Acordei o peso da raiva tomando conta de mim, a cabeça parecendo uma bomba relógio. O silêncio da casa era tão denso que parecia me sufocar, mas a frustração que eu sentia por dentro estava bem mais alta. Valéria, como sempre, estava completamente alheia à realidade ao meu redor. Ela dormia profundamente, e eu aproveitei aquele para escapar, sem fazer barulho, sem ser interrompido.
Meu humor estava péssimo. Eu podia sentir a raiva crescendo em meu peito, um fogo interno que parecia cada vez mais difícil de controlar. Mas uma coisa era clara: Anahí tinha algo a ver com isso. As lembranças das últimas interações com ela estavam me consumindo.
Levantei-me abruptamente, fui direto ao banheiro, liguei o chuveiro e entrei debaixo da água quente, tentando achar algum tipo de alívio. Mas, ao contrário do que eu esperava, o calor parecia apenas intensificar minha tensão. Cada pensamento estava ligado a Anahí — suas atitudes, seu comportamento. Tomei banho, vesti-me rapidamente, peguei a carteira e a chave do carro. Não queria perder tempo, não queria ficar mais tempo naquele lugar. A única coisa que me restava era despejar minha raiva em algo. Saí de casa já sabendo exatamente onde eu iria. Estava tão furioso que mal conseguia enxergar direito, e a raiva parecia me consumir por completo.
Cheguei ao prédio de Anahí em dez minutos, o tempo parecia estar contra mim, aumentando ainda mais a minha frustração. Estacionei o carro com um estalo seco, como se estivesse batendo o martelo em uma decisão definitiva, e sai do carro com pressa. O porteiro, que já me conhecia, me cumprimentou sem surpresa. Os moradores não me olhavam diferente. Eu estava ali com frequência, como se aquele lugar fosse uma extensão da minha rotina, como se eu tivesse direito de estar ali. E, em certa medida, eu sentia que tinha.
Subi para o andar de Anahí sem hesitar. Minha raiva me guiava, cada passo era carregado de uma tensão palpável. Eu sabia que, assim que a encontrasse, tudo o que estava fervendo dentro de mim seria despejado de uma vez. Não me importava com as consequências. Só queria entender o que se passava na cabeça dela, ou melhor, o que ela não estava pensando.
- Porra! - Socando a porta do elevador
Quando cheguei à cobertura, encontrei tudo arrumado. Subi as escadas para o andar de cima às pressas. Ao entrar na suite dela, a cama estava feita como se não tivesse passado a noite ali, o apartamento silencioso. Procurei por ela nos outros cômodos, mas não a encontrei. Desci até o andar de baixo indo até a cozinha, e foi lá que a encontrei, sentada calmamente à mesa, tomando café. Ela estava tão tranquila que isso me irritou ainda mais.
- Bom dia - disse ela, sorrindo, se levantando para me cumprimentar.
Seus olhos me estudaram por um momento, tentando entender o que havia comigo.
- Aconteceu alguma coisa? Parece aborrecido - ela perguntou, como se aquilo fosse uma simples constatação.
- Você acha? - respondi de forma irônica - Pelo jeito, você se divertiu ontem, com aquele tal de Jay, usando aquele pedaço de tecido que você chama de vestido.
Eu estava realmente furioso, e a maneira como ela reagiu a minha provocação só aumentou a minha raiva.
- Não acredito que você está bravo porque sai com o Jay - Anahí disse, como se estivesse achando a situação ridícula.
- Ah, e a noite foi tão boa, né? Porque, pelo jeito, nem aqui você dormiu - retruquei, apontando para a cama feita.
Ela me olhou com uma expressão confusa e levantou uma sobrancelha.
- Quem te disse que eu não dormi em casa?
Eu não consegui evitar. O tom acusador transpareceu.
- Sua cama não foi desarrumada. Você não dormiu aqui!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O preço do desejo AyA
RomansaResistir ao que me faz mal? Isso nunca foi o meu forte. Por que seria? Sou bom em conseguir o que quero, e aprendi há muito tempo que é perda de tempo negar os próprios desejos. Anahí, por exemplo... Desde o primeiro momento, percebi que ela não era...