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João Point of View

— Tudo tranquilo na quebrada? — Caveira segurava uma garrafa de cerveja na mão; peguei uma, virando na boca e em seguida concordando com a cabeça.

— Tudo em ordem.

— Ninguém é louco de mexer com a quebrada com você no comando — Bomba cutucou Caveira com o cotovelo.

— Deixa de viadagem — Caveira respondeu; eu ri.

Através deles, vi Thiagão entrar no bar; me ajeitei na cadeira — Thiagão! — O chamei em voz alta, estendendo a garrafa de cerveja em sua direção — Hoje é tudo na conta do Caveira.

— O seu cú — Caveira me encarou, virando para Thiagão e o cumprimentando com um aperto de mão — Eae, irmão, o que que tá pegando?

Thiagão havia entrado na tropa a pouco tempo, há 5 ou 6 meses atrás, mas já era o queridinho do Caveira — não é difícil ser querido pelo Caveira, você só precisa respeitar a quebrada e encher os bolsos dele; não estou criticando, ele é o chefe.

Só havia uma exceção. Nando poderia encher seus bolsos como fosse, Caveira não daria o braço a torcer.

— Nada — puxou uma cadeira e se sentou ao lado do Caveira — Vim encher a cara, discuti com a mina, sabe como é.

Thiagão era do tipo vereador, em dois meses conhecia e conversava com todo mundo da quebrada; há dois, ele e Carol começaram a sair.

— Ih, o que rolou? — Virei a garrafa na boca.

— Rolou que ela tá gorda e não aceita — Virou o rosto para o Caveira — Paga pra mim também, mano? Nunca te pedi nada.

— Gorda ela sempre foi — ele enfiou a mão no bolso, colocando a grana na frente dele — Chama lá.

— É, cara, cê pegar a mina de um jeito e agora querer ela de outra é difícil de defender.

— Ela é gostosa e tudo — Levantou o braço, chamando o garçom — Mas porra, a mina não fecha a boca.

Bomba colocou uma garrafa de cerveja na boca e estalou a língua — Eu acho que cê é viado.

Caveira começou a dar risada.

— Frescura da porra pra comer buceta — Abaixou a garrafa.

— Cê diz isso porque não tá pegando nenhuma balofa.

— O Jota pode falar, tá saindo com a travesti.

O encarei, não queria entrar nesse assunto.

— Cala a boca.

Thiagão riu — Relaxa, a gente te aceita, viado.

Caveira e Thiagão riram, Bomba sorriu, dando um gole de cerveja.

— Ela é trans, mas não deixa de ser mulher, porra.

Caveira olhou para Bomba de canto de olho; não fez nenhuma questão de esconder. Bomba deu uma risada nasal — Cara, o que o Jota faz com o cú dele não é da minha conta.

Revirei os olhos, enfiando a garrafa na boca.

Bomba virou a cabeça para a porta — pelo visto, o Nando não volta — se virou para frente, deixando a sua garrafa encima da mesa.

— Cara, ele deve chupar sua rola bem demais! — Caveira riu.

— Mais fácil ele chupar a buceta da mina dele — foi mais forte do que eu.

— Isso se ele tivesse uma!

— Vê só se não é o Patati Patatá.

Thiagão riu — O Fernando tava aqui?

— Tava, cê acredita que ele apostou com o Jota que eu não conseguia comer a Clara?

— Tá zoando — Gargalhou, virando o rosto para mim.

— Eu comentei com ele que o Caveira tava querendo trepar com a Clara, ele disse que não ia rolar, e eu ganhei cinquentão.

— Porra!

— O Nando acha que o Caveira presta — Bomba brincou.

— E eu não presto? Eu sou solteiro, ela é solteira. Quem curte mina comprometida aqui não sou eu — Thiagão levantou a mão para pedir outra cerveja — É a última.

— Ah, véi, eu só consegui pedir uma!

— Não vou deixar ninguém cair bêbado antes das seis não, cês tem muito o que trabalhar ainda.

— Chefe é tudo cuzão mesmo, né?

Bomba e eu gargalhamos.

— Vão brincando, vão brincando — Caveira virou a garrafa de cerveja na boca.

MentirososOnde histórias criam vida. Descubra agora