CAPÍTULO 24

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"Isso é ridículo," disse Anakin assim que ficaram sozinhos em seus aposentos. Eles já haviam feito uma varredura para garantir que não estavam sendo vigiados de nenhuma forma. "Ele está nos mantendo como reféns, esperando que resolvamos seus problemas de negócios."

"Verdade," concordou Obi-Wan.

"Estamos perdendo tempo," disse Siri, soando tão impaciente quanto Anakin. "Odeio perder tempo. Ele está nos aproveitando, e sabe disso."

"O decodificador pode fazer a diferença para a República," Padmé os lembrou. "É vital que o consigamos. Isso não vale um pouco de investigação?"

Siri jogou sua mochila de sobrevivência no chão com um gesto irritado. A mochila fez um barulho ao atingir o chão. Obi-Wan a olhou com curiosidade. Ele já havia visto Siri impaciente antes - muitas vezes, na verdade - mas havia uma tensão em seu humor agora que ele não conseguia identificar.

"Bem, podemos começar agora," disse Anakin. "Taly disse que nos daria uma lista dos executivos que têm acesso ao escritório particular dele. Até lá, vou dar uma olhada ao redor, me ambientar ao lugar."

"Eu vou com você," disse Padmé. "Talvez possamos encontrar alguma pista."

A porta se fechou atrás deles. A mochila de Siri havia ficado presa no pé de uma mesa, e quando ela puxou, parte do conteúdo se espalhou pelo chão.

Obi-Wan se abaixou e gentilmente desenroscou a alça da mochila do pé da mesa. "Você está com raiva da mochila, da mesa? Ou de mim?"

Siri sentou no chão e olhou para ele. "Eu não achava que precisaríamos ficar aqui."

"Apenas por um dia."

"Um dia pode parecer muito, se for longo o bastante. O que eu sei sobre intrigas corporativas?" Siri resmungou. "Eu não sou a Jedi certa para esse trabalho."

"Você é a Jedi certa para qualquer trabalho." Obi-Wan sentou-se ao lado dela no chão.

"O que foi?"

"Eu acabei de te dizer."

"Não, você não disse."

Ela olhou para ele, queixo erguido. Defensiva, desafiadora, irritada. Então ela soltou o ar e balançou a cabeça com um sorriso triste.

"Você se lembra," ela disse, "na caverna, quando eu queria ajudá-lo a escapar?"

Obi-Wan sentiu a respiração prender. Eles não falavam disso há quase vinte anos. O assunto da missão com Taly era próximo demais da realidade do que havia acontecido entre eles.

Ele manteve a voz leve. "Um de nossos muitos argumentos."

"De que adiantou ele testemunhar?" Siri perguntou. "Uma aliança de caçadores de recompensas foi destruída. Alguns caçadores foram presos em planetas prisão. Não acompanhei, mas aposto que alguns deles já estão livres agora. Os pais dele foram mortos, e agora olhe para ele. Veja no que aquele garoto se transformou. Esse homem instável, desconfiado, amargurado que só se importa com riqueza e poder. Mas, por dentro, o garoto ainda está lá, eu sinto, e ele ainda está sofrendo. Você reparou no escritório dele? A mesa, as lâmpadas? Do que elas te lembraram?"

Obi-Wan balançou a cabeça, confuso.

"As duas luzes laranja," Siri disse suavemente. "A mesa dourada."

Obi-Wan soltou um suspiro. "Cirrus. Os dois sóis, o mar dourado."

"Ele não esqueceu o que perdeu. Nem por um minuto," disse Siri. "E se tivéssemos deixado ele ir? E se ele tivesse crescido em uma família amorosa?"

"Jedi não lidam com 'e se'."

Siri balançou a cabeça, exasperada. "Obi-Wan, pelo amor das estrelas, você me irrita como ninguém. Jedi não se tornam generais em guerras galácticas, também. Jedi não assistem seus companheiros serem explodidos em grandes batalhas. As coisas mudaram. Você notou?"

"Sim," Obi-Wan disse em voz baixa. "Eu notei. Mas ainda não acredito que olhar para trás e questionar decisões que você tomou há vinte anos seja útil ou justo."

"Antes, para mim, não havia perguntas, só respostas," disse Siri. À medida que seu humor mudava, seus olhos azuis brilhantes escureciam para um tom de azul-marinho. Ele havia se esquecido de como isso acontecia, de como a cor dos olhos dela podia se aprofundar com seus sentimentos. "Eu mudei. Agora questiono tudo. Já vi demais, temo demais pelo que a galáxia está se tornando." Ela voltou seu olhar direto para ele. "Você nunca olha para trás e questiona o que fez sobre algo? Se pergunta se poderia ter feito algo diferente?"

"Esse é um lugar perigoso para um Jedi," disse Obi-Wan. "Fazemos o que fazemos, como Qui-Gon costumava dizer."

"Qui-Gon viveu em uma época diferente," disse Siri. Ela recostou a cabeça na parede. "Quando Ferus ainda estava comigo, fomos em uma missão para Quas Killam, na extremidade do Mid-Rim. Tínhamos que supervisionar negociações de paz entre duas facções governamentais que tentavam formar uma coalizão. Um dos lados era um cartel que controlava grande parte do suprimento de trínio do planeta, um mineral usado na fabricação de sistemas de armas. Muito importante, e que tornou muitos Killams muito ricos. Supervisionamos as negociações, vimos a formação de um governo de coalizão. Uma missão muito bem-sucedida. Mas Ferus me disse, 'Algo não está certo aqui. O cartel fez muitas concessões. É como se soubessem de algo que não sabemos.' E eu disse, 'O que podemos fazer? Nossa missão está concluída. Jedi não interferem em política planetária. E temos muitos lugares para ir.' Tenho certeza de que você já disse o mesmo para Anakin." Siri parou. Ela suspirou. "No início das Guerras Clônicas, a Federação do Comércio trabalhou em aliança com o chefe daquele cartel para tomar o governo de Quas Killam. Agora eles possuem todas as fábricas, todas as minas de trínio. Os Killams que não faziam parte do cartel - muitos deles foram mortos. Muitos foram forçados a trabalhar nas fábricas."

"Eu já ouvi isso sobre Quas Killam," disse Obi-Wan. "Está dizendo que poderia ter evitado isso?"

"Não sei," Siri refletiu. "Mas e se eu tivesse ficado? E se eu tivesse observado um pouco mais de perto, questionado um pouco mais? Sabemos que os Separatistas e o Conde Dookan plantam sementes. Eles estão dispostos a esperar anos pelos resultados. Eles estavam preparando tudo, enquanto fazíamos missões de paz. E se tivéssemos escutado melhor e feito mais, anos atrás, quando teria tido um impacto?"

Obi-Wan balançou a cabeça. "Siri, você está pedindo demais de si mesma. E de todos nós."

"Você não respondeu à minha pergunta," disse Siri.

"Pergunta?"

"Você olha para trás?"

Ele olhava para trás? Claro que sim, o tempo todo. Principalmente em relação a Anakin. Em um momento em que deveriam estar mais próximos, estavam mais distantes do que nunca. O que ele poderia ter feito diferente? Será que ele virou o rosto para o que não queria ver? Anakin ainda era seu Padawan, mas Obi-Wan mal era seu Mestre. Anakin havia ido a um lugar onde Obi-Wan não podia alcançá-lo. Ele tinha a sensação de uma criatura contida por um arnês que já estava desgastado. Um dia desses, Anakin se libertaria... um pensamento que gelava Obi-Wan. Mas Obi-Wan escolhia ignorar esses pensamentos - por amizade.

Mas ele não queria contar essas coisas a Siri. O que ela tinha dito, tantos anos atrás? Seremos camaradas. Não melhores amigos. Ela não estava disponível para confidências. Se ele derramasse seu coração para ela, onde pararia?

"Eu olho para trás," disse ele, tentando encontrar as palavras que queria. "Mas me digo que a galáxia será segura com ações, não com arrependimentos."

Por alguma razão, sua resposta a entristeceu. Ele pôde ver isso nos olhos dela. "Sim," ela disse. "Eu me agarro ao dever. Isso sempre me salvou."

Ela se levantou de um salto. Num piscar de olhos, seu humor havia mudado, e ela era novamente a Jedi decidida que ele conhecia tão bem. "Falando nisso, temos vinte e quatro horas. É melhor começarmos."

Star Wars: Secrets of the JediOnde histórias criam vida. Descubra agora