Thiago Point If View
— Conversei com o Caveira para ele liberar outras mercadorias para você, mas ele disse que primeiro você precisa dar resultado só com a maconha.
Jota passava a língua na goma adesiva seda enquanto eu falava. Ele deu uma leve torcida e colocou o beck na boca, tirando um isqueiro vermelho do bolso.
— Falou, mas isso depende mais de você do que de mim.
— Que nada, cara, você tinha que confiar mais na sua capacidade.
— Não sou valorizado nessa porra, quer o que?
— Hoje ele acordou com o caralho — Bomba colocou o pé encima do muro; estavamos vigiando a entrada.
Jota acendeu o Beck, dando um trago.
— Vocês não sabem o que rolou — sorri ao me lembrar que eles não sabiam.
— Lá vem.
Jota guardou o isqueiro, tirando o beck da boca — manda.
— Nando e Caveira caíram na porrada.
— Para a surpresa de...
— Tá zoando?! — Bomba desceu o pé do muro.
Jota franziu o cenho, encarando Bomba de canto, por ter sido interrompido.
— Tô falando sério, o próprio Caveira veio me contar.
— Por quê? — tragou o beck.
— Nando tá dizendo que não talaricou ele.
— Merda — Bomba respondeu rápido, Jota virou a cabeça para ele.
— O Nando não vai com a minha cara, não sou eu que vai defender ele. Tem maconha e seda?
— Tenho — Jota começou a abrir sua pochete.
— Essa história é antiga, mas eu avisei para ele que o Caveira não ia acreditar — Bomba colocou a mão em frente aos olhos — Esse moleque só faz merda.
Gargalhei — é teu amigo, pô.
— Foi sério?
— o Caveira não parecia ter feito ele sangrar — cocei o cavanhaque.
— Aqui — Jota me entregou uma seda com piteira e um saquinho de maconha, peguei, tirando meu isqueiro do bolso.
— Valeu — enfiei a mão no bolso, tirando 20 reais e entregando na mão dele.
— Não precisava, a maconha era minha.
— Amigo se ajuda, cara, fica susa.
— Queria eu ter grana para sair distribuindo para os meus amigos assim.
Bomba estava em silêncio, com um semblante preocupado. Não demorou para que ele levantasse do muro.
Jota deu um trago — você sabia dessa versão do Nando?
— Sabia, ele me contou quando eu fui atrás dele depois do Caveira ter espancado ele.
— Então conta essa história direito.
— Eu passei a tarde com o Caveira, pelo o que eu entendi, o Nando disse para o Caveira que estava testando a fidelidade da Juliana para provar que ela era infiel — me intrometi.
Bomba colocou as mãos no bolso — ele disse que viu ela traindo ele com um cara quando tava voltando para casa em uma noite de baile. Disse que saiu mais cedo; eu lembro que isso aconteceu; e que se deparou com a cena.
— E a honesta reação dele foi mandar DM pra Jully?
Não pude deixar de rir — Porra, uma gostosa infiel, você não faria o mesmo?
Jota riu, colocando o beck na boca, Bomba sorriu, negando com a cabeça — vocês não prestam mesmo.
— Quem mandou a DM não fui eu.
— Mas eu realmente acho que o Nando tenha sido tapado a esse ponto.
— Por quê? — Jota deu um trago e tirou o baseado da boca.
— Ele e o caveira eram melhores amigos...
— Agora sou eu — Interrompi.
Bomba me deu um tapa — Fica quieto que eu tô falando.
— Olha a liberdade — Apontei o dedo na cara dele e comecei a bolar o meu neck.
— Eles eram melhores amigos, mas o Caveira amava a Jully, ele precisava provar a traição e não tinha foto. No dia que ele voltou mais cedo para casa foi porque o celular tinha descarregado e a mãe dele tem diabetes. Cê sabe, preocupação dobrada.
Concordei com a cabeça, sabia o que era ter alguém com problemas de saúde em casa.
Jota concordou com a cabeça — Que situação, hein, cara? Caveira nunca vai acreditar nele a essa altura do campeonato.
— Mais vacilão você que mandou ele não contar nada.
— O Caveira tava puto com ele, eu pensei que com o passar do tempo, a raiva fosse diminuir. Eu falei que não valia a pena contar enquanto o Caveira odiasse ele, e adivinha?
Jota tirou o baseado da boca, soltando fumaça — mas se for verdade mesmo, eu entendo o cara. Porra, imagina, você tenta ajudar seu melhor amigo um dia e no outro ele te odeia e cê fica nessa situação por um ano?
Bomba concordou com a cabeça e eu imitei a ação.
— Eu vou atrás do Nando.
— Falou, cara, se cuida.
Acompanhei sua saída com a cabeça, virando para a frente para passar a língua na goma da seda. Selei com cuidado e dei uma leve torcida na ponta para fechar o baseado, o colocando na boca e tirando o meu isqueiro do bolso.
— Acha que isso do Nando é verdade mesmo? — acendi o baseado, dando uma tragada e guardando o isqueiro azul.
Jota deu de ombros, tragando o cigarro, soltando fumaça e sorrindo para mim — Pergunta para ele.
Chutei devagar a perna dele — maconheiro — respondi, sorrindo, soltando fumaça.