola e o ensino fundamental inteiro juntos, durante o ensino médio, fiz questão de acompanhá-la até a porta do colégio todos os dias.
Tay começou a transição aos 15 e eu sabia que dali em diante, ela não estava mais segura. No início foi difícil para mim entender toda aquela situação, mas ela sempre teve o meu total apoio. Sua mãe relutou em aceitar, ouvi ela me relatar inúmeras discussões entre as duas, mas ela felizmente deu o braço — sabia o que a filha iria sofrer na rua, não a deixaria sofrer em casa.
— Isso é hora? Eu preciso almoçar e voltar para a loja.
— A gente conversa, eu te levo lá.
— A pé eu vou sozinha.
— Quando a gente compra uma moto é que a gente vê os amigos de verdade.
— Menos, Nando, bem menos — desceu os degraus e abriu o portão — Vai pegar a moto?
— Vou, a gente passa lá em casa, garanto que você não na hora.
Adentrei a casa, cumprimentando a mãe de Tay — dona Mariana — Da cozinha, ela veio me dar um abraço — Estive com muita demanda ultimamente e não consegui visitá-las.
— Põe um pratinho pra ele, Taíssa.
A vi revirar os olhos e ri — Não se preocupa, tia, eu sou de casa, eu coloco.
— Menina mal educada! Vem, filho, vem que eu coloco um pratinho pra você — me levou pelo braço; eu só soube sorrir, minha mãe e estavamos longe de ter essa relação.
— Mãe! Ele tem mão! — Ela veio atrás de nós.
Ela me serviu um prato de encher o olhos e a barriga; Tay me encarou comer, em pé, de braços cruzados, batendo o pé no chão antes de se sentar.
Quando dona Mariana se levantou da mesa para lavar a louça; ela me dirigiu a palavra:
— Vai, desembucha, o que houve?
— Por que acha que aconteceu alguma coisa? — perguntei de boca cheia.
— Porque é meio dia, isso não são horas.
— Nada. Você é amiga da Clara?
— Sou, a Clarinha é um amor, por quê?
— Ela tá transando com o Caveira.
Tay contraiu os lábios, deixando transparecer sua opinião sobre.
— Ela merece muito mais.
— O Caveira não é um namorado ruim.
— Como namorado eu não tenho como saber, quando eu vi, o papel dele era corno — fez uma pausa — Mas eles não estão namorando, estão transando, minha reação continua válida.
Estralei a língua, pegando uma garfada de comida.
— O que tanto te incomoda nisso?
— Pensei que ele não tivesse superado a Juliana e apostei 50 reais.
— Quem parece não ter superado a Juliana é você.
Enchi a boca para manter o meu direito de ficar em silêncio.
— Essa história não vai deixar você em paz se você continuar levando ela do jeito que está levando há um ano — Abaixei o olhar, mastigando — Devia falar com o Caveira.
Levantei a cabeça — Depois desse tempo todo?
— Esse tempo todo só existiu por culpa sua — Não era mentira.
O almoço estava ótimo, mas aquela conversa me fez perder o apetite; engoli a comida.
— Está falando isso porque não sou eu.
— Eu definitivamente não seria tão idiota.
Me esforcei para não deixar nada no prato; Tay terminou primeiro e se levantou para lavar sua louça.
— Quando terminar aí, lava o seu prato — Disse, lavando e enxugando as mãos, deixando o prato no escorredor.
— Lavo sim — raspei o prato, pondo a última garfada na boca e levantei, levando o prato para a pia — Mas e você? Nenhum contatinho?
Ela riu
— Você sabe ...aquela coisa.
Neguei com a cabeça, lavando o prato — Ainda está interessada no Jota?
— Não está em posição de me julgar — ela saiu da cozinha, voltando minutos depois, com a maquiagem retocada e sua mochila nas costas — Agiliza, eu preciso trabalhar.
— Calma! – enxaguei o prato, o colocando no escorredor e enxugando as mãos — E ele?
— Ele quem?
— Não se faz de boba — Sai da cozinha — Tchau, tia! A gente já vai! — Acenei para dona Mariana.
— Vão pela sombra!
Saímos da casa, ela à minha frente e descendo os degraus em direção ao portão, Tay finalmente respondeu a minha pergunta:
— Você sabe, na mesma.
— No dia em que você responder algo concreto sobre a sua vida amorosa vai chover tanto que vão declarar estado de calamidade.
— Haha, engraçadinho — Abriu o portão e passou — Na mesma, a gente tem conversado por DM, saído de vez em quando.
— o Jota é um cara maneiro, ele só não pode se deixar levar pela conversa dos outros caras.
— É... Mas a moto tá com gasolina? Se eu me atrasar por sua causa, Nando..!
Sorri de canto — Para a sua informação, eu tô cheio da grana.
— Às vezes eu esqueço que por trás dessa carinha de anjo vive um traficante — sorri — ... Vamo! — Tay me apressou, empurrando meu braço para que eu tomasse a frente.
Ri — Sem noção.