Zaiden

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Sirvo um copo de whisky, observando o líquido âmbar girar lentamente no copo antes de levá-lo aos lábios. O gosto forte queima minha garganta, mas me mantém focado, afiado. A pequena sala está imunda, impregnada com o cheiro metálico de sangue e o fedor sufocante do medo. A luz fraca que entra pela pequena janela no canto mal consegue cortar a escuridão, mas é suficiente. Eu vejo tudo o que preciso.

O som de gemidos de dor preenche a sala. Viro-me devagar, meus olhos se prendendo ao desgraçado amarrado na cadeira diante de mim. Suas roupas estão rasgadas, o corpo coberto de sangue seco e fresco, formando uma mistura nojenta de feridas abertas e hematomas profundos. Três dias. Foram três malditos dias de tortura, e ele ainda respira. Ainda está consciente, o que, de certa forma, me impressiona.

Sento-me na cadeira em frente a ele, calmamente, quase com desdém. O copo de whisky na minha mão parece insignificante comparado à explosão de raiva que lateja sob minha pele. Eu quase posso ouvir seus pensamentos, as desculpas mudas, os apelos patéticos por sua vida.

Mas eu não o mataria porque fui pago para isso. Não sou um carrasco a mando de quem acena com dinheiro. Hoje, o motivo é pessoal. Eu vou queimar esse verme maldito porque ele ousou tocar no meu tesouro. O simples pensamento disso faz meu sangue ferver.

Minhas fontes, me contaram tudo. Ele tentou abusar dela. Tentou colocar suas mãos imundas naquilo que não lhe pertence, naquilo que ele jamais poderia ter. Margot, minha Ratinha.Ele achou que poderia escapar ileso disso? Que não haveria consequências? Um erro fatal.

O desgraçado está amarrado com as mãos para trás, preso à cadeira de madeira que range sob o peso do seu corpo. Não há mordaça em sua boca; ele pode falar, gritar, implorar se quiser. Mas por enquanto, ele permanece em silêncio, suando como um porco, com o rosto enrugado e pálido de medo. Suas roupas estão encharcadas de suor, e as gotas escorrem pelo pescoço até desaparecerem no colarinho sujo.

Pelo pouco que descobri sobre ele, é um dos homens do pai dela

-Você tocou em uma coisinha muito importante pra mim,- murmuro, enquanto dou um gole do whisky. O líquido desce queimando pela garganta, mas não faz nada para aplacar o fogo da minha raiva. Cada minuto que passa, o ódio cresce dentro de mim, pulsando como uma ferida aberta.

-Sabe o que acontece quando alguém toca no que me pertence?-pergunto, minha voz carregada de ameaça.

O silêncio que se segue é sufocante. Ele tenta balbuciar algo, os lábios tremendo de tanto medo que mal consegue formar as palavras. Os segundos parecem se arrastar como uma eternidade. Finalmente, depois do que parece uma eternidade, ele murmura com a voz trêmula:

-Ela... ela não é sua...-

Minhas mãos apertam o copo com tanta força que ouço o vidro ranger, ameaçando estourar em mil pedaços. Minha respiração se torna mais pesada, e sinto o sangue latejar nas têmporas. O que ele disse foi um erro. Eu dou um pequeno sorriso, mas é vazio, frio.

-Ela é minha!- respondo, minha voz um sussurro cortante, carregado de uma fúria mal contida. -Minha!- explodo, levantando-me abruptamente e jogando o copo na parede com tanta força que ele se despedaça no ar, os cacos de vidro espalhando-se pelo chão sujo.

Ele se encolhe na cadeira, seus olhos arregalados, cheios de terror. Sabe que não deveria ter falado aquilo.

-ela é minha- repito, andando ao redor dele, como um predador cercando sua presa

-Por favor, senhor... Prometo que não farei mais isso- Sua voz é fraca, oscilante, quase quebrada, como se cada palavra fosse arrancada à força de sua garganta. Ele está desesperado, e o desespero tem um cheiro. Um cheiro de medo, de fraqueza. Mas os apelos dele são como ruído de fundo para mim, algo distante e insignificante, incapaz de penetrar o nevoeiro de ódio que me domina agora.

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