Thiago Point Of View
Estava com as mãos sobre os olhos, devastado, não poderia me arrepender mais.
Ouvi baterem palma à minha porta. Levantei rápido, com um resquício de esperança de que fosse Carol, mas não era.
— Tudo bem, cara? — Caveira cruzou os braços, franzindo o cenho, a minha frente.
— Tô de boa — imitei sua ação, mentindo descaradamente, mas Caveira não jogaria sal na ferida — O que rolou?
— Tão me roubando — Franzi o cenho.
— Te roubando?
— Tá sumindo mercadoria e o dinheiro não tá vindo pra mim.
— E cê não acha que fui eu não, né, mano?
Caveira deu uma risada nasal — claro que não, né, mano? Acha que eu ia estar te contando se achasse?
Suspirei, rindo e abrindo caminho para ele — porra, mano, até assustei — ele passou por mim e eu fechei a porta.
— Tá devendo, carai?
Cruzei os braços — tô nada, grana é o que não me falta.
— Sem noção — ele sentou no sofá, diminuindo o tom da voz por causa da minha vó. Perceber isso me fez soltar um sorriso genuíno; Caveira é sem dúvidas meu melhor amigo.
— Tá, me conta essa história direito.
Me sentei ao seu lado, o ouvindo me explicar. Procurei ficar quieto para conseguir entender.
— Qual foi a droga que sumiu? — perguntei rápido; Caveira franziu a testa para mim.
— Maconha, por quê?
— É porque se fosse outra, você poderia eliminar boa parte dos suspeitos — ele concordou.
— Ou o cara não é burro, ou ele não vende outra coisa.
— Então você não sabe quem foi?
— Quem você acha que foi?
— Cara, pode ter sido qualquer um — virei o rosto para ele — mas pela sua cara.
— O Nando está de moto nova, você sabe que as despesas aumentam.
— Tô ligado... — virei de novo para frente — Pode pá.
— Me recuso a acreditar que um dos meus homens esteja me traindo debaixo do meu nariz, então o que me resta é aquele vacilão.
— E o que você vai fazer?
— Descontar a grana do dinheiro de todo mundo que é pro ladrão aprender que ladrão não vai conseguir nada comigo.
Virei a cabeça para ele de novo — cara, não faz isso — Ele virou a cabeça para mim — a gente trabalha para ter essa grana, não é justo porque alguém roubou todo mundo pagar.
— Fica tranquilo, é por causa do tratamento da sua vó? Eu não vou descontar do seu dinheiro, eu sei que você precisa.
— ...
— O que foi cara? — sorriu — Eu gosto de você — Caveira segurou no meu ombro.
O olhei nos olhos. A discussão com Carol havia me deixado destruído, não era hora para Caveira mostrar sua lealdade. Desmoronei, abraçando ele.
— Ou! Ou! Me solta, viado! Tá me estranhando?!
Gargalhei — Cala a boca, seu merda. Cê é um irmão para mim, sabia?
— Deus me livre ser teu irmão.
Afastei ele com um empurrão, enxugando as lágrimas — Otário.
Caveira cruzou os braços, de cenho franzido — Tá todo estranho, hein, Thiagão? Quero viado perto de mim não.
— Ah, cala a boca, Caveira! Mas não, cara, se for descontar de geral, desconta de mim também, é o justo.
— Não, mano, eu sei que não foi você, vou descontar de você pra quê?
— Não, tô falando sério, ou desconta de todo mundo ou não desconta de ninguém.
— Desde quando cê é moralmente correto?
— Culpa sua.
— Mano, eu tô te estranhando.
Gargalhei, levantando — Quer tirar dinheiro de pobre, pobre tem mais é que se unir. Vai pro baile hoje?
— Vou sim — ele me seguiu com o olhar.
— Qual foi? Tô indo mijar.
— Nossa, se bater uma pra mim, eu mato sua vó.
— Vai se tratar, viado! — o ouvi ri da minha cara quando fechei a porta do banheiro — Filha da puta!