O ginásio do Minas Tênis Clube estava lotado. Mais uma final do Campeonato Brasileiro de Clubes, e a pressão sobre as jogadoras do Gerdau Minas era imensa. Para Rosamaria Montibeller, cada partida era um desafio, mas também uma oportunidade de se provar. Ela sempre foi uma das mais determinadas em quadra, mas naquele dia, algo mais fazia seu coração bater mais rápido. Algo que ia além do vôlei, algo que envolvia uma pessoa em especial.
Caroline Gattaz, a capitã e alma do time, era mais do que apenas uma colega de equipe para Rosamaria. Gattaz tinha experiência, liderança e uma paixão que contagiava todos ao seu redor. Rosamaria admirava tudo isso, mas, com o tempo, aquela admiração havia se transformado em algo mais profundo, algo que ela lutava para manter escondido.
Naquela noite, com os olhos fixos na quadra e o coração acelerado, Rosamaria sabia que estava não só lutando pelo título, mas também pelas emoções que, até então, mantivera em silêncio.
O jogo começou acirrado. A equipe adversária, repleta de talentos, estava determinada a derrubar o Minas. Mas Gattaz, como sempre, manteve a calma. Seus bloqueios eram precisos, suas palavras de incentivo, fortes. Rosamaria, por outro lado, estava cheia de energia, vibrando a cada ponto conquistado.
Durante um tempo técnico, Gattaz, com sua postura imponente, chamou Rosamaria de lado. "Você está jogando bem, mas precisa ficar mais calma na defesa. Confie no time."
Rosamaria, que sempre acatava as instruções da capitã, assentiu, mas mal conseguia disfarçar o quanto a proximidade de Gattaz a afetava. O jeito como ela a olhava, com uma confiança tranquila, fazia o coração de Rosamaria acelerar.
De volta à quadra, Rosamaria tentou se concentrar. Sabia que não podia se distrair, especialmente em uma final. Mas a presença de Gattaz ao seu lado, liderando o time, mexia com suas emoções.
O jogo foi intenso, ponto a ponto, com ambas as equipes dando tudo de si. No último set, o placar estava empatado e a tensão no ginásio era palpável. Rosamaria, determinada a vencer, preparou-se para um saque decisivo. Ela sabia que, se errasse, tudo poderia desmoronar.
Antes de sacar, sentiu uma mão em seu ombro. Gattaz, com um olhar confiante e suave, disse baixinho: "Eu confio em você."
Aquelas palavras foram o suficiente para acalmar o turbilhão de emoções que Rosamaria sentia. Ela respirou fundo, lançou a bola ao ar e sacou com perfeição. O ponto foi do Minas, garantindo a vitória e o título. O ginásio explodiu em comemoração, e as jogadoras se abraçaram, celebrando o triunfo.
Em meio à euforia, Rosamaria foi envolvida por Gattaz em um abraço apertado. O contato com a capitã, naquele momento, foi diferente. Havia algo a mais, algo que ambas sentiam, mas nunca haviam falado.
Depois da celebração, quando o ginásio começou a esvaziar e as luzes se apagaram aos poucos, as jogadoras se preparavam para o jantar da vitória. Mas Rosamaria, ainda com o coração acelerado pela emoção do jogo e do abraço de Gattaz, ficou um pouco para trás, na quadra vazia, absorvendo o momento.
Foi quando Gattaz se aproximou. "Você jogou muito bem hoje", disse ela, com o mesmo sorriso confiante que fazia o coração de Rosamaria bater mais rápido.
Rosamaria, ainda ofegante, sorriu de volta. "Você me deu a confiança que eu precisava."
Houve um silêncio breve, mas carregado de significado. Gattaz, mais velha e experiente, sempre foi direta em suas palavras, mas naquele momento, hesitou. Havia algo no ar, algo que ambas estavam sentindo há tempos, mas que nenhuma ousava dizer em voz alta.
Finalmente, Gattaz quebrou o silêncio. "Rosa... eu acho que nós duas sabemos que há algo mais entre nós, não é?"
Rosamaria prendeu a respiração. Era a primeira vez que alguém colocava em palavras o que ela vinha sentindo há meses. "Sim", ela respondeu, sua voz suave e incerta. "Mas eu não sabia como falar sobre isso."
Gattaz sorriu, dando um passo mais perto. "Nem eu. Mas acho que não precisamos mais esconder."
O coração de Rosamaria disparou quando Gattaz, com uma delicadeza inesperada, segurou sua mão. "Você sabe que eu sempre fui direta nas coisas, Rosa. E o que eu sinto por você vai além de qualquer coisa que eu já tenha sentido antes."
Rosamaria olhou nos olhos de Gattaz, sentindo uma mistura de nervosismo e alívio. "Eu também... desde que te conheci, algo mudou em mim."
Sem pensar muito, Gattaz se inclinou levemente e, em um gesto que parecia inevitável, a beijou. Foi um beijo suave, mas cheio de sentimentos reprimidos por tanto tempo. Quando se afastaram, ambas estavam sorrindo, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros.
"Então, é isso", disse Gattaz, rindo baixinho. "Finalmente falamos."
Rosamaria, com o rosto iluminado por um sorriso sincero, concordou. "Sim, finalmente."
Naquela noite, ao invés de irem para o jantar com o restante da equipe, as duas decidiram sair sozinhas, para um jantar tranquilo, longe das luzes e da agitação do mundo do vôlei. Era um momento só delas, o começo de algo novo, que elas sabiam que seria tão desafiador quanto as competições que enfrentavam juntas, mas igualmente gratificante.
O relacionamento entre Rosamaria e Gattaz se desenvolveu de maneira natural e forte, assim como eram em quadra. Elas se apoiavam, tanto nas vitórias quanto nas derrotas, e construíram uma conexão que ia muito além das jogadas e bloqueios. Juntas, descobriram que o amor pode florescer até nos lugares mais inesperados – como uma quadra de vôlei, onde cada ponto disputado era também um passo em direção à construção de uma vida ao lado de quem se ama.