Parte 2: A EncruzilhadaA pausa dura apenas um segundo, mas parece se estender por uma eternidade. As memórias da guerra são fantasmas que se esgueiram entre os olhares trocados, silenciosos e sufocantes.
Harry sente o peso de Draco e os outros o observando. Ele sabe que nenhum deles quer estar ali, presos em lembranças que a sociedade ao redor insiste em fingir que já foram esquecidas. Ele se aproxima do grupo de ex-Sonserinos, e Ron e Hermione o seguem de perto, hesitantes, como se cada passo trouxesse à tona algo perigoso.
Draco ergue o queixo ao ver Harry se aproximar, o olhar desafiador, mas seus olhos mostram outra coisa: exaustão, uma súplica silenciosa que ele não ousa admitir nem para si mesmo. Pansy e Blaise olham com cautela, mas há um reconhecimento ali – uma compreensão amarga de que, gostem ou não, foram quebrados pelas mesmas batalhas.
“Vocês também têm dificuldade em dormir?” A voz de Hermione quebra o silêncio, tão baixa que quase se perde no ruído da rua.
Pansy encara Hermione com uma intensidade inesperada. A pergunta, tão simples e tão crua, parece remover uma camada das barreiras que os separam.
“Dormir virou um privilégio”, Pansy responde, o tom seco, mas seus olhos traem a dor por trás das palavras.
Harry sente um nó na garganta. Ele vira o olhar para Draco. As brigas de anos anteriores se tornam irrelevantes naquele momento. “Às vezes, quando fecho os olhos... é como se ainda estivesse lá, preso no meio da guerra,” ele admite, sua voz rouca, quase um sussurro.
Draco evita o olhar de Harry. Ele se sente vulnerável demais, e o ódio que cultivara por anos não é forte o suficiente para mascarar isso. “É, Potter. A gente tem nossos próprios demônios.”
Blaise solta uma risada amarga. “E parece que esses demônios estão mais vivos do que a gente.” Ele cruza os braços, tentando disfarçar o tremor nas mãos. “Às vezes, penso se algum de nós vai conseguir realmente seguir em frente.”
Ron finalmente toma coragem para falar, seu tom mais suave do que Draco já ouvira. “Acho que ninguém sabe como fazer isso, Blaise. Estamos só... tentando.” Ele troca um olhar rápido com Hermione e Harry. É uma admissão que custa caro, mas necessária.
O grupo fica em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos, suas cicatrizes invisíveis começando a se entrelaçar. É Pansy quem quebra o momento, virando-se para Hermione com uma expressão inesperadamente suave. “Você ainda faz poções para dormir?”
Hermione assente, uma expressão triste no rosto. “Sim, mas... elas não ajudam muito.”
Draco olha para o céu, como se tentasse escapar daquela conversa que ameaça remover suas defesas. Ele se sente vazio, como se as palavras não conseguissem preencher o que foi tirado dele.
“Talvez seja só isso, então,” murmura Draco, num tom quase imperceptível. “Não há paz para nós.”
Harry sente algo no peito apertar ao ouvir aquelas palavras, tão sinceras e tão desesperadas. Ele estende a mão, quase sem pensar, e toca o ombro de Draco. “Mas, talvez... a gente possa tentar encontrar algum alívio juntos. Pelo menos, não precisamos carregar isso sozinhos.”
Draco olha para a mão de Harry, o rosto dividido entre a raiva e a rendição. Ele acena de leve, não confiando em sua voz.
E assim, o grupo se reúne sob uma nova aliança silenciosa – não mais inimigos, nem aliados, mas sobreviventes, presos entre a sombra da guerra e a esperança de um amanhã incerto.
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Entre Sombra E Luz
FanfictionSerá mesmo que tudo vai bem ? Está é uma fanfic curta que se passa após a grande guerra de Hogwarts 05/11/2024