Penélope Featherigton

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Penélope mal percebeu o momento em que foi retirada da igreja. Seus olhos estavam lacrimejados, sua visão turva com as lágrimas que não cessavam de cair. Ela não se importava com a multidão de olhares preocupados, com o burburinho ao seu redor. A dor que a consumia era tão grande que o mundo parecia ter se tornado um lugar distante, onde ela não pertencia mais.

Ela foi conduzida por entre os corredores da igreja, seus passos vacilantes, como se estivesse pisando em algo que já não fazia sentido. As mãos, que um dia estiveram tão confiantes, agora estavam fracas, o tecido do vestido de noiva manchado de sangue – o sangue de Daniel, o homem que ela tinha amado e que agora estava morto, sem ao menos ter conseguido entender o quanto ela sentia por ele. Ele estava ali, na igreja, prometendo uma vida juntos, e tudo foi arrancado dela de forma tão brutal e abrupta.

Quando finalmente chegou à carruagem, a sensação de estar sendo levada para um destino desconhecido a atingiu com força. O que restava de sua vida estava irreparavelmente mudado. Ela olhou para fora da janela do veículo, as ruas de Londres passando em borrões enquanto a dor e o arrependimento se misturavam em seu peito. Ela não sabia mais o que sentia: uma angústia profunda por tudo que perdera, uma culpa por ter sido incapaz de salvar Daniel, e uma incompreensão absoluta sobre o que havia acontecido com o seu futuro.

Chegando em casa, Penélope foi recebida pela presença silenciosa de sua mãe, que a observava com um olhar que, pela primeira vez, parecia ter um toque de preocupação genuína. Não eram palavras que ela queria ouvir. Ela sabia o que Portia pensava sobre a situação: que o casamento era uma oportunidade perdida, um plano frustrado, mas nada disso importava naquele momento. Nada mais parecia fazer sentido.

Sem palavras, Penélope subiu as escadas, seus pés pesando como se carregassem o peso do mundo. Quando entrou no seu quarto, tudo parecia vazio e desconectado. O espelho refletia uma mulher diferente, uma mulher que mal reconhecia. O vestido de noiva, agora manchado, estava sobre o corpo de uma jovem que, aos olhos de qualquer outra pessoa, deveria estar feliz e celebrando o início de uma nova vida, mas que agora estava afundada em um abismo de dor e solidão.

Ela se jogou na cama, os braços estendidos para os lados, e ficou ali, olhando para o teto, sem forças para sequer se mover. Aquelas últimas horas haviam sido como um pesadelo do qual não conseguia acordar. O som do disparo ainda ecoava em sua mente, o grito agudo que saíra de sua garganta, a visão de Daniel morrendo nos seus braços, tudo isso ainda a assombrava.

Por um momento, Penélope fechou os olhos, tentando afastar o turbilhão de pensamentos e emoções. Mas tudo o que conseguiu foi se perder em lembranças – lembranças de um futuro que jamais existiria, de uma vida que ela havia imaginado ao lado de Daniel e que, de repente, desaparecera como fumaça no vento.

Foi então que, em meio ao silêncio absoluto do quarto, ela sentiu a presença de sua mãe entrando lentamente, sem fazer barulho. Portia se aproximou, mas sua filha não reagiu. Penélope não queria palavras, não queria conselhos. O que ela mais queria naquele momento era poder apagar tudo o que havia acontecido, mas sabia que isso era impossível.

Portia se abaixou ao lado da cama, colocando uma mão sobre o ombro da filha, tentando mostrar que estava ali, que o amor materno ainda persistia, mesmo que Penélope já não conseguisse sentir mais nada além de um vazio imenso. Ela queria que sua mãe dissesse algo, qualquer coisa que a fizesse sentir-se menos perdida, menos sozinha, mas não havia nada que as palavras pudessem fazer agora. Penélope estava completamente desconectada da realidade, aprisionada no próprio sofrimento.

Ela respirou fundo, como se tentasse reunir forças, mas as palavras não saíam. O peso da noite anterior ainda a oprimia, e tudo o que ela sentia era a desconexão do mundo, da família, e de si mesma.

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