Penélope Featherigton

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Penélope desceu as escadas com passos lentos, sentindo o tecido pesado e elegante de seu vestido irlandês balançar suavemente. Era uma peça diferente de tudo o que costumava usar nas festas de Londres: em vez dos cortes estruturados e rígidos, seu vestido era fluido, com detalhes bordados que lembravam a terra e as tradições de sua família. O cabelo, solto e levemente ondulado, caía sobre seus ombros, dando-lhe uma aparência etérea, quase como se tivesse saído de uma lenda irlandesa.

Assim que chegou à sala, que já estava decorada com as cores e símbolos da Irlanda, foi recebida por olhares curiosos — e ligeiramente debochados — de suas irmãs, Prudence e Philippa, que não resistiram a uma risadinha abafada. Os maridos delas, com um ar desajeitado e entediado, lançavam olhares curiosos para a decoração, parecendo completamente alheios à tradição por trás do tema da festa.

— Ora, vejam só, Penélope, toda pronta para encantar algum irlandês esta noite? — brincou Prudence, com um sorriso afetado.

— Ou talvez ela ache que os Bridgertons têm uma queda por vestidos estranhos? — acrescentou Philippa, enquanto trocava um olhar divertido com o marido.

Penélope, acostumada às implicâncias das irmãs, manteve a expressão serena, ignorando as provocações. Embora as palavras delas tivessem uma ponta de malícia, Penélope sentia-se orgulhosa por usar algo que celebrava suas origens, algo que a conectava com a história de sua família e de sua terra natal.

— Vocês deveriam experimentar algo assim algum dia — respondeu ela com calma, encarando-as sem se intimidar. — Talvez entendam o que significa honrar as próprias raízes.

Prudence revirou os olhos, visivelmente desinteressada na ideia de mergulhar na tradição irlandesa. Philippa murmurou algo para o marido, que apenas deu de ombros, sem interesse.

— Bom, espero que sua escolha peculiar traga sorte esta noite, Penélope — disse Prudence, com um tom quase condescendente. — Afinal, parece que anda precisando de atenção de alguém além de... bem, das crianças Bridgerton.

Penélope manteve o sorriso, mas por dentro as palavras a atingiram. Com elegância, decidiu ignorar o comentário e se dirigiu para outro lado da sala, aproveitando a paz antes que os convidados chegassem. Ela sabia que esta noite seria cheia de olhares, de comentários, mas, acima de tudo, queria sentir-se em casa, mesmo estando cercada de uma sociedade que mal compreendia o que aquela cultura significava para ela.

Portia desceu as escadas com uma graça autoritária, vestindo um traje irlandês semelhante ao de Penélope. O vestido era rico em detalhes, com bordados minuciosos que celebravam símbolos irlandeses, e o cabelo estava solto, em uma rara escolha que a fazia parecer quase maternal — mas sem perder sua postura imponente. Quando ela se aproximou das filhas mais velhas e notou que estavam com vestidos comuns de Londres, um brilho severo apareceu em seu olhar.

— Prudence, Philippa — Portia disse, com uma frieza controlada. — Eu deixei claro que essa noite era sobre nossa herança. Esperava ver vocês respeitarem isso.

As duas ficaram visivelmente desconcertadas, trocando olhares incômodos. Prudence tentou sorrir, gesticulando para o próprio vestido.

— Mãe, nós... bem, os vestidos eram... um pouco antiquados, não acha? Muito... volumosos — ela tentou justificar, rindo nervosamente.

Philippa concordou com um aceno, o marido dela murmurando uma risadinha sem graça ao lado.

— Sim, achamos que os vestidos londrinos nos favoreceriam mais — completou ela, ajustando os ombros, quase tentando se afastar da crítica da mãe.

Portia suspirou, desapontada, mas logo desviou o olhar para Penélope, que permanecia serena e orgulhosa em seu vestido tradicional. Portia estudou a filha mais nova por um momento, e então, numa atitude surpreendente, sorriu ligeiramente e disse, em um tom que soou quase como uma bênção:

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