Margot

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O tecido pesado do meu vestido de noiva se arrasta pelo chão enquanto caminho pelo corredor longo e mal iluminado. As luzes amarelas criam sombras estranhas nas paredes, dando a tudo um ar ainda mais opressivo. Aperto o tecido do vestido nas mãos, tentando conter a frustração que parece pulsar no meu peito. Estou indo para a sala onde os seguranças estão me esperando, prontos para me escoltar até a maldita igreja.

Deus que me perdoe, mas hoje eu queimaria aquele lugar sem pensar duas vezes. Não é que eu não acredite no casamento ou em promessas — Meu noivo, Kael, esperava por mim na igreja. Ele sempre foi um bom homem, gentil, atencioso. Os olhos castanhos, quase dourados sob a luz do sol, sempre me olhavam com tanta devoção que eu mal conseguia sustentar o olhar. Como poderia decepcioná-lo? Como poderia dizer que, talvez, esse casamento não fosse o que eu realmente queria agora?

Ele era o tipo de homem que fazia qualquer mulher suspirar. Alto, com seus imponentes 1,90 metros, exalava uma presença que parecia dominar o ambiente antes mesmo de dizer uma única palavra. O que mais chamava atenção nele, além dos músculos que pareciam ter sido esculpidos por um artista obcecado por perfeição, era a ausência de tatuagens. Ele dizia que "tatuagens mancham a pele", como se sua pele impecável fosse uma obra-prima que não precisava de adornos.

Kael era... perfeito, pelo menos aos olhos de todos ao nosso redor. Para a sociedade, ele era o genro ideal, bonito, educado, sempre com um sorriso no rosto e palavras doces na ponta da língua. E eu? Eu era a noiva que qualquer homem gostaria de ter: recatada, bem-educada, e completamente submissa às vontades de minha família.

Namorávamos há mais de dez anos, uma relação que parecia destinada desde o começo. Para ser sincera, não era exatamente um namoro — era mais como uma obrigação cuidadosamente embalada em promessas de felicidade e expectativas de um futuro brilhante. Sempre soube que meu destino seria esse. Eu seria prometida a um dos filhos dos Salvatore, porque nossas famílias eram inseparáveis, como duas árvores cujas raízes se entrelaçavam de tal forma que separar uma significaria matar a outra.

Desde criança, ouvi histórias sobre a importância de manter nossas famílias unidas. Jantares em que brindávamos ao "legado Rossi e Salvatore", festas em que os adultos trocavam promessas veladas enquanto as crianças eram treinadas para perpetuar a tradição. Eu cresci com a ideia de que meu futuro já estava traçado, mas isso nunca me incomodou de verdade. Não até agora. Não até o peso das expectativas começar a esmagar algo dentro de mim que eu nem sabia que existia.

Eu amava Kael, ou pelo menos era isso que eu dizia a mim mesma. Afinal, como poderia não amar? Ele era tudo o que me ensinaram a desejar em um homem. Bonito, protetor, forte. Mas, por mais que ele fosse tudo isso, havia algo faltando. Algo que ele nunca poderia preencher, não importa o quanto tentasse.

A verdade é que eu não sabia o que era o amor de verdade. Não sabia como era sentir o coração acelerar por alguém de forma descontrolada, ou perder o fôlego com um simples toque. Com Kael, tudo era previsível, seguro. Um mundo onde nada saía do lugar. Mas às vezes, eu me pegava desejando o oposto. Algo que me tirasse do chão, que me consumisse como um incêndio.

Ainda assim, continuei ao lado dele. Não por escolha, mas porque nunca me ensinaram a dizer "não". Quando minha família sugeriu — ou melhor, decidiu — que nos casaríamos, eu não discuti. Fiz o que sempre fiz: abaixei a cabeça e obedeci. Afinal, era isso que se esperava de mim. 

A cada passo, meu coração parece bater mais forte. Olho ao redor, para as paredes desse lugar que, tecnicamente, deveria ser meu lar. Mas eu odeio esta casa. Sempre odiei. É onde passei os anos mais asfixiantes da minha vida, onde minha liberdade foi reduzida a nada mais do que uma ilusão. Meu pai sempre me dizia que eu deveria ser grata. Grata por esse teto, grata pela segurança, grata pelo "futuro brilhante" que ele diz ter planejado para mim. Mas como posso ser grata por uma prisão dourada?

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