Capítulo 5 - Combustão

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E o toque de uma mão acendeu o pavio
De uma reação em cadeia de contra-ataques”

(Mastermind - Taylor Swift)

Combustão (s.f.): Ação ou efeito de queimar, de provocar fogo; Estado de um corpo que se consome ardendo, produzindo calor.

Provavelmente, a reação mais simples que aprendemos em uma aula de química do ensino médio é a combustão. Algo que queime, oxigênio, uma fonte de calor e, então, voilà! Fogo. Em qualquer lugar e a qualquer momento do espaço-tempo que essas três coisas existirem juntas, terá uma uma combustão.

Outra característica dessa reação? Ela é rápida e ocorre em cadeia, tal qual uma fileira de dominós caindo após um peteleco. Basta um corpo em chamas encontrar outro corpo inflamável, e o fogo começará a se alastrar. E assim sucessivamente. Cada vez mais corpos. Cada vez mais longe. Cada vez mais fogo.

O mesmo acontece com pessoas.

Se sua mente é o lar do caos, não importa o quão bom seja seu coração, suas ações serão o reflexo dessa confusão. E quanto mais pessoas estiverem por perto, mais pessoas serão machucadas pelos seus atos. E quanto maior e mais intenso for o amor entre vocês, maior será a perda.

Ah, mais um detalhe: depois de feito, o estrago é permanente.

E a verdade? Da minha vez, eu não pude impedir a combustão porque eu era o próprio fogo. E quando eu me dei conta, as vidas de todos estavam consumidas pelas minhas chamas.

A praia daqui é bem extensa, tanto que passam ruas e deques de madeira sobre ela. O Sol reflete na areia um amarelo forte e que traz um contraste perfeito para as ondas azuis espumantes. São tantas gaivotas voando pelo céu que parece que elas estão ensaiando uma coreografia sincronizada. Ao meu lado, crianças pedem dinheiro para brincar no píer, meninas se lambuzam com sorvetes de chocolate, garotos pulam na água com pranchas de surf, mulheres espalham protetor solar sobre o rosto e homens abrem guarda-sóis coloridos.

Entre tanta cor, barulho e calor, estendo minha toalha no meio da areia e coloco minha ecobag em cima dela para que o vento forte não a faça voar. Ainda em pé, recebendo a maresia em meu rosto, eu tiro a blusa com a palavra "vegan" estampada e a saia branca que estou vestindo.

Escolhi usar um biquíni que comprei durante uma viagem que fiz para o Rio de Janeiro. Na época, eu nem queria levar nada, mas a loja colorida, com um letreiro de madeira e plantas penduradas, me chamou muita atenção. Não posso negar que a peça confeccionada é mesmo uma das mais bonitas que tenho e, por isso, merecia ser a primeira a conhecer uma paisagem californiana.

É estranho como o choque de culturas, que eu só via pela internet, existe e é perceptível. Olhando para as outras mulheres que estão na praia, percebo que elas são bem mais magras do que o eu, e que, ainda assim, seus biquínis têm o dobro do tamanho do meu. Há um tempo atrás isso me incomodaria, só que, agora, gosto de pensar que cada uma delas está tão preocupada com a própria existência, que não sobra tempo para prestarem atenção em mim. A insignificância é libertadora. Então, me sinto mais tranquila em estar sozinha, seminua e aberta a olhares julgadores de desconhecidos.

Me deito de bruços na areia e jogo meu cabelo loiro sobre os ombros. O Sol queima contra minha pele, mas eu amo essa sensação. Sinto que poderia até dormir desse jeito.

Retiro da bolsa um dos muitos livros que trouxe comigo do Brasil. Procuro a última página marcada para começar a ler pela trigésima vez uma fantasia da Jennifer L. Armentrout. Esse livro dela, em específico, eu encontrei na versão em inglês em um sebo e o tenho usado para expandir meu vocabulário no idioma. Não que falar sobre reinos, guerras e poderes seja tão útil no meu dia a dia, mas nunca se sabe.

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⏰ Última atualização: Nov 06 ⏰

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