Capítulo 30: Um Passo de Cada Vez

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SAM

Eu sinceramente não sei como ou quando voltei para casa. Tudo parecia um borrão, um emaranhado confuso de pensamentos e sensações. Só lembro de abrir a porta, atravessar o corredor e me jogar na cama, exausto, física e emocionalmente. Fiquei ali, encarando o teto, sentindo meu coração acelerar e desacelerar como se estivesse tentando acompanhar o caos na minha cabeça.

Por algum tempo, o silêncio do quarto foi meu único conforto. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, eles perceberiam que eu estava de volta. E foi exatamente isso que aconteceu. Ouvi passos apressados do lado de fora, seguidos por vozes abafadas. Então, a porta se abriu de repente.

Minha mãe e a tia Luna entraram ao mesmo tempo, os rostos cheios de preocupação.

— Meu Deus, filho, você está bem? — minha mãe perguntou, quase correndo até mim. Ela se ajoelhou ao lado da cama, colocando a mão no meu rosto.

— Onde você estava? — Luna perguntou, com a voz firme, mas havia um tom de alívio por trás. — Você sabe o quanto ficamos preocupadas?

Suspirei, me sentando na cama com esforço. Eu queria responder, queria dizer algo que as tranquilizasse, mas as palavras pareciam presas na minha garganta.

— Eu... só precisava de um tempo, — murmurei, evitando seus olhares.

Minha mãe sentou-se na beirada da cama, o rosto cheio de dúvidas e dor.
— Filho, a gente entende que você pode precisar de espaço, mas você desapareceu por horas sem dar notícia. Você não atende o celular, não responde as mensagens... Não podemos continuar assim.

Luna cruzou os braços, observando-me atentamente.
— Isso não é a primeira vez, sabe? Você tem sumido cada vez mais, se fechado cada vez mais. Nós precisamos conversar sobre isso.

As palavras delas me atingiram como um soco no estômago. Eu sabia o que elas queriam dizer, sabia exatamente para onde essa conversa estava indo. E isso só aumentava o peso no meu peito.

Minha mãe hesitou antes de continuar, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
— Filho... Já faz um tempo que estamos preocupadas. Suas mudanças de humor, esses momentos em que você parece... tão distante...

Luna completou, sem rodeios:
— Achamos que pode ser algo mais. Talvez você esteja lidando com... bipolaridade.

A palavra ecoou no quarto, tão clara e pesada que parecia encher o espaço. Meu coração disparou.

— O quê? — tentei disfarçar a reação, mas minha voz saiu mais alta do que pretendia. — Vocês acham que eu... que eu tenho isso?

Minha mãe segurou minha mão com cuidado, a voz baixa e cheia de carinho.
— Não é uma acusação, filho. Não estamos dizendo que você é "anormal" ou qualquer coisa assim. Queremos te ajudar, só isso.

Luna assentiu, mas manteve seu tom direto.
— Ninguém aqui é médico, mas não dá para ignorar o que está acontecendo. Talvez conversar com alguém, um profissional, ajude.

Fechei os olhos, tentando conter a raiva e o medo que subiam pelo meu peito como uma onda. Porque, no fundo, eu já sabia. Eu vinha desconfiando há meses, mas nunca tinha coragem de admitir, nem para mim mesmo. Era como se, ao dizer em voz alta, eu tornasse tudo real.

— Eu não sei, — murmurei, minha voz quase sumindo. — Talvez seja só... estresse.

— Filho... — minha mãe começou, mas eu me levantei, incapaz de continuar naquela conversa.

— Eu só preciso de um tempo. Por favor.

Antes que elas pudessem dizer mais alguma coisa, saí do quarto e fui para o banheiro. Fechei a porta e me encostei nela, respirando fundo. Minhas mãos tremiam, e meu coração parecia querer sair do peito.

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