5.2 Amiguinhos

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Quando cheguei no restaurante no dia seguinte, percebi o quão bom estava o meu humor.

Eu sentia falta da Bolsa... Muita. Mas não podia negar que a vida no bordel era infinitamente mais tranquila, especialmente quando tudo corria como eu esperava.

O que obviamente não era o caso daquele almoço, eu logo notei, quando avistei os cabelos longos de Lola quase cobrirem o encosto da cadeira próxima a Papá.

Na verdade... Não era bem restrito ao almoço. Era mais a presença dela em si que tirava o caráter fácil do meu atual trabalho.

- Boa tarde. – cumprimentei e a mesa toda se virou para mim. Priscila e Papá com sorrisos calorosos, Murilo batendo as mãozinhas na aba de seu cadeirão e Lola com aquele olhar esnobe e irritantemente sedutor, digno de uma prostituta de tempo integral.

- Aqui, moleque, sente-se! – Papá agitou-se, indicando a cadeira da ponta. Eu tinha Lola de um lado e Murilo do outro, então era de se esperar que a minha atenção foi imediatamente roubada pelo meu pequeno amiguinho.

- E ai, seu pestinha? – falei, assistindo a criança dar um gritinho fino e esticar as mãos para mim.

- Murilo, não. Você precisa terminar de comer primeiro. – Claro, era um serzinho de 3 anos, haveria de se esperar que ele tivesse um horário de almoço mais adiantado. Mas Murilo não ligou para a ordem de Priscila e continuou contorcendo-se na cadeirinha com os braços esticados na minha direção.

Eu não atrevi me meter, mas ele estava ficando vermelho e eu podia apostar que a qualquer segundo começaria a chorar se a mãe adotiva não fizesse o que ele queria.

Bufando, Priscila largou sua taça de vinho, retirou a comida da frente dele, e abriu a aba para que ele ficasse livre.

- Esse monstrinho é teimoso que só ele. Se não consegue as coisas na hora que as quer, fica emburrado e faz drama. – ela explicou, segurando-o pelas axilas e apontando para mim. – Vamos, menino, segure ele um pouco.

Murilo veio feliz da vida para o meu colo e se empenhou na sua atividade favorita da vida: mexer com os botões da minha camisa. Passou o almoço inteiro ali, quietinho e entretido, e até mesmo finalizou sua refeição na maior boa vontade.

Eu, que não era louco de reclamar, apenas me certifiquei que ele não fosse cair ou engolir um dos botões, e socializei normalmente, apenas evitando me dirigir ao meu lado esquerdo, por razões óbvias.

Eu ainda não entendia o que diabos Lola fazia ali, considerando que Papá tinha dito "família" e que suas colegas de profissão aparentemente não haviam sido convidadas. Seria possível que só porque a moça morava sob seu teto Papá tinha para com ela tamanha consideração?

O restaurante era francês, meu tipo favorito de comida, e também o mais sofisticado. E, surpreendentemente, a prostituta soube se portar com os garfos e facas específicos, deu goles curtos da taça de vinho e usou adequadamente o guardanapo de pano, contrariando a imagem que eu tinha de uma... Mulher da vida.

Pelo menos isso indicada que o estabelecimento de Papá não era das maiores espeluncas, tinha certa classe.

Conversamos sobre as mudanças todas, sobre os resultados gratificantes da noite anterior e sobre concorrentes em potencial no bairro. Fiquei à par de uma série de informações novas e relevantes, que deveriam me ter sido passadas antes, mas eu não ia protestar: Se o velho soubesse o que era relevante para tocar um negócio, não estaria na merda em que se encontra.

[Degustação] BordelOnde histórias criam vida. Descubra agora