Nos dias que se seguiram àquela conversa sincera entre Rosamaria e Gattaz, o clima no time parecia mais leve. O compromisso das duas de lidar com o ciúme de forma madura trouxe de volta a harmonia ao relacionamento, mas, como em qualquer situação emocionalmente complexa, o processo de cura não era imediato.
Gattaz, por mais que estivesse mais tranquila com a postura de Rosamaria, ainda sentia resquícios de insegurança. Durante os treinos, via Rosamaria e Letícia interagindo com naturalidade, mas o fantasma da dúvida persistia, ainda que estivesse menos intenso. Por outro lado, Rosamaria fazia questão de reafirmar seu amor, tanto com gestos quanto com palavras. Cada vez que se aproximava de Gattaz, deixava claro que a prioridade em sua vida era ela, acima de qualquer amizade ou situação.
Certo dia, em meio a uma viagem para um jogo decisivo fora de casa, o time estava no aeroporto, aguardando o embarque. O ambiente estava descontraído, com as jogadoras rindo e conversando sobre as expectativas para o jogo. Rosamaria estava sentada ao lado de Gattaz, e Letícia, do outro lado do corredor, participava da conversa em grupo.
De repente, Letícia se levantou e caminhou até Rosamaria, entregando-lhe o celular com um sorriso. "Rosa, olha essa foto nossa no último treino. Ficou muito boa!"
Rosamaria riu, olhando a tela. "Nossa, ficou mesmo! Vou te mandar." Ela pegou o celular, e por um momento, tudo pareceu natural, mas Gattaz, que observava a interação, sentiu uma leve pontada de desconforto.
A viagem prosseguiu, e durante o voo, Gattaz ficou em silêncio por boa parte do tempo, tentando acalmar seus pensamentos. Rosamaria percebeu e, segurando sua mão, perguntou com suavidade: "Tudo bem? Você está quieta."
Gattaz sorriu de leve, tentando não demonstrar o que estava sentindo. "Estou bem, só pensando no jogo de amanhã."
Rosamaria sabia que não era só isso. Sabia que, mesmo depois da conversa franca, o ciúme ainda rondava sua relação, mas também sabia que não podia apressar as coisas. Então, apenas apertou a mão de Gattaz e sussurrou: "Lembre-se que estamos juntas em tudo, tá? Eu estou aqui, sempre."
Gattaz sentiu o conforto nas palavras de Rosamaria, mas algo dentro dela ainda não estava completamente em paz.
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Naquele mesmo fim de semana, após a vitória esmagadora do Gerdau Minas em um jogo disputado, houve uma festa de confraternização organizada pelo clube para comemorar a sequência de vitórias. A atmosfera era de alegria e celebração, com música alta, luzes piscando e todas as jogadoras do time se divertindo.
Rosamaria, como sempre, estava no centro das atenções, conversando com várias colegas e rindo alto. Gattaz, por sua vez, preferiu ficar mais recuada, observando a festa de longe, com um copo de bebida na mão. Ela estava orgulhosa da vitória, mas aquele desconforto persistente a impedia de relaxar completamente.
Em um momento, Gattaz notou que Letícia estava novamente perto de Rosamaria, brincando e gesticulando de forma um pouco mais efusiva. Embora estivesse tentando lidar com suas emoções, ver a interação de longe fez o ciúme que ela tentava conter voltar à superfície.
Decidida a não deixar aquilo arruinar a noite, Gattaz se aproximou e, de maneira sutil, passou o braço ao redor da cintura de Rosamaria. Rosamaria, ao sentir a presença de Gattaz, sorriu e virou-se para ela, beijando-a na bochecha.
"Amor, está tudo bem?" Rosamaria perguntou baixinho, percebendo a expressão de Gattaz.
Gattaz hesitou por um instante, mas balançou a cabeça afirmativamente. "Sim, só queria ficar mais perto de você."
Letícia, notando o momento entre as duas, fez uma piada leve para quebrar qualquer tensão. "Parece que eu preciso ficar de olho, hein, Gattaz? Rosa é muito requisitada!"
Todos riram da brincadeira, inclusive Rosamaria, que respondeu com um sorriso: "Gattaz sabe que o lugar dela é no meu coração."
Embora fosse uma piada, Gattaz sentiu algo ferver dentro de si. O ciúme, até então sob controle, parecia ter sido aceso novamente com aquela interação. Ela sabia que Letícia provavelmente não tinha intenção de provocar, mas, naquele momento, Gattaz não conseguiu segurar as emoções.
Mais tarde, naquela noite, quando a festa estava diminuindo e as jogadoras começavam a ir embora, Gattaz decidiu que precisava falar com Rosamaria de novo. Ao chegarem no apartamento, depois de se despedirem das colegas, Gattaz fechou a porta e respirou fundo, visivelmente tensa.
"Rosa, eu não sei o que está acontecendo comigo", começou ela, sua voz trêmula. "Eu sei que você me ama, eu sei que estamos juntas, mas ver você com a Letícia... me machuca de um jeito que eu não consigo explicar."
Rosamaria, que já esperava uma conversa depois da festa, aproximou-se e a abraçou. "Gattaz, eu entendo o que você está sentindo. E eu não quero que isso te machuque. Eu amo você mais do que tudo. Letícia é só uma amiga, e eu jamais faria algo para te fazer duvidar disso."
Gattaz se afastou um pouco, passando as mãos pelo cabelo, claramente angustiada. "Eu sei, Rosa. E é isso que me deixa mais confusa. Eu sei que você me ama, mas ainda assim, eu sinto esse ciúme que não consigo controlar. Talvez seja o jeito dela, ou talvez seja só coisa da minha cabeça."
Rosamaria a puxou para um abraço apertado. "Você não precisa carregar isso sozinha. Se Letícia ou qualquer outra coisa está te incomodando, a gente pode falar sobre isso, pode resolver. Eu não quero que você sofra."
Gattaz, em meio ao abraço, finalmente deixou as lágrimas caírem, aliviando parte da tensão que vinha segurando por semanas. "Eu só... não quero perder você."
Rosamaria segurou o rosto de Gattaz, olhando-a nos olhos com ternura. "Você nunca vai me perder. Estamos nisso juntas, lembra? E se precisamos de mais tempo para lidar com isso, vamos ter. O que eu sinto por você é mais forte do que qualquer coisa."
Naquela noite, entre lágrimas e palavras de conforto, Rosamaria e Gattaz reafirmaram seu compromisso uma com a outra. O ciúme, ainda que presente, não era maior do que o amor que tinham. Sabiam que haveria momentos difíceis, mas também sabiam que, com comunicação e paciência, conseguiriam superar qualquer obstáculo.
E assim, com o coração mais leve, Gattaz entendeu que o ciúme era apenas uma parte das complexidades do relacionamento, mas o amor e a confiança que construíram eram fortes o suficiente para enfrentar qualquer desafio.