A I: O passado nunca dorme

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A brisa fria da noite invadia a sala de Lilia, fazendo os corpos tremerem com um sussurro suave. Agatha lançou um olhar para a janela fechada, sentindo um arrepio involuntário. No círculo de bruxas reunidas, cada uma ligada de uma tensão não dita, como se o ar ao redor delas estivesse prestes a se partir de revelações e suspeitas.

Lilia estava posicionada no centro do círculo. Seus olhos se movendo rapidamente, como se rastreassem algo invisível. A expressão no rosto dela era de inquietação. Embora fosse conhecida como uma bruxa da adivinhação, nunca antes o semblante dela tinha carregado tanta intensidade — algo a mais parecia pulsar dentro dela, algo que ela própria ainda não havia decifrado completamente.

— Eu vejo sombras do que fomos e o que somos - murmurou Lilia, com a voz etérea, como se viesse de outro tempo. Ela segurava uma pedra escura, rodeada de símbolos gravados, e os dedos dançavam sobre a superfície com uma habilidade ritualística - Elas dançam ao meu redor... e todas têm nossos rostos.

— Nossos rostos? - Agatha disse enquanto levantou uma sobrancelha, intrigada.

Rio se mantinha quieta no canto da sala, os olhos semicerrados, sem demonstrar qualquer tipo de sentimento. Mas era convincente, para quem a conhecia bem, que ela estava alerta, atenta a cada palavra de Lilia. A bruxa verde original sabia, desde muito tempo, que existia uma lenda, uma história sobre sete bruxas destinada a lutar contra algo muito maior que elas. Embora nunca tenha realmente acreditado nessa profecia, a inquietação de Lilia a fazia vacilar.

— Você sente isso, não sente? - Lilia continua, fechando os olhos e inspirando profundamente - Como se o passado e o presente estivessem se chocando... como se, em algum ponto da linha do tempo, nós nos conhecemos todas. Não apenas hoje. Não apenas aqui.

A sala caiu em um silêncio profundo. A atmosfera estava compartilhada de eletricidade. Natasha, até então silenciosa, abriu a mão de Wanda, seus dedos entrelaçados numa tentativa silenciosa de oferecer apoio.

Agatha, com uma expressão cética, parcialmente interrompida.

— Então você está dizendo que fomos... outras? Em outras vidas?

Lilia abriu os olhos, fixando-os diretamente em Agatha, e a intensidade do olhar fez Agatha recuar um passo involuntário

— Sim. Fomos ligadas por magia mas também há ligação sanguínea, não é mesmo? - Diz alterando seu olhar para bruxa verde que ainda permanecia quieta no canto da sala - Mas algo nos levou, separou nossas almas e nossos destinos. E agora o ciclo recomeça. Precisamos nos unir para enfrentar o que está por vir, ou seremos destruídas.

A declaração era direta e implacável. A expressão de Lilia se suavizou, mas não sem esconder a gravidade da situação. Ela sentiu a energia pulsar ao redor, mas sabia que ainda não havia revelado o pior. Com um aceno sutil, pediu que todos se aproximassem mais do círculo. As outras se entreolharam, desconfiadas, mas seguiram o pedido.

Foi então que Lilia se preparou para recitar a profecia, uma que havia recebida em sonhos repetidas vezes nos últimos dias, mas que só agora fez completo sentido:

"Sete são as que mantêm o equilíbrio,
Uma que carrega a morte em seus dedos,
Uma que conhece os segredos do fogo,
Outra que se deita com a terra e ouve sua voz.
A quarta que sente o poder das águas,
A quinta que lê o futuro com os olhos fechados.
A sexta carrega o peso do tempo e do sangue.
E a sétima é a chama que reacende a esperança.
Todas deverão se unir na noite das sombras,
Ou perecer diante da dor que jaz das profundezas."

Nossa ChamaOnde histórias criam vida. Descubra agora