the Girl

Penélope Featherigton

Com o baile já se encerrando e a música diminuindo, Penélope aproveitou a distração dos convidados e rapidamente desapareceu. Evitando qualquer atenção, ela deslizou por entre as portas do salão e, em pouco tempo, se encontrava pelas ruas silenciosas, caminhando com determinação rumo à gráfica.

Ao chegar, a gráfica estava escura e silenciosa, exatamente como ela preferia para essa tarefa arriscada. Penélope ajustou o capuz de seu manto para esconder o rosto e começou a preparar o novo artigo de Lady Whistledown, desta vez, sem hesitação e com palavras afiadas como nunca.

O texto que escrevia não era apenas um relato comum. Em cada linha, Penélope traçava uma acusação sutil, apontando com maestria para as famílias mais ricas e poderosas, sugerindo uma possível conspiração por trás da morte de Lorde Daniel Debling. Com suas palavras cuidadosamente escolhidas, ela insinuava que interesses obscuros poderiam ter levado ao trágico fim do jovem lorde.

Mas o mais ousado de tudo foi o parágrafo destinado à rainha. Penélope sabia que a soberana sempre guardara ressentimentos contra Lady Whistledown, talvez por ser uma figura que rivalizava com sua influência na sociedade.

“Até mesmo a coroa pode cair na lama,” ela escreveu, “quando seus alicerces são construídos sobre a inveja e o poder corrupto. Que a vossa majestade, tão ansiosa por controle e reconhecimento, olhe bem para o próprio espelho e para aqueles que a cercam.”

Penélope sabia que aquelas palavras causariam um furor. As acusações eram provocantes, e o ataque direto à rainha seria um escândalo em potencial. Mas havia uma satisfação em cada palavra, um sentimento de libertação e ousadia que ninguém jamais associaria à recatada Penélope Featherington.

Após revisar o texto e garantir que tudo estava conforme desejava, Penélope deixou a gráfica às pressas, mantendo o rosto oculto. Enquanto caminhava pelas ruas desertas de volta para casa, sabia que, no dia seguinte, Londres não falaria de outra coisa senão o novo escândalo de Lady Whistledown.

Lady Whistledown’s Society Papers

Aos curiosos que encontram conforto nas mentiras que contam a si mesmos, devo advertir: a verdade sempre acaba por emergir, e suas ondas são tão poderosas quanto destruidoras. Não é o brilho das joias ou a ostentação dos salões de baile que sustenta a elite de Londres, mas sim segredos sombrios, urdidos por aqueles que fariam qualquer coisa para preservar seu poder e aparência. E, como dizem os irlandeses, o veneno que se oculta no copo de ouro é ainda mais letal.

A trágica morte de Lorde Daniel Debling foi anunciada como um infortúnio, mas permitam-me sugerir que sua partida carrega o odor pungente da conspiração. Quantos daqueles que hoje choram sua ausência não estariam, semanas atrás, arquitetando formas de dobrar seu jovem coração para seus próprios interesses? As famílias mais influentes deste reino, movidas pela ganância e pelo medo, se apressam em fazer alianças e promessas. E por quê? Porque, meus caros, é a necessidade de preservar seu status que os torna cruéis. Dizem que o bom Lorde Debling encontrou morte trágica e precoce; eu digo, então, que Londres pode não ser o palco perfeito que tanto admira, mas sim uma cena de crime onde mãos nobres seguram adagas invisíveis.

Quanto à nossa querida monarca — pois quem mais poderia merecer tanto destaque? — é surpreendente notar como sua majestade tem se mostrado insatisfeita com o reconhecimento alheio. Como é doloroso, creio eu, ter uma sombra que lhe ofusque o brilho, uma sombra que traz consigo a voz da verdade. Ah, Vossa Majestade, deve ser difícil conviver com o fato de que seu domínio não é absoluto, que sua influência não é total e que uma mera caneta pode abalar o reino mais do que o cetro. Contudo, sugiro que a rainha dedique menos tempo em tramas contra mim e mais na contenção daqueles que tão livremente circulam ao seu lado — pois o ouro que os reveste não esconde a ferrugem de suas intenções.