Capítulo 05

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Ao chegar em casa, notei que algo estava diferente. Valéria, que sempre mantinha uma distância calculada até eu tomar meu banho e relaxar, veio direto até mim. Um sorriso malicioso curvou seus lábios quando me olhou.

— Que bom que você chegou — disse ela, sem me dar tempo para questionar nada. Antes que eu pudesse esboçar uma reação, ela me beijou, um beijo que carregava uma intensidade que ela raramente deixava transparecer.

Por um momento, um sorriso presunçoso apareceu em meu rosto. Claro, pensei. Era inevitável. Não importa o que aconteça, eu sempre atraio de volta a atenção dela. Era como se ela estivesse finalmente lembrando quem sou, o homem que sempre controla a situação.

Eu correspondi ao beijo, deixando que a noite seguisse o curso que ela claramente desejava. De certa forma, era uma validação da minha própria convicção — de que, no fim das contas, tudo girava ao meu redor. Enquanto a noite se desenrolava, cada toque e cada gesto reforçavam a certeza de que eu não era apenas mais um na vida de Valéria. Eu era o centro.

Quando tudo acabou e o silêncio tomou conta do quarto, olhei para ela com um olhar autossuficiente, sabendo que, por mais que ela tentasse se manter distante ou reservada, sempre acabaria voltando para mim. Eu era, afinal, insubstituível.

Entre nós, tudo era muito automático. Cada gesto, cada toque, cada palavra trocada seguia um roteiro que já conhecíamos de cor. Era como se estivéssemos presos em uma coreografia ensaiada, onde cada passo era meticulosamente repetido sem falhas. Valéria sabia exatamente como agir, e eu, claro, sabia exatamente o que esperar.

Nossos momentos juntos eram previsíveis, quase mecânicos. Não havia mais aquele fervor dos primeiros encontros, aquela paixão impulsiva que fazia tudo parecer uma explosão de sentidos. Em vez disso, restava a comodidade de algo que funcionava porque sempre funcionou — sem surpresas, sem desafios.

Eu gostava disso, da segurança que essa rotina me proporcionava. Não havia espaço para incertezas, e era assim que eu preferia. O controle era meu por direito, e Valéria, mesmo em seus momentos mais espontâneos, acabava voltando para essa dança que eu comandava. Era conveniente, prático, e me mantinha no topo, onde eu gostava de estar.

Valéria logo pegou no sono, como de costume. Tudo seguia o script: ela relaxava depois de momentos que pareciam significar mais para ela do que para mim. Olhei para o teto, ouvindo sua respiração ritmada, e deixei escapar um suspiro. A cena era quase irônica. Para ela, talvez aquilo fosse um vislumbre de afeto e proximidade; para mim, era apenas mais uma noite previsível.

Eu me levantei da cama, movendo-me com cuidado para não acordá-la, e fui até a janela. A cidade iluminada lá fora parecia tão viva, tão cheia de possibilidades, enquanto aqui dentro tudo era uma repetição sem fim. Não que eu me importasse, claro. A estabilidade tinha seu valor, e eu sempre fui adepto do que me mantinha em controle.

Observei Valéria dormindo por um momento, uma expressão serena no rosto. Ela sempre se deixava levar por momentos como esse, enquanto eu me mantinha distante, intocável. Era assim que eu gostava, afinal. Ninguém invadia minhas barreiras; ninguém chegava perto o bastante para me fazer perder a cabeça.

Peguei meu celular e abri o WhatsApp, sem grandes expectativas, até que meus olhos foram atraídos para o status de Anahí. Uma única foto, mas o suficiente para fazer meu maxilar travar por um instante. Ela estava em uma balada, sozinha, vestindo um vestido justo preto que realçava suas curvas de uma forma que ninguém poderia ignorar. Anahí sabia exatamente o que fazia. Ela era inteligente demais para que qualquer gesto seu fosse por acaso.

Um sorriso irônico curvou meus lábios. Ela estava jogando, provocando, e eu sabia disso. Claro, ela não colocaria uma legenda chamando atenção ou algo óbvio assim. Anahí era sutil, misteriosa, e esse era o seu charme. Um charme que fazia outros homens se aproximarem feito mariposas em volta da luz. E era isso que me irritava — a ideia de que ela, tão autossuficiente, tão livre, poderia atrair qualquer olhar naquele vestido.

Mas por que eu deveria me importar? Eu era Alfonso, e controle era meu sobrenome. Ciúme? Isso era para os fracos, para os inseguros, e eu me orgulhava de não pertencer a essa categoria. Ainda assim, o pensamento de que alguém pudesse estar recebendo a atenção dela naquela noite me incomodava mais do que eu admitiria.

Suspirei e bloqueei a tela do celular, tentando ignorar a leve inquietação que pulsava sob a minha fachada imperturbável. Afinal, eu tinha tudo sob controle... ou pelo menos, gostava de acreditar nisso.

Olhei novamente para o teto, sentindo um aperto incômodo no peito que se recusava a desaparecer. Anahí havia saído para a balada com Jay, e aquela foto, provavelmente tirada por ele, tinha um propósito claro. Ela sempre soube exatamente como mexer comigo, como provar que não se deixava amarrar por ninguém, muito menos por mim.

Anahí era indomável, solta como o vento que ninguém podia capturar. Ela sabia jogar, e o fazia com uma destreza que me tirava do sério sem que eu pudesse admitir. Com ela, era sempre assim: um jogo de provocações, de mensagens nas entrelinhas, de sorrisos que diziam mais do que qualquer palavra.

Mas, claro, eu não ia dar o braço a torcer. Não era do meu feitio. Eu, Alfonso, não me permitia sentir ciúmes. Pelo menos, era o que eu insistia em repetir para mim mesmo enquanto encarava a tela escura do celular, onde a imagem de Anahí ainda parecia dançar nos meus pensamentos.

Ela era livre, e eu gostava disso. Gostava da sensação de desafio, do fato de que, mesmo quando ela estava longe, conseguia me manter preso em uma tensão que era ao mesmo tempo irritante e viciante.

Essa ideia pairava na minha mente como uma verdade absoluta. Eu podia ter todas, conquistar qualquer uma, mas minhas, as que realmente me interessavam, não podiam ter outros. Era simples assim. O controle que eu exercia sobre as situações e as pessoas ao meu redor era algo que eu prezava demais. Não porque fosse inseguro, mas porque sabia o meu valor. Eu era Alfonso, e o que eu queria era sempre o melhor — e, por melhor, entendia as que estavam ao meu alcance.

Anahí sabia disso. Ela sabia como mexer comigo, me desafiar, mas não tinha permissão para fazer o mesmo. Eu sabia que ela gostava de me ver desconfortável, mas se alguém fosse se aproximar dela, fosse o tal de Jay ou qualquer outro, ela teria que lidar com as consequências. Eu podia dar liberdade, mas nunca me permitiria ser desrespeitado.

Era uma questão de princípio, uma regra não escrita que todos ao meu redor deveriam entender. Eu podia jogar o jogo dela, mas ela, no fundo, sabia que meu limite era muito mais claro do que ela gostava de acreditar.

Desci para o andar debaixo onde me servi de uma dose de conhaque. Anahi definitivamente estava brincando com o fogo.

Aquela cretina estava me deixando louco. Cada movimento, cada gesto, cada palavra dela parecia uma provocação calculada, uma tentativa de me tirar do meu eixo. Eu tentava me manter em controle, mas, caramba, como ela sabia exatamente como mexer comigo. Eu, Alfonso, um homem que sempre tinha tudo sob controle, agora me via perdido em um jogo que ela conduzia com uma facilidade absurda.

Eu podia sentir a tensão no ar, como uma corda prestes a se romper. Cada vez que a via, a cada nova foto, a cada sorriso, parecia que ela estava testando meus limites. E o pior de tudo era que, no fundo, eu sabia que ela estava fazendo isso com plena consciência, como se soubesse o poder que tinha sobre mim. O poder de me tirar do sério.

Como ela ousava me desafiar dessa maneira? Anahí tinha essa habilidade única de fazer tudo parecer uma brincadeira, algo trivial. Mas, para mim, era um teste constante. E, por mais que tentasse me convencer de que eu estava no controle, a verdade era que eu me sentia cada vez mais perdido nesse maldito jogo de gato e rato.

Era uma combinação de irritação e algo mais, algo que eu me recusava a admitir. Eu não estava apenas irritado. Eu estava... obcecado. Cada vez mais. Ela tinha uma maneira de me fazer querer mais, de me fazer ansiar por algo que eu não conseguia alcançar.

Aquela maldita mulher sabia exatamente como me fazer perder a razão. Ela estava jogando comigo, me deixando cada vez mais próximo da linha que separava o controle da perdição. E o pior era que eu gostava. Eu gostava dessa sensação de estar à beira de um abismo, de saber que, em algum momento, eu teria que ceder. Não porque eu quisesse, mas porque ela me estava empurrando para isso.

Mas eu não ia deixar. Não tão fácil. Eu sabia que, no fim das contas, eu sempre conseguiria dar o último golpe. Eu, Alfonso, sempre teria o controle, não importava o que ela fizesse para tentar me desestabilizar.

Anahí estava me deixando louco, e eu estava pronto para mostrar a ela quem realmente mandava nesse jogo.

O preço do desejo AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora