Capítulo 2: Enfrentando as Sombras

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Depois daquela primeira noite na igreja, algo dentro de mim mudou, mas eu ainda não sabia o quanto essa transformação iria mexer com tudo o que eu acreditava. A sensação de paz que senti ali foi tão inesperada e acolhedora que, no fundo, eu desejava que nunca fosse embora. Pela primeira vez, eu percebia a presença de algo maior, algo que parecia realmente se importar comigo de um jeito que eu nunca tinha sentido. No entanto, isso não significava que tudo na minha vida mudaria da noite para o dia.

Os dias seguintes foram um misto de esperança e dúvida. Eu queria acreditar que aquele sentimento de alívio e conforto seria suficiente para superar todas as minhas angústias, mas, ao mesmo tempo, sentia que isso era bom demais para ser verdade. Às vezes, me perguntava se eu estava apenas me iludindo, criando uma falsa segurança para suportar as dificuldades. E, além disso, tinha medo de abrir o coração e enfrentar as dores e memórias que eu guardava tão fundo.

A verdade é que eu ainda carregava sombras do passado, que pareciam sempre me puxar para baixo. Decidi então que precisava entender melhor o que era essa fé que começava a surgir em mim, e talvez descobrir um propósito maior por trás de tudo o que já tinha vivido. Foi assim que comecei a ir à igreja todas as semanas, com uma vontade enorme de encontrar respostas. Eu era bem cética sobre muitas coisas, mas senti que devia dar uma chance para essa nova experiência.

Certa vez, depois de uma das reuniões, eu vi que o pastor estava conversando com algumas pessoas. Tomei coragem e me aproximei, e ele percebeu que eu estava esperando. Assim que terminou, ele veio até mim com um sorriso acolhedor e perguntou se eu precisava de alguma ajuda. "Pastor, eu... eu não sei muito bem como falar sobre isso, mas sinto que minha vida está cheia de coisas que eu ainda não entendo, de dores que eu não consigo curar," disse, tentando não deixar minha voz falhar. Ele me olhou com compreensão e disse: "Marina, às vezes, essas sombras são partes da jornada. Elas não desaparecem de uma vez, mas Deus nos ajuda a olhar para elas de um jeito diferente. Você não precisa lidar com tudo sozinha."

Essas palavras ficaram ressoando em mim por dias. Eu não precisava enfrentar tudo sozinha. Era uma ideia estranha para alguém como eu, que sempre acreditou que a força vinha apenas de dentro, que dependia apenas de mim mesma. Então, aos poucos, comecei a me abrir para algo que nunca havia considerado: a possibilidade de me apoiar em Deus, de entregar as minhas dificuldades e inseguranças, de aceitar que eu tinha limites, e que estava tudo bem em não ter controle sobre tudo.

Foi então que comecei a entender um pouco mais sobre como Deus trabalha. Não era só uma questão de milagres ou de intervenções mágicas. A presença d'Ele estava ali, guiando cada pequena mudança, me ajudando a enfrentar o que eu mais temia. Comecei a refletir sobre coisas que eu sempre havia evitado lembrar, sobre feridas que pareciam enterradas, mas que, na verdade, ainda estavam vivas dentro de mim. E Deus parecia estar ali, ao meu lado, guiando-me para essas memórias, como quem segura a mão de alguém que ainda não sabe andar.

Em uma noite, enquanto tentava dormir, lembrei-me de um episódio específico da minha infância. Eu era pequena, talvez tivesse uns sete anos, e minha mãe tinha perdido o emprego. Foi uma fase difícil para a nossa família, e eu me lembro de vê-la chorando em um canto da casa, enquanto achava que ninguém estava vendo. Naquele momento, senti uma tristeza que parecia maior do que eu poderia suportar, como se carregasse a dor dela também. Desde então, aquele medo de perder tudo, de enfrentar dificuldades intransponíveis, ficou guardado dentro de mim. Talvez fosse por isso que eu sempre me dediquei tanto ao trabalho, tentando compensar essa insegurança que eu nem sabia que carregava.

Aos poucos, percebi que essa lembrança, e outras tantas, estavam profundamente ligadas às inseguranças e ao medo que eu sentia em minha vida adulta. Foi difícil, mas comecei a aceitar que muitas das minhas preocupações vinham dessas feridas do passado. E, no meio disso, fui percebendo que Deus queria me mostrar que eu não precisava mais carregar esse peso sozinha. Ele estava ali, para me ajudar a soltar esses fardos.

Eu ainda me sentia frágil, insegura, e, muitas vezes, duvidava se realmente merecia essa ajuda divina. "Por que Deus se importaria comigo?", eu pensava. Mas então, algo incrível começou a acontecer. Em momentos de maior tristeza ou incerteza, como se fosse uma brisa suave, eu sentia uma calma inexplicável. Era como se Ele estivesse ali, colocando Sua mão em meu ombro, me lembrando de que eu não estava sozinha, de que Ele estava comigo.

Essas experiências foram profundas e, ao mesmo tempo, desafiadoras. Não era fácil entender e aceitar que Deus estava trabalhando em mim. E, mesmo com essa fé ainda pequena, comecei a perceber mudanças reais. As sombras ainda existiam, mas já não pareciam tão ameaçadoras. Era como se uma luz estivesse sendo acesa pouco a pouco, iluminando cada canto escuro do meu coração, me mostrando que eu podia transformar a dor em algo mais.

Neste capítulo da minha jornada, aprendi a confiar mais em Deus e a me abrir para o que Ele tinha a me ensinar. Foi um processo lento, com muitas dúvidas e resistências. Mas, aos poucos, Ele foi me mostrando que não importa o quanto nossas sombras pareçam grandes ou sombrias, elas nunca são maiores do que a Sua luz. Aprendi a entregar a Ele tudo o que eu tinha de mais doloroso e sombrio, e, nesse processo, comecei a me redescobrir.

Com o tempo, percebi que essa caminhada seria longa, que eu ainda teria que enfrentar muitos medos e dúvidas. Mas, agora, eu não estava mais sozinha. Eu havia encontrado um companheiro fiel, alguém que não apenas me guiaria, mas me ensinaria a enxergar a vida e a mim mesma com olhos de amor e de esperança.

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