°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°Discussão entre Hanna e Lizzie antes do casamento
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°Era verão, e Lizzie foi visitar Hanna em seu apartamento. Era um lugar pequeno, com uma sala, um banheiro onde mal cabia uma pessoa, um quarto simples e uma cozinha ainda mais modesta. O piso era de madeira, e nas paredes havia várias pinturas feitas por Hanna. Tudo estava um pouco bagunçado. Hanna estava na janela, fumando.
— Já te disse que devia parar de fumar? Essa fumaça toda fede — disse Lizzie, enquanto se aproximava de Hanna e pegava o cigarro, amassando-o no chão.
Hanna apenas pegou outro cigarro, acendeu e tragou, soltando a fumaça pela janela.
— Por que fuma tanto? — Lizzie perguntou, já desistindo de tentar fazer a amiga parar.
— Suicídio a longo prazo — respondeu Hanna, de forma sarcástica.
— Haha, muito engraçado. Pare de ser assim — Lizzie disse, sentando-se numa cadeira.
— E quando você vai parar?
— Parar o quê?
— De ser falsa. Está namorando? Jura? E logo com um cara igual a mim? — Hanna perguntou, com raiva.
— Ele não é igual a você.
— E o que ele tem de diferente?
— Ele é homem!
— Além do gênero, o que muda? Nada. A verdade é que você está usando ele para me substituir, mas adivinha? Ele jamais será eu — Hanna gritou com Lizzie.
— Não estou tentando te substituir, nunca faria isso. Eu gosto dele, será que não entende?
— Gosta, mas não ama. Só está enganando o pobre coitado.
— Ele também não me ama. Ama outro, mas é algo impossível. Estamos só nos ajudando — Lizzie rebateu, já chorando.
— Outro? Ele é igual a nós?
— NÃO! Ama outra pessoa. Não estou aqui para falar dos relacionamentos antigos do meu namorado.
— Lili, se ele é igual a nós, podemos nos juntar e fugir…
— Ele não é igual a nós, pare de besteira. Fugir? Está louca?
— Louca? É isso que acha que sou? Só não quero ficar aqui. Vem comigo, largue tudo e vamos embora — disse Hanna, desesperada.
— Hanny, eu vou casar. Com o Rodrigo. Vim aqui te convidar.
— Casamento? Tipo de verdade? Com vestido, véu e grinalda, chuva de arroz, lua de mel, buquê? Um casamento? VOCÊ VAI CASAR? — Hanna estava à beira de enlouquecer e já estava no terceiro cigarro.
— Sim…
— Por quê? Você é jovem ainda, casar tão cedo é loucura.
— Ah, isso é loucura? E você querer fugir para sei lá onde não é?
— Eu só quero que fiquemos felizes.
— E por que não aqui?
— Com ele, não. Você vai casar, e eu? O que eu serei? Sua amante?
— Não! Céus, Hanna, jamais te colocaria nessa posição.
— Está me colocando em uma pior. Por que ele e não eu? É porque sou mulher?
— É tudo, Hanna. Você realmente acredita que isso seria possível? Não estamos em um conto de fadas. Você sabe bem o que aconteceria. Sua mãe te arrastaria para um hospício, e a minha mãe me enfiaria em um convento. Estou apenas evitando uma dor maior.
— Fugimos antes. Vamos para a Argentina, Paris, Estados Unidos talvez. Dizem que lá é a terra da liberdade.
— E você acha que o ódio não atravessa fronteiras? Onde estivermos, seríamos massacradas.
— É medo, então? Seu medo é maior que o seu amor por mim.
— Só quero manter a gente segura. Eu vou pegar esse amor, dobrar e guardar no fundo da minha alma. Por mais que doa, eu vou superar.
— Faça isso. Jogue nossa história no lixo.
— Hanna, você está vivendo em uma fantasia. Acorde. Acorde agora.
— ESTOU, ESTOU VIVENDO EM UMA DROGA DE FANTASIA! SÓ PORQUE AMO OUTRA MULHER, AUTOMATICAMENTE ESTOU PROIBIDA DE SONHAR? — Hanna gritou com grande dor, enquanto abria outra caixa de cigarros.
— Não é sobre sonhar, e sim sobre entender a realidade.
— Eu entendo, mas não aceito. Por que minha forma de amar é errada? Não vou aguentar esse ódio contra mim e ficar quieta, não sou obrigada a isso.
— Certo, mas o que você faria sozinha? Quer mudar o mundo como? O ódio não é fácil de ser destruído.
— Não vou destruir o ódio. Só desejo viver com um pouco de dignidade, sem precisar me esconder.
— Tá querendo ser morta? Presa? Hanna, iriam te torturar.
— Não quero viver com medo, quero ser livre, quero a liberdade de ser quem eu sou.
— Eu admiro sua bravura. Sei o quanto é valente e sei que vai conseguir o que quer. Aliás, você é Hanna, e consegue tudo o que quer. Mas eu não vou contigo, não desta vez. Não tenho sua coragem, eu quero segurança — Lizzie disse de forma calma, enquanto se aproximava de Hanna e encostava sua testa na dela.
— Você vai casar, né? Então eu vou ser a madrinha e a dama de honra.
— O quê?!? Hanna, não, seria terrível.
— Ou é isso ou eu não vou. É isso que quer? Que sua querida amiga falte ao seu casamento? Eu vou ser a madrinha.
"Queria que fosse a noiva," Lizzie pensou antes de responder.
— Certo, você vai ser a madrinha e a dama de honra. Só isso ou quer outra exigência, majestade?
— É só isso — Hanna respondeu, enquanto abraçava a amiga.
Depois disso, Lizzie foi embora, se jogou na cama e chorou boa parte da noite.
Hanna passou a noite no banheiro, vomitando enquanto imaginava sua vida sem Lizzie. Afinal, ela iria embora, e as duas não se veriam novamente.
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Hanna e Lizzie não tem o costume de brigar, então apesar desse diálogo não parecer uma discussão, para elas foram
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Memórias de um quase algo
RomanceHanna e Lizzie são amigas desde de sempre, mas conflitos internos e desejos reprimidos podem ser o motivo da separação delas