Margot

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— Me responda! — Minha voz cortou o ar como uma lâmina, carregada de uma fúria que eu não sabia que podia sentir. Ele estava ali, parado, no centro do escritório, olhando para mim como se eu fosse uma criança fazendo birra. Aquilo me enlouquecia. — Por que você me trouxe aqui? O que você quer de mim? 

Ele sequer reagiu. Nem uma mudança de expressão. Apenas o mesmo olhar vazio, uma indiferença que parecia projetada para me provocar. Eu me levantei da poltrona, decidida a arrancar alguma reação dele nem que fosse na marra. Foi aí que ele avançou, rápido como um raio. 

Antes que eu pudesse processar, ele me segurou pelos ombros e me empurrou de volta para a poltrona com uma força que tirou o ar dos meus pulmões. 
— Sente-se e cale a boca.— A voz dele era baixa, mas carregada de algo mais perigoso do que gritos. — Eu não tolero desobediência. Nunca.

Ele se inclinou sobre mim, tão perto que eu podia sentir a tensão em cada músculo do seu corpo. Seu rosto estava a centímetros do meu, os olhos fixos nos meus como se estivesse desafiando qualquer resquício de coragem que eu ainda tivesse. 

Mas coragem ou não, eu estava cansada. Cansada dele. Cansada de tudo. O ódio dentro de mim era uma força que não dava para conter. Num impulso, minha mão se ergueu e o som do tapa que eu lhe dei foi tão alto que pareceu ecoar pelo escritório. 

Ele não se moveu imediatamente. Ficou ali, paralisado, como se estivesse processando o que acabara de acontecer. Então, ele se afastou, devagar, o rosto endurecendo como pedra. Seus olhos — Deus, aqueles olhos — estavam diferentes. Mais escuros. Quase inumanos. 

Eu deveria me arrepender, mas tudo o que sentia era medo. Não medo de um ataque. Medo do silêncio dele, da forma como ele se virou, deixando-me ali sozinha, afundada na poltrona. Ele caminhou até a janela, não a lareira como eu esperava, e parou ali, de costas para mim, olhando para o nada lá fora. 

Seus ombros subiam e desciam com a respiração pesada, mas ele não dizia nada. Ficamos assim por longos segundos, que mais pareciam horas. O silêncio me consumia. Queria falar, mas minha garganta estava seca. 

Quando ele finalmente quebrou o silêncio, a voz saiu mais baixa, quase como um murmúrio: 
— Você acha que gritar ou me bater vai mudar alguma coisa? — Ele se virou para mim, e havia algo diferente nos seus olhos. Não era raiva. Era algo mais perigoso. Uma calma calculada, um controle assustador. — Você não sabe onde está, Adeline. Nem quem está no controle aqui. 

Senti um frio na espinha, mas não deixei transparecer. Mantive minha expressão firme, mesmo quando ele caminhou de volta até mim. Ele não se inclinou desta vez, apenas parou à minha frente. 
— Da próxima vez que levantar a mão para mim, certifique-se de que está pronta para lidar com as consequências. 

Ele caminhou até a mesa e se sentou, abrindo uma gaveta com calma. De dentro, puxou alguns envelopes. Seu olhar pousou em mim por um instante antes de alcançar um par de óculos que ele colocou no rosto.A cena é tão inesperada que quase me faz rir, mas reprimo a reação. De alguma forma, isso só o deixa ainda mais... atraente, o que, para meu desgosto, é irritante. Ele está com um ar de professor sério, e isso deveria ser ridículo. Mas não é.

Sente-se — ordena, sem olhar diretamente para mim, a voz fria como aço.

Sinto meu sangue ferver. Quem ele pensa que é?

— Não sou sua cachorrinha. — As palavras saem afiadas, mas não posso evitar um tom de desafio. Quero ver até onde ele vai.

Ele suspira, como se tivesse que lidar com uma criança teimosa. Odeio a maneira como isso me faz sentir — pequena, mas ao mesmo tempo, irritantemente vulnerável.

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