06. Fatídico

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MAYA GARCIA

Estar no mesmo apartamento que Giovanna era terrivelmente irresistível, mas nada diferente do que eu já não imaginava. Ela tinha odiado a ideia de ter que vir para cá e não fazia a menor pretensão de esconder isso, o que ficava nítido em suas expressões sempre que nós nos cruzavámos em algum canto. O espaço era amplo, aconchegante e com uma vista de tirar o fôlego, ainda sim e dessa forma ela não deu o braço a torcer e eu não a culpava por isso. Dois dias foram o suficiente para dividirmos o apartamento como se quase fossemos amigas o que jamais poderia se concretizar já que a loira me odiava e gostava de deixar explicitamente claro.

No entanto, o desejo que eu sabia que ela nutria por mim havia sido o ápice da minha descoberta desde a última vez em que estivemos tão perto uma da outra. Aquela noite na boate tinha deixado isso perceptível e quase me levou a pensar no fatídico primeiro encontro em que tivemos aquela primeira noite. Eu me lembrava de todos os detalhes como se de alguma forma eu pudesse revive-lá de forma tão intensa e vívida em minha mente naquele, principalmente ao acordar e ela haver sumido sem dar satisfações, deixando apenas um bilhete com algumas letras rabiscadas em um pedaço de papel barato. Isso não me atingia mesmo que sentisse a fúria ameaçar me consumir e minha mente voltar constantemente aquela noite e apesar de estar reprimindo no fundo da minha mente, eu sabia que toda aquela história era o principal motivo de estarmos aqui e o meu principal objetivo de vê-la ceder para mim, porque quando ela cedesse, aí eu saberia que a verdadeira Giovanna que eu tinha conhecido naquela noite era ela e eu teria a confirmação que tanto ansiava.

Nós ainda estávamos no jogo que estava muito longe de acabar, e quanto mais eu me aproximava de Giovanna, mais ela cedia. Mesmo que fosse de forma brutal, com a rispidez transparente em seus olhos e a repreensão em sua voz e desejo. Mesmo que fosse mínimo. Eu seria muito hipócrita se mentisse que não gostava de ver o desespero dominar os seus olhos todas as vezes em que eu me aproximava ou a vontade descomunal com que ela lutava para não ter nossos corpos pertos demais uma da outra como se ela pudesse se desmanchar por sob os meus pés. E eu estava certa.

A dois dias eu tinha estado de joelhos para ela, com ela pronta para se abrir para mim, desesperada pelo nosso contato físico. Desde esse delicioso dia, Giovanna me evitava o máximo possível em meu próprio apartamento me desejando boa noite e bom dia a contragosto. Passava o dia todo no quarto com a presença de Larissa quando ela estava aqui e de uma outra mulher chamada Nicole, que eu descobri ser uma das amigas das duas que eu desconhecia. Por ironia ou não do destino, Ana Clara e Nicole tinham se conhecido justamente no dia do tiroteio da boate onde ela e a mulher tinham conseguido sair juntas sem serem pisoteadas daquele lugar ou atingidas com algum tiro. Ana Clara comentou que tinha entrado no banheiro para tentar respirar já que o calor incessante do lado de fora estava a fazendo derreter e as pessoas descontroladas para lá e para cá a empurrando e não a deixando passar também. Já dentro do lugar, encontrou a tal mulher com as mãos apoiadas em cima da pia encarando o próprio reflexo parecendo aterrorizadas, até que elas decidiram tentar sair juntas.

Eu sabia que ela estava escondendo mais alguma coisa, a maneira exorbitante em como ela descrevia a desconhecida com detalhes era reconhecida por mim. Havia uma atração entre as duas, era inevitável. E se tornou ainda mais quando na noite anterior ela e a morena apareceram em meu apartamento juntas. Nicole em busca de notícias, e Ana Clara com a desculpa de ver como eu estava e de acompanhá-la também. Tudo tinha se enrolado demais, contudo, eu não a julgava por isso. A nossa consciência sabia muito bem como nos pregar peças.

Foi inevitável não perguntar para Ana Clara se tudo aquilo não estava indo rápido demais, a minha língua sempre havia sido muito maior do que a minha boca. Não era atoa que eu nunca guardava os meus pensamentos para mim.

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