Capítulo 11: A Tensão Crescente

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"Quanto mais forte a tensão, mais imprevisível a explosão."

Clara

A manhã estava calma, e eu, ainda com a mente cheia de pensamentos, decidi sair para correr. O ritmo dos meus passos ajudava a aliviar a tensão, a necessidade de dar um tempo a tudo o que estava acontecendo. Não queria pensar em Lucas, mas ele estava lá, na minha cabeça, como uma presença constante, com todas as suas complicações.

Foi quando, ao virar uma esquina, me deparei com ele. Lucas estava ali, com um visual muito mais casual do que o usual: bermuda descolada, camiseta confortável e garrafinha de água nas mãos. Ele estava relaxado, sem os ternos impecáveis que usava no trabalho, e isso me surpreendeu de uma maneira inesperada.

- Clara? - ele sorriu, com uma expressão que refletia a surpresa de nos encontrarmos ali. - Que coincidência, hein?

Eu não esperava vê-lo ali, mas a ideia de continuar a corrida parecia mais fácil agora que ele estava ali.

- Eu estava só correndo... - disse, tentando manter a calma, mas algo dentro de mim disparou ao vê-lo tão... acessível. Ele olhou ao redor como se procurasse algo para dizer.

- Também estou tentando relaxar um pouco, sabe? Não sou muito fã de academia - ele riu, parecendo genuinamente à vontade. - O ar fresco é melhor.

Fui pega de surpresa, mas ao mesmo tempo, não pude deixar de achar o momento leve e agradável. Eu não sabia muito sobre a rotina dele, mas estava começando a entender que Lucas não era apenas o homem de negócios que eu imaginava.

- Você mora por aqui? - perguntei, um pouco curiosa. Ele me olhou com um sorriso tranquilo e apontou para o horizonte.

- Moro em um bairro mais... reservado, um pouco mais afastado. - Ele parecia querer dizer mais, mas a resposta era suficiente para me fazer perceber que suas circunstâncias eram bem diferentes das minhas. Meu bairro era tranquilo, simples, mas confortável. O dele, ao que parecia, tinha um luxo bem distinto.

- Ah, entendi - respondi, mais para mim mesma do que para ele.

Antes que eu pudesse continuar a conversa, ele olhou rapidamente para o celular e fez uma expressão que me fez perceber que ele não gostou nem um pouco da ligação. Quando olhei para o visor do aparelho, vi o nome "Sophia" aparecer, e algo dentro de mim se apertou. Não sabia o que isso significava, mas a simples menção daquele nome me fez sentir uma pontada de ciúmes. Eu tentei disfarçar, mas não consegui esconder o desconforto que sentia.

Ele parecia não perceber, ou talvez quisesse que eu não visse, mas a tensão estava no ar.

- Desculpa, Clara, preciso atender a isso - ele explicou, já se afastando um pouco para atender a chamada. Eu acenei com a cabeça, tentando disfarçar minha reação, mas meu coração estava acelerado. Ele estava visivelmente incomodado com a ligação, e isso me fez perceber que a situação não era trivial.

Fiquei ali, observando à distância. Ao contrário da sua postura relaxada antes, agora ele estava tenso, alterado até. Sua expressão estava fechada, e pude ouvir, de longe, o tom de voz que ele usava, mais firme do que eu esperava. Não consegui ouvir tudo, mas o suficiente para saber que ele estava resolvendo algo. Ele desligou o celular e, por um momento, ficou parado, como se precisasse de um tempo para processar o que quer que tivesse acontecido.

Quando ele voltou, parecia mais calmo, mas com uma expressão carregada de cansaço.

- Desculpe por isso - disse ele, como se tentasse justificar o que aconteceu.

Eu assenti, tentando esconder o quanto aquilo mexeu comigo. Eu não sabia quem ela era nem o que representava para ele, mas o que eu via ali me fazia questionar o quanto aquilo estava mexendo com ele. A sensação de que ele não gostou nem um pouco de ser interrompido pela ligação ficou clara.

Ele pareceu perceber a tensão no ar e, antes que eu pudesse responder, fez um gesto leve com a mão.

- Que tal irmos tomar um café da manhã? Eu estava pensando em pegar algo por aqui. Pode ser uma boa forma de relaxar, certo? - ele sugeriu, tentando mudar de assunto de forma descontraída.

Eu o olhei por um momento, ainda com a cabeça cheia de perguntas, mas a ideia do café parecia boa. Pelo menos ali, ao lado dele, eu poderia tentar entender melhor o que estava acontecendo.

- Claro - respondi, mais pela necessidade de um tempo para processar tudo, do que por ter uma resposta clara sobre tudo o que estava acontecendo entre nós.

Ele sorriu e me guiou para um pequeno café nas proximidades. Enquanto caminhávamos, o silêncio entre nós estava carregado de palavras não ditas, de coisas que ainda não eram claras, mas que, de alguma forma, ainda pareciam nos ligar de um jeito forte e imprevisível.

No café, nos sentamos em uma mesa pequena, ao lado da janela. O aroma do café fresco invadiu o ambiente, e eu senti que a conversa seria uma boa oportunidade para diminuir a tensão.

Ele pegou sua xícara e, com um sorriso mais leve, quebrou o silêncio.

- Então... - começou ele, olhando para mim de forma descontraída. - Quais são os seus planos para o dia?

Eu respirei fundo, tentando deixar de lado as perguntas e as sensações que me invadiam.

- Ah, nada demais... só a correria de sempre. Preciso organizar umas coisas em casa e ver se consigo adiantar uns trabalhos. E você? - perguntei, agora mais curiosa, sentindo que ele estava se abrindo mais.

Lucas deu de ombros, sorrindo com um toque de ironia.

- A vida de empresário... sempre cheia de compromissos. Mas, pelo menos, hoje eu pude fugir um pouco disso. Acho que todo mundo precisa de um tempo, né? - ele olhou para mim, como se quisesse ter certeza de que eu entendia o que ele estava dizendo.

- Sim, com certeza. Às vezes, um simples café já ajuda a aliviar a cabeça - respondi, sentindo que a conversa estava fluindo de uma forma mais leve.

- Eu também não sou muito de ficar parado - ele continuou, sorrindo mais uma vez. - Gosto de estar sempre fazendo algo, mesmo que seja só para relaxar.

Eu ri, achando graça na sinceridade dele.

- Acho que todo mundo tem uma maneira diferente de relaxar, né? Eu sou mais do tipo que aproveita um pouco de silêncio e tranquilidade - disse, tentando entrar na leveza do momento.

A conversa seguiu por mais alguns minutos, agora sem o peso da tensão. Falamos sobre filmes que gostaríamos de ver, restaurantes que gostaríamos de ir e até o quanto ambos gostávamos de viajar. As perguntas mais profundas ficaram de lado, e o ritmo da conversa foi diminuindo as distâncias entre nós.

Não era ainda o momento para mais revelações, mas naquele instante, eu sentia que, ao menos, a tensão tinha se dissipado um pouco, e eu podia respirar mais fácil.

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