Uma noite no Cemitério

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na floricultura foi mais tranquilo do que ela imaginava, mas o que a aguardava em casa não podia ser ignorado. Ela sentia o peso do cansaço físico em seu corpo, mas o maior fardo era o nó apertado em seu estômago, a ansiedade que a consumia.

Ela entrou devagar, tentando não fazer barulho, como se sua presença fosse uma intrusa em um lugar que deveria ser seu. O cheiro de cigarro e a constante sensação de tensão no ar a recebiam, uma realidade difícil de enfrentar. Ela sentiu o coração bater mais rápido, e a pressão em seu peito aumentava à medida que seus olhos se ajustavam à escuridão da sala. Os estalos das tábuas do piso sob seus pés pareciam fazer o som de cada passo ser um lembrete do que a aguardava ali dentro.

Seus pais provavelmente estariam em seus cantos, distantes, imersos nas próprias batalhas. Mas, por mais que o medo de seu pai a paralisasse, a sensação de impotência com a mãe, que sempre parecia tão submissa, a consumia ainda mais. Ela sabia que mais tarde ou cedo teria que encarar as perguntas, os olhares desaprovadores, a pressão para contribuir mais.

Olivia deixou a mochila de lado com uma rapidez quase automática e foi até o quarto, onde poderia se esconder um pouco mais de tudo. No fundo, ela sabia que seu alívio seria temporário. O medo do que viria na manhã seguinte a deixava tensa, mas ao mesmo tempo, ela se lembrava do sorriso de Samantha e das palavras de apoio que a fizeram sentir que talvez, só talvez, houvesse uma saída para tudo isso.

Enquanto Olivia tentava se acomodar em seu quarto, jogando-se na cama com um suspiro pesado, o som suave de pequenos passos ecoou na porta. Ela sabia quem era antes mesmo de ouvir a voz suave e curiosa.

"Olivia?" A voz de Oliver, seu irmãozinho de apenas seis anos, veio de trás da porta, cheia de timidez, mas também com aquele brilho de quem sempre procurava ela no fim de cada dia.

Olivia rapidamente se endireitou na cama, forçando um sorriso enquanto chamava o irmão para dentro. "Oi, Oliver", ela disse com um tom suave, tentando esconder a aflição que ainda corria em suas veias.

O pequeno entrou devagar, ainda usando o pijama, e seus olhos brilharam quando o viu, como se ele soubesse que algo havia mudado naquela noite, mas não sabia bem o quê. Ele se aproximou da cama com um sorriso desarmado, sentando-se ao lado dela. "Como foi o seu dia, Olivia? Você conseguiu o trabalho?"

Olivia olhou para ele, seu coração apertando. Ele era a única pessoa no mundo que fazia com que ela sentisse que valia a pena tentar. Ele era o motivo de todo o esforço, de toda a dor que ela suportava. "Sim", ela respondeu com um sorriso, mais genuíno do que imaginava ser capaz de dar naquele momento. "Foi bem legal. Eu aprendi muitas coisas sobre flores e... o pessoal lá é bem legal também."

Oliver olhou para ela com um brilho nos olhos, como se estivesse mais orgulhoso do que nunca. "Que bom, Olivia. Eu sabia que você ia conseguir."

Ela sentiu um aperto no peito, querendo dizer mais para ele, querendo explicar o quão difícil tudo estava sendo, mas não queria colocar aquele peso sobre os ombros tão pequenos dele. Em vez disso, a puxou para um abraço apertado, um gesto que transmitia tudo o que ela sentia por ele. "Eu vou dar o meu melhor, Oliver. Eu prometo que vou dar o meu melhor para a gente ficar bem."

O pequeno sorriu e abraçou Olivia com força, como se soubesse que ela faria qualquer coisa para garantir que ele estivesse seguro e feliz. "Eu sei", ele disse, com a confiança que apenas as crianças têm. "Eu te amo, Olivia."

"Eu também te amo, meu amor", Olivia respondeu, a voz embargada, tentando esconder a emoção. Ela sabia que a luta estava apenas começando, mas ali, com Oliver nos braços, ela sentia que tinha algo pelo qual valia a pena continuar.

Morte pelos InjustiçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora