Capítulo 26: Jornada parte 2

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CHARLIE
Esses dois meses foram os mais longos da minha vida. Acordar era um desafio diário, e sair da cama parecia impossível. Não importava quantas vezes minha mãe entrasse no quarto com palavras de encorajamento ou quantas mensagens Nick enviasse tentando me animar. Eu estava preso em um ciclo de culpa e vazio que parecia não ter fim.

Minha mãe fazia o que podia, mas o silêncio entre nós era pesado. Ela parava na porta, observando, talvez esperando alguma reação minha. E eu sabia que estava magoando ela. Sabia que, com cada dia que passava, estava me afundando ainda mais, e levando quem eu amava comigo.

— Charlie... — ela disse uma manhã, com uma voz cansada, mas firme. — A gente precisa conversar.

Eu não respondi. Permaneci encarando o teto, tentando fingir que não a ouvi.

— Não dá para continuar assim. Eu sei que você está sofrendo. Sei que não é fácil... Mas você não pode fazer isso sozinho.

Era isso que eu temia ouvir. Minhas mãos tremeram enquanto eu tentava segurar as lágrimas. Parte de mim queria gritar, dizer que eu não estava sozinho, que tinha Nick. Mas outra parte sabia que isso não era suficiente. Nem para ele, nem para mim.

— A clínica é uma opção, Charlie. Eles podem ajudar você a lidar com tudo isso... de um jeito que eu não consigo.

A palavra “clínica” ecoou na minha mente como uma sentença. Eu sabia que era o melhor a fazer, mas aceitar isso parecia admitir que eu era um fardo, que eu havia falhado.

— Eu não quero ir — murmurei, quase sem som.

Minha mãe se ajoelhou ao lado da cama e segurou minha mão, mesmo quando tentei afastá-la.
— Eu sei que você não quer, amor. Mas eu quero que você fique bem. Quero ver você sorrir de novo, quero que você viva... E Nick também.

Quando ela mencionou Nick, o peso da realidade caiu sobre mim. Ele merecia alguém melhor, alguém que não fosse quebrado como eu. Lembrei de como ele segurava minha mão com tanta paciência, de como ele dizia que me amava mesmo quando eu não conseguia responder.

Naquela noite, antes de dormir, enviei uma mensagem para ele.

“Oi. Minha mãe quer que eu vá para a clínica. Eu não sei o que pensar. Desculpa por tudo.”

A resposta veio rápido.

“Charlie, você não precisa pedir desculpas. Eu só quero que você fique bem. Se isso for ajudar, eu vou estar com você em cada passo. Eu prometo.”

Dois dias depois, estávamos no carro, minha mãe dirigindo em silêncio enquanto eu encarava a paisagem pela janela. Tudo parecia tão surreal, como se eu estivesse assistindo a cena acontecer com outra pessoa. Nick tinha me prometido que estaria comigo, mas parte de mim ainda tinha medo. E se ele desistisse? E se eu fosse um peso muito grande para carregar?

Quando chegamos, meu coração estava acelerado. O prédio era grande, cercado por árvores, quase como uma escola. Lá dentro, tudo parecia limpo demais, organizado demais. Um cheiro estranho de desinfetante invadia o ar.

A primeira pessoa que me recebeu foi uma mulher de cabelos grisalhos e sorriso gentil.
— Você deve ser o Charlie — disse ela, estendendo a mão. — Eu sou a Dra. Harper. É um prazer conhecer você.

Eu não sabia o que dizer, então apenas assenti.

Minha mãe ficou comigo durante o processo inicial, mas quando chegou a hora de ela ir embora, senti um aperto no peito. Eu queria pedir para ela ficar, queria correr atrás dela quando a vi sair pela porta. Mas fiquei parado, como se meus pés estivessem colados no chão.

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