Margot

1 0 0
                                    

Quando abri os olhos, a escuridão do quarto parecia ainda mais opressora. Era noite, disso eu tinha certeza, porque a única luz vinha de uma claraboia acima de mim, onde a lua se derramava silenciosamente no cômodo. Tudo parecia estranhamente quieto, mas a quietude não me trazia paz, só aumentava a sensação de que algo estava muito errado. 

Olhei ao redor, tentando entender onde diabos eu estava. O quarto era grande, mas vazio, como se alguém tivesse se esforçado em deixá-lo sem personalidade. As paredes eram de um cinza frio, e a única mobília, além da cama enorme onde eu estava deitada, era uma poltrona num canto distante. 

Minha cabeça latejava como se estivesse sendo esmagada, e um enjoo crescente fazia meu estômago revirar. Eu queria vomitar, mas o esforço de tentar me sentar foi inútil. Meu corpo parecia feito de chumbo, cada músculo fraco demais para obedecer. Nem minha cabeça queria sair do travesseiro, como se houvesse um peso invisível me segurando ali. 

— Que merda aconteceu? — sussurrei para o vazio, minha voz rouca e baixa demais para preencher o espaço. 

As lembranças vieram fragmentadas. A viagem de carro. Killian ao meu lado. Ele me oferecendo água. A sensação de algo errado...Maldito. Ele me deu alguma coisa pra beber. Ele me dopou!

A raiva começou a se misturar com o desespero, mas eu não tinha energia nem para me irritar direito. Meus olhos ardiam, implorando para se fecharem novamente, e meu corpo obedecia, ignorando minha vontade. 

Tentei lutar contra o sono, mas ele veio como uma onda incontrolável, me puxando de volta para a escuridão.

Quando despertei novamente, a escuridão ainda me envolvia. Não sabia se havia dormido por horas ou apenas minutos. Seria a noite seguinte? Não havia um relógio ou qualquer indício do tempo ao meu redor. A incerteza me corroía. 

Dessa vez, consegui me sentar na beira da cama. Esperei, com as mãos apoiadas nos lençóis macios, enquanto minha cabeça parava de girar e meu estômago se ajustava à nova posição. Cada movimento parecia um esforço monumental, mas pelo menos eu estava conseguindo me mexer. 

Meus olhos finalmente notaram o pequeno abajur ao lado da cama. Estendi a mão trêmula, ligando-o. Uma luz quente e suave preencheu o quarto, revelando detalhes que antes estavam escondidos na penumbra. 

O lugar era... imponente. **Antigo. Estranho.** As esquadrias das janelas eram enormes, com ornamentos ricos e delicados, que pareciam ter sido esculpidos à mão. A cama em que eu estava era robusta, de madeira escura, com entalhes elaborados que davam a impressão de que ela pertencia a outra era. Em frente à cama, havia uma lareira de pedra, tão grande e detalhada que parecia saída de um filme. 

Olhei para o teto e notei as vigas antigas de madeira, expostas, mas perfeitamente alinhadas com o resto da decoração. Tudo naquele quarto tinha um ar elegante e austero, como se cada objeto tivesse sido escolhido para combinar com a grandiosidade do espaço. 

Apesar da beleza e do conforto aparente, eu não me sentia segura. **Nada ali parecia meu. Nada ali parecia certo.** Era o tipo de lugar onde uma princesa poderia morar, mas eu sabia que, para mim, era apenas uma jaula luxuosa. 

O quarto estava aquecido, mas mesmo assim eu me sentia gelada. Era o tipo de frio que vinha de dentro, alimentado pelo medo, pela incerteza e pela raiva.

"Que bom que acordou." 

A voz inesperada fez meu corpo congelar no mesmo instante, e meu coração disparou, como se quisesse sair pela garganta. Virei-me bruscamente e me deparei com um jovem parado próximo à porta. 

Ele tinha um sotaque italiano marcante, mesmo falando em inglês. Sua aparência confirmava ainda mais minha suspeita. Não era muito alto, como a maioria dos italianos que eu já havia visto, mas era impossível ignorar sua presença. Seus cabelos longos e escuros caíam pelos ombros, emoldurando traços delicados e lábios que pareciam ter saído de uma pintura renascentista. Era bonito, admito, quase irritantemente bonito. 

NightmaresOnde histórias criam vida. Descubra agora