Margot

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Minha cabeça lateja como se mil martelos batessem ao mesmo tempo. Um peso estranho parece pressionar cada músculo do meu corpo, e quando abro os olhos, a luz forte me faz cerrá-los de novo rapidamente. Levo alguns segundos para tentar de novo, piscando até que minha visão comece a se ajustar. 

Estou sentada em uma cadeira, mas não é confortável; é rígida, com tiras de couro que prendem meus braços firmemente ao encosto. Tenso meus músculos em um impulso desesperado para me soltar, mas as correias não cedem. Meu coração dispara. 

Olho ao redor, tentando entender onde estou. O ambiente é apertado, com um zumbido constante que reconheço como o som de motores. As paredes ao meu redor são metálicas e estreitas, e as janelas pequenas e redondas deixam entrar uma luz pálida. Meu estômago afunda quando percebo que estou dentro de um avião. 

Os assentos são poucos, alinhados em uma fileira solitária de couro escuro. Equipamentos estão presos às laterais — caixas metálicas, alguns compartimentos trancados, um extintor de incêndio. Mais ao fundo, vejo uma porta pesada com um aviso em vermelho: *Proibido o acesso não autorizado*. É um avião de carga, nada parecido com os voos comerciais que já tomei antes. 

Uma sensação incômoda me percorre, e só então percebo o que me incomoda: o vestido. Ele não está mais em mim. 

Olho para baixo, e meu estômago dá um nó ao ver que estou usando uma camisa preta, larga demais para ser minha, e uma calça de moletom cinza que parece ter sido jogada em mim sem qualquer cuidado. O tecido áspero da camisa coça minha pele, e eu tento puxá-la para baixo, mas minhas mãos amarradas não permitem muito movimento. 

— Que merda...—  sussurro, a voz saindo rouca. 

Meu coração acelera mais ao pensar em quem me vestiu assim, em como fizeram isso enquanto eu estava desacordada. A vergonha e a raiva sobem como uma onda, e começo a puxar as amarras com mais força. 

Meu corpo treme, seja pelo frio ou pelo pânico crescente. Onde diabos estou? E, mais importante, quem me trouxe aqui? O homem tatuado que me arrastou para o caminhão é a única coisa que consigo lembrar antes da escuridão me tomar. 

As lembranças surgem em flashes: os tiros, o som de metal sendo esmagado, as luzes do caminhão iluminando a ponte. Engulo seco, meu estômago revirando. Eles mataram todos. 

O som da porta se abrindo ecoa pelo espaço apertado, e imediatamente meu corpo se enrijece. Passos ecoam contra o chão metálico, firmes, mas de algum modo controlados, como se quem andasse quisesse ter certeza de que eu soubesse que estava ali. 

Olho na direção do barulho, meu coração disparando no peito. Então, ele aparece. O homem que me arrancou do carro como se eu não fosse nada além de uma boneca de pano. Ele é tão imponente quanto me lembro, mas agora, sem a adrenalina e o caos para distrair, consigo notar detalhes que antes não havia percebido. A tatuagem que cobre parte do braço musculoso, os olhos gélidos que parecem olhar através de mim, e o jeito desleixado com que ele se senta na minha frente, como se eu não fosse uma ameaça — como se eu fosse insignificante. 

— Pensei que você fosse dormir pra sempre — ele diz, a voz baixa e arrastada, quase um rosnado. 

— Quem é você? — Minha voz sai mais rouca e fraca do que eu queria, mas ao menos consigo dizer alguma coisa. 

Ele não responde imediatamente. Em vez disso, seu olhar desliza de cima a baixo, examinando cada parte de mim com uma calma irritante. É invasivo e desconfortável, e eu puxo meus braços contra as amarras, tentando ao menos me sentir no controle de alguma coisa. 

— Não importa quem eu sou. — Ele finalmente fala, o tom seco. — Importa que você está aqui. 

— Isso é óbvio — retruco, tentando ignorar o nó na minha garganta. — O que você quer de mim? 

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