Dias atuais\\ Reino de Soloria //
Math acordou ao som estridente do galo cantando, quase como um alarme natural e irritante. Espreguiçando, ele colocou a roupa, pegou a espada pendurada na parede, embainhou-a com uma expressão séria e saiu do cômodo. O alojamento dos guerreiros jovens estava deserto, afinal, era cedo demais para a maioria deles.
Ele deu uma olhada ao redor, ainda sem ver ninguém, e se aproximou de uma parede, cheio de uma ideia repentina - Se eu socar essa parede, será que vou quebrá-la? No outro dia, estava com muita força... - Ele fechou o punho, confiante, e deu um soco decidido.
– Aaaaai! – Math agachou, segurando a mão dolorida. A parede de tijolos continuava intacta, mas a mão dele já estava inchada. Ele foi direto para os curandeiros, tentando disfarçar a expressão de dor.
Pouco depois, seus amigos Miguel e Lancelot chegaram. Miguel olhou para ele, franzindo o cenho.
– Como é que você quebrou a mão treinando?
Lancelot começou a rir, apontando para a mão inchada de Math.
– Tá rindo de mim, né? – Math levantou a sobrancelha.
Lancelot tentou se recompor, mas não resistiu. – Desculpa, desculpa... é que... imagina a cena... – e continuou rindo, agora com mais movimentos de ombros do que som.
– Miguel, tira ele daqui, por favor – pediu Math, olhando sério para o amigo. Lancelot, ainda rindo, fez questão de sair da sala lentamente.
– Quer uma mãozinha aí? – provocou, enquanto saía.
Math pegou um frasco de ervas e jogou em direção a Lancelot, que escapou por pouco. O eco da risada dele ainda ficou no ar. Math então virou-se para Miguel.
– Depois eu pego ele.
– Pois é... mas como é que você quebrou a mão mesmo?
– Ah... Eu estava socando o boneco de treino até que ele caiu. Então avancei demais e… acertei a parede – admitiu, tentando disfarçar o embaraço.
Miguel balançou a cabeça, rindo de leve.
– Sorte sua que os curandeiros aqui têm ervas ótimas. Daqui a pouco sua mão estará boa.
Logo depois, Miguel foi treinar com os outros, enquanto Math ainda esperava o tratamento. Até que a porta da sala se abriu, e o Chefe entrou com ninguém menos que o Rei Malakar, o soberano de Soloria. Math se levantou rapidamente e fez uma reverência, surpreso.
– Pode se sentar, rapaz – disse o rei, com um aceno.
Math sentou-se de volta, ainda um pouco nervoso. Malakar se aproximou, com um sorriso meio contido.
– Eu li alguns relatórios sobre você. Ouvi dizer que é um dos mais dedicados, dos mais esforçados. Há muitos guerreiros com dons naturais, mas o trabalho duro... isso eu respeito.
Math sorriu, envergonhado, tentando esconder o orgulho que sentia. – Obrigado, majestade.
Malakar fez um gesto com a mão, pensativo.
– Eu perdi dois grandes amigos para aquele Rei Arthur... e quero vingança. Acredito que você seja capaz de cumprir essa missão. Eu preciso da sua ajuda para expor as fraquezas daquele reino.
Math assentiu, determinado. – Farei o meu melhor, majestade.
O rei olhou para ele, satisfeito. – Eu gosto da sua atitude. – Ele então saiu com o Chefe, deixando Math imerso em pensamentos.
Horas depois
Math se preparava para deixar o reino de Soloria para a sua nova missão. Miguel e Lancelot apareceram para se despedir, desejando boa sorte.
– Aí, segura essas moedas – disse o Chefe, entregando-lhe algumas moedas. – Pra não passar fome por lá.
Math agradeceu e foi até o estábulo pegar seu cavalo. Montando, ele se virou para os amigos com uma expressão determinada.
– Vai dar certo. Vou conseguir.
E, sem olhar para trás, partiu rumo ao Reino de Eldoria, sua mente cheia de planos e de um desejo enorme de se provar.
Horas depois
\\ Reino de Eldoria //
Math avistou o enorme portão do reino, imponente e bem guardado. Do lado de fora, soldados revistaram rigorosamente todos que tentavam entrar, enquanto arqueiros vigilantes se posicionavam nos muros, com os olhos atentos a cada movimento - Como vou passar por ali? - ele pensou, analisando suas opções.
Observando o fluxo ao redor, Math notou um grupo de mercadores se aproximando da entrada - Talvez eu tenha sorte de me misturar com eles - ele pensou, e rapidamente se infiltrou no meio dos comerciantes, tentando parecer parte da caravana.
Os soldados começaram a revistar as mercadorias dos mercadores, cada caixa, cada saco de suprimentos. Em dado momento, um dos soldados começou a caminhar em direção a Math - Droga, vão me descobrir - ele pensou, tentando manter a calma. Mas, de repente, um grito ecoou pelo portão.
– Há uma mulhe aqui com armas! – alertou um dos guardas.
Os quatro soldados desviaram sua atenção para a mulher enquanto os arqueiros nos muros rapidamente apontaram suas flechas para ela. Math se virou discretamente e viu que a mulher tinha longos cachos ruivos e uma postura destemida. Um dos soldados gritou:
– É a bruxa! Matem-na!
Outro soldado ordenou aos mercadores:
– Entrem, rápido!
Math e os outros mercadores não hesitaram. Aproveitaram a distração e apressaram-se para atravessar o portão. Antes de desaparecer pela entrada, Math deu uma última olhada para trás e viu a mulher ruiva fitando os soldados com um olhar penetrante.
– Vocês dois têm inveja dos outros soldados. Dá vontade de matá-los, não dá? – ela murmurou, com uma voz repleta de um estranho poder.
Imediatamente, dois dos soldados se viraram contra os outros, sacando suas armas e começando uma luta intensa. Math, agora dentro do reino, observava a cena com uma mistura de espanto e admiração. A mulher aproveitou a confusão que causara e desapareceu na floresta próxima, deixando os soldados embrenhados em sua breve, mas feroz batalha. Após alguns segundos, o efeito da magia desapareceu, e os soldados cessaram o ataque, um deles com o rosto marcado pela exaustão e fúria.
– Aquela bruxa… ela é muito perigosa – sussurrou um dos soldados para os outros. – Precisamos ter cuidado e nunca deixá-la entrar.
Math, que agora já estava bem dentro da cidade, sorriu para si mesmo - Graças a ela, consegui passar, - pensou. - Obrigado, bruxinha. - Ele deu uma última olhada para trás, com uma expressão de gratidão disfarçada, e depois prosseguiu para as ruas da cidade, adentrando ainda mais fundo no desconhecido com seu cavalo.
Continua...
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A ira dos deuses
FantasyDois bebês, Math e Anna, são deixados à deriva em um rio furioso em meio a uma tempestade, cada um protegido em seu próprio cesto, seguindo caminhos diferentes. Misteriosamente separados, eles são acolhidos e criados em reinos distintos, onde cresce...