Nossa Chama

A I: A perda, A queda

A densa neblina enroscava-se ao redor das bruxas, apertando como um abraço sombrio que roubava o ar, silenciando até mesmo os ruídos habituais da floresta. Era como se a própria natureza prendesse a respiração, aguardando um evento obscuro e inevitável. Lilia despertou de um sono profundo, os olhos sombrios refletindo o presságio que a dominava. O olhar que lançou ao grupo estava carregado de uma seriedade que eletrificou o ar ao seu redor.

— Há algo... algo terrível que precisa ser enfrentado — murmurou, a voz baixa, mas o suficiente para arrepiar a pele de cada uma.

Wanda sentiu sua mão ser apertada com força por Natasha. As duas se entreolharam, uma combinação de amor e desespero refletindo-se em seus olhares. Natasha, embora visivelmente abalada, manteve o semblante firme e os olhos fixos na escuridão ao redor, tentando enxergar através das sombras e ameaças invisíveis, buscando com todas as forças seguir seu instinto.

— Seja o que for, enfrentaremos juntas — afirmou Natasha, tentando ignorar o tremor na própria voz, mais para confortar Wanda do que a si mesma.

À medida que o grupo avançava, a névoa que antes apenas obscurecia a visão transformou-se em algo quase tangível, um corredor frio e etéreo guiando-as com as mãos invisíveis. Cada passo parecia uma sentença, e a floresta pulsava como se estivesse viva, vibrando em sintonia com os batimentos das bruxas.

Foi então que Wanda parou abruptamente, ofegante. Uma dor aguda rasgou seu ventre, profunda e visceral, como se algo tentasse arrancar a vida que carregava. Natasha segurou seu braço, mas um grito de dor escapou de seus lábios ao sentir a mesma dor intensificar-se dentro dela. Ambas cambalearam, compartilhando um tormento inexplicável e inquietante.

— Alguém... ou algo... está nos testando — disse Jen, visivelmente assustada, com os olhos arregalados enquanto observava as sombras ao redor.

Instintivamente, as bruxas formaram um círculo ao redor de Wanda e Natasha, seus rostos sérios e focados, entoando encantamentos de proteção. Lilia, manteve-se em posição de liderança, ergueu a voz em um antigo encantamento, convocando as forças da floresta e da terra, enquanto Alice a auxiliava, proferindo encantamentos primevos de proteção. Com cada palavra pronunciada, o ar ao redor pulsava em resposta, às energias do coven unindo-se em uma sinfonia de magia e proteção. Mas algo sombrio e invisível parecia desafiá-las, resistindo às tentativas de proteção.

E então vieram as visões. Cada uma das bruxas foi arrancada da realidade e confrontada com imagens que pareciam extraídas de seus pesadelos mais profundos.

Alice viu Wanda e Natasha deitadas no chão da floresta, pálidas e imóveis, o ventre de Wanda vazio, o bebê desaparecido. Um grito de horror ecoou dentro dela, mas estava paralisada, impotente. Não importavam feitiços, proteções ou preces, era como se algo tivesse roubado o destino da criança das mãos de todas elas.

Ao seu lado, Jen foi confrontada com outra cena desoladora — sangue escorria do ventre de Wanda, encharcando a terra abaixo, enquanto o coven se fragmentava ao redor, perdido e solitário, carregando o peso de um fracasso irrevogável. Jen sentiu um peso da culpa esmagá-la, questionando sua força e seu papel na união do grupo.

Enquanto isso, Wanda sentia como se seu bebê estivesse sendo arrancado de seu próprio ventre para outra morada; uma dor enlouquecedora a consumia. Natasha também parecia estar sendo rasgada por dentro, com a dor crescendo de forma estúpida e rápida, fazendo-a gritar de pavor.

Lilia, enquanto entoava o encantamento, foi puxada para uma visão diferente. Ela viu duas crianças — um menino e uma menina — correndo alegremente pela clareira, o som de suas risadas cristalinas ecoando como uma canção de esperança. Mas, ao estender a mão para tocá-los, as crianças se dissolveram em fumaça, deixando um vazio gélido em seu coração. Era uma visão envolta em mistério, um futuro incerto e doloroso.