Capítulo 23: Conversa.

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SAM

Olhei para o grande prédio à minha frente. Este era o edifício principal, onde eu teria aulas de matérias normais como Matemática, Biologia, Literatura, etc... O campus, que até alguns dias atrás estava praticamente deserto, agora estava cheio de alunos, cada um com seu próprio estilo e identidade. Eu tentava esconder o nervosismo, mas, com o passar dos segundos, parecia cada vez mais difícil. Tudo era novo, tudo era intenso. Ser o “aluno novo” era uma sensação que eu não esperava que fosse tão desconfortável.

Enquanto respirava fundo, tentando parecer mais calmo do que realmente estava, senti alguém tocar meu ombro. Virei-me, pronto para mandar Cole à merda — quem mais seria tão atirado assim? — mas me deparei com um rosto familiar.

— Elle! — exclamei, sentindo uma mistura de surpresa e alívio.

Ela sorriu, e o olhar dela me trouxe uma sensação de conforto que eu não percebi o quanto estava precisando.

— Confesso que, sem o cabelo ruivo, foi mais difícil te encontrar — ela brincou, enquanto começávamos a andar em direção ao prédio central. — Mas é bom ver um rosto conhecido. Odeio ser a garota nova.

— Então somos dois que odiamos ser novatos — murmurei, mas depois de um segundo de hesitação, soltei algo que precisava tirar do peito. — Sobre o Charlie… Eu…

Elle deu um longo suspiro, me interrompendo com um sorriso meio amargo.

— Tá tudo bem, Sam. Claro que eu queria te matar quando soube que você terminou com ele, com os meninos... Mas eles vão ficar bem — Ela deu uma risadinha nervosa, e por um momento os olhos dela se desviaram, encarando o nada.

Eu engoli em seco, sentindo um aperto no peito. Esse assunto sempre me deixava tenso. Nick, Charlie e eu tínhamos algo muito forte, mas as coisas ficaram complicadas demais. Por mais que eu tentasse seguir em frente, uma parte de mim gostaria de voltar aquela noite e fazer tudo diferente.

— Eu só espero que eles entendam algum dia — sussurrei, tentando manter a voz firme. — Não foi fácil pra mim também, Elle. Mas foi o melhor que pude fazer na época.

Elle parou e colocou a mão no meu ombro, encarando-me com uma expressão sincera e solidária.

— Você é um dos meus melhores amigos, Sam. Só quero que saiba que estou aqui, tá? Sempre que precisar.

Havia algo tão genuíno no olhar dela, e de repente, parte do peso que eu carregava parecia mais leve. Não importa o que tivesse acontecido, eu ainda tinha alguém do meu lado.

Ficamos em silêncio, e o barulho dos passos de outros alunos ecoava pelos corredores enquanto passávamos. Alguns olhares curiosos e cochichos vieram em nossa direção — ser o “aluno novo” não era fácil, ainda mais quando seu passado era complicado. Eu ainda carregava os pedaços dos meus erros e das feridas que deixei para trás.

— Bom, então… o que você acha desse lugar? — Elle quebrou o silêncio, tentando aliviar o clima enquanto olhava ao redor do enorme saguão com vitrais coloridos e escadarias de madeira maciça. — Parece cenário de filme, né?

— É… bem diferente do que estamos acostumados — admiti, rindo meio sem jeito, tentando esconder o quanto me sentia fora do meu elemento. — Mas, não vou mentir, a ideia de estudar num lugar assim ainda me deixa meio desconfortável.

Ela assentiu, e sua expressão de repente ficou mais séria, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.

Continuamos caminhando até o corredor principal. Elle olhou para o celular e arregalou os olhos.

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