6. Olhares mortos

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Lily acordou grogue. Quando ela olhou ao redor, viu que estava em um ambiente cheio de jovens e crianças, com tijolos grossos e uma parede de grades de prisão impedindo qualquer possível fuga. Todos pareciam estar numa situação deplorável, com trapos e corpos desnutridos e sujos. 

Ela percebeu que o chão estava grudento, e quando levantou a mão, percebeu um líquido escuro. O cheiro ferroso seria incapaz de levar a nenhuma outra alternativa — era sangue.

“Ah!” Lily levou em um susto, esfregando a mão em suas roupas esfarrapadas. Isso chamou a atenção das crianças, que tinham olhares sem vida. Ninguém se deu ao trabalho de explicar o que estava acontecendo, porque nem eles sabiam.

Depois de limpar as palmas o máximo que pôde, Lily se levantou e foi até as barras de ferro. Quando ela estava prestes a chamar por alguém, uma mão tapou sua boca.

“Nem pense em fazer barulho.” A voz de um garoto sussurrou em seu ouvido.

Quando Lily ia tentar tirar a mão para responder, o som de passos ordenados veio do corredor, aproximando-se cada vez mais rápido. Sem nem pensar, o garoto a jogou no chão, sendo o único a ficar de pé.

Guardas chegaram e viram essa cena. Eles riram em desdém. “Olha, já sabemos que vai ser o próximo.”

O garoto começou a tremer de forma intensa, virando lentamente seu olhar para Lily.

O olhar sem vida foi a última coisa que ela viu, antes que a cela se abrisse e ele fosse arrastado para fora. 

Assustada, Lily foi até o fundo da cela, ficando perto das outras crianças. Pouco tempo depois, gritos estridentes ressoaram nas paredes velhas do calabouço, horrorizando todos que o ouviam. Tais gritos duraram minutos, senão dezenas de minutos, até se findarem em um clamor rouco e sem forças. 

Durante todo o processo, Lily ficou congelada, sem reação. Os olhares das crianças ao redor pareciam facas que retalhavam sua mente e coração.

“Me desculpa, me desculpa…” Ela colocou a cabeça entre as pernas e as abraçou, extremamente arrependida de ter sido impulsiva. 

Por sua culpa, aquele menino havia morrido. 
Esse fato martelou cruelmente sua cabeça. 

“Ele morreu porque tentou te salvar.” Uma voz murmurou em seu ouvido.

“Mas não se preocupe.”

Ele não será o único.

Quando Lily levantou a cabeça, viu um homem alto a encarando. Ele usava terno completamente preto, seus cabelos negros como o breu, com pele de cor acastanhada. Entretanto, o brilho de seus olhos claros parecia ir até o fundo sua alma.

Era Celestine.

“Mas… eu não quero. Não quero que isso aconteça.” Ela falou bem baixinho, tanto que os outros nem ouviram.

Mas Celestine escutou.

“Isso não está sob seu controle. Mas tudo bem.”

Ele se agachou, apoiando um joelho no chão, e acariciou o cabelo dela com carinho. 

“Porque eu sempre estarei com você.”

Assim, ele desapareceu.

Lily ainda ficou um pouco atordoada, sem saber o que havia acontecido. Por que ele apareceu no mundo real? Por que os outros pareciam não o ter visto?

Ela estava alucinando?

Um dia se passou sem água e sem comida. Lily olhou ao redor. Todos pareciam acostumados, encostados em seus cantos, como esqueletos silenciosos. Seus olhares baixos, esperança esmaecida.

A Beleza da Vida e da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora