A I: O Chamado.

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O crepúsculo se estendia por Salem, tingindo o céu de um laranja profundo, como se o próprio horizonte estivesse em chamas. O ar estava impregnado com o perfume de folhas secas e a umidade da terra, um lembrete sutil das histórias de bruxas que pairavam sobre a cidade como uma sombra. Os sinos da igreja soavam ao longo, marcando a passagem do tempo com uma melodia melancólica. Era uma noite propícia para segredos, e o destino das bruxas parecia iminente.

Uma brisa fria soprou, trazendo uma sugestão do passado. As sombras dançavam sob as árvores centenárias, como se fossem figuras de um tempo antigo, testemunhas de rituais e reuniões clandestinas. Era neste cenário que as bruxas, convocadas por uma força misteriosa, deveriam se encontrar.

Em diferentes locais da cidade, cada uma das bruxas sentia um puxão em sua essência mágica, à sua maneira.

Agatha Harkness, às margens da floresta, observava quando a vela negra diante dela flutuava em sua direção, sua chama tremendo como se estivesse viva. O desenho de um pentagrama na base da vela parecia brilhar com uma luz interna, pulsando em harmonia com o coração de Salem.

"O que você quer de mim?" pensou, seus olhos brilhando com curiosidade e desconfiança. Enquanto a magia antiga pulsava na vela, um pressentimento envolvia seu coração. "Nicholas..." sussurrou, lembrando-se do filho que fora tirado dela, como um eco de sua própria perda. A dor ressoava em sua alma, misturando-se à expectativa da noite.

Em outra parte, Wanda Maximoff, sentada na varanda de sua casa, acariciava a barriga enquanto encarava o objeto brilhante que havia chegado sem comentários, seu olhar distante. As ondas de energia mágica dançavam ao seu redor, influenciando o bebê que carregava. O presente misterioso parecia pulsar, como se tivesse tido vida própria.

— Nat! - chamou a esposa, sua voz tingida de inquietação - Sinto que algo grande está prestes a acontecer- A inquietação em seu tom fez Natasha aparecer na porta, os olhos cheios de preocupação, enquanto também segurava uma vela semelhante à de sua amada.

— O que você quer dizer? - disse Natasha, consciente de que, mesmo em meio à gravidez, Wanda tinha um instinto refinado.

— Eu não sei, mas... isso não é só sobre nós - disse a grávida, levantando-se, confusa ao dar os primeiros passos para se deixar guiar pelas chamas brilhantes que pareciam induzi-las a seguir.

Lilia Calderu, por sua vez, sentiu um grande aperto no peito se formando, como se estivesse fora dos eixos da terra. A abertura foi tão intensa que fez com que derrubasse todas as cartas do Tarot que segurava, restando apenas a carta da "Roda da Fortuna", ao lado da estranha entrega brilhante feita mais cedo naquele dia, que, no mesmo instante, passou a imensa inquietação ao tilintar da carta no chão.

— O que está acontecendo aqui? Me sinto... - E antes que pudesse terminar, já estava imersa em um transe profundo, deixando-se guiar por artefatos brilhantes, tão familiares em rituais antigos.

Naquela noite, as sete velas conduziram sete bruxas escolhidas a dedo pelos caminhos sagrados do coração da floresta de Salem. As bruxas se reuniram em um círculo de pedras antigas, um local sagrado na cidade, onde as energias da natureza e do sobrenatural convergiam. O cheiro da terra molhada misturava-se com o aroma da cera que derretia das velas, criando uma atmosfera eletricamente carregada.

À medida que cada uma chegava, o esforço era palpável. O clima estava carregado de expectativas e desconfiança. Alice Wu, a bruxa de sangue, fez questão de ser a primeira a quebrar o silêncio.

— Estamos aqui por uma razão. Alguém quer que nos unamos, mas devemos perguntar: quem é e o que realmente deseja de nós? - Ela teve o olhar diretamente para Agatha, cuja fama de ladra de poderes a precedia.

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